O trabalho é uma prioridade humana, uma prioridade cristã
Gênova (RV) - O
Papa Francisco deixou o Vaticano, na manhã deste sábado (27/5), às 7h30 (2h30
de Brasília), e se dirigiu ao aeroporto romano de Ciampino, de onde partiu para
mais uma Visita Pastoral, que o levou a Gênova.
Ao chegar ao
aeroporto da cidade de Gênova, Francisco foi recebido por autoridades
religiosas, entre as quais o Cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo da cidade, e
outros representantes políticos e civis de Gênova.
Francisco com os trabalhadores |
No encontro com
os trabalhadores, o Papa respondeu espontaneamente a algumas perguntas que lhe
foram dirigidas por um operário, uma desempregada, um empresário e um
representante sindical.
Empresário
O Santo Padre
fez uma promessa: “O mundo do trabalho é uma prioridade humana. Portanto, é uma
prioridade cristã, uma nossa prioridade; e também uma prioridade do Papa.”
O Pontífice
ressaltou que “sempre houve uma amizade entre a Igreja e o mundo do trabalho,
começando por Jesus trabalhador. Onde há um trabalhador, ali há interesse e o
olhar de amor do Senhor e da Igreja”, frisou.
O Papa falou
também sobre as virtudes do empresário: “A criatividade, o amor pela própria
empresa, a paixão e o orgulho pela obra de suas mãos, de sua inteligência e a
dos trabalhadores. O empresário é a peça fundamental de toda boa economia: não
há boa economia sem um bom empresário, sem a sua capacidade de criar, criar
trabalho e criar produtos.”
Virtudes
“O importante é
reconhecer as virtudes dos trabalhadores e das trabalhadoras. Trabalhadores e
trabalhadoras devem fazer bem o seu trabalho, porque o trabalho deve ser bem
feito. Às vezes se pensa que um trabalhador trabalha porque é bem pago: esta é
uma grave falta de estima dos trabalhadores e do trabalho, pois nega a
dignidade do trabalho que inicia com o trabalhar bem pela dignidade e pela
honra”.
“O empresário
verdadeiro conhece os seus trabalhadores, porque trabalha junto com eles,
trabalha com eles. Não nos esqueçamos de que o empresário deve ser
primeiramente um trabalhador. Se ele não tem esta experiência da dignidade do
trabalho, não será um bom empresário. Partilha as fadigas dos trabalhadores e
partilha as alegrias do trabalho, de resolver juntos os problemas, de criar
algo juntos. Nenhum bom empresário ama demitir a sua gente.”
Para Francisco,
“quem pensa de resolver o problema de sua empresa demitindo as pessoas, não é
um bom empresário: é um comerciante. Hoje, vende a sua gente, amanhã, vende a
sua dignidade”.
Especuladores
Segundo o Papa,
“uma doença da economia é a transformação progressiva dos empresários em
especuladores. O empresário não deve absolutamente ser confundido com
especulador: são dois tipos diferentes. O especulador é uma figura parecida com
aquela que Jesus no Evangelho chama de ‘mercenário’, em oposição ao Bom Pastor.
O especulador não ama a sua empresa, não ama os trabalhadores, mas vê a empresa
e os trabalhadores como meios para obter lucro. Demitir, fechar, mudar a
empresa não criam nenhum problema para ele, porque o especulador usa,
instrumentaliza, se alimenta de pessoas e meios para alcançar seus objetivos de
lucro”.
“Quando a
economia é habitada por bons empresários, as empresas são amigas das pessoas e
também dos pobres. Quando passa para as mãos de especuladores, tudo se arruína.
Com o especulador, a economia perde o rosto e os rostos. É uma economia sem
vulto. Uma economia abstrata. Por trás das decisões do especular não há
pessoas.”
“Às vezes o
sistema político parece incentivar quem especula sobre o trabalho e não quem
investe e acredita no trabalho. Por que? Porque cria burocracia e controles,
partindo da hipótese de que os atores da economia sejam especuladores, e assim
quem não é fica em desvantagem e quem é consegue encontrar os meios para evitar
os controles e alcançar os seus objetivos. Sabe-se que os regulamentos e as
leis pensadas para os desonestos terminam por penalizar os honestos. Hoje,
existem verdadeiros empresários, empresários honestos que amam os seus
trabalhadores, que ama a empresa, que trabalha junto com eles para levar
adiante a empresa. Esses são os mais prejudicados pelas políticas que favorecem
os especuladores, mas os empresários honestos e virtuosos vão adiante, não
obstante tudo.”
Democracia
O Papa citou uma
frase de Luigi Einaudi, economista e presidente da República Italiana:
“Milhares, milhões de indivíduos trabalham, produzem e economizam não obstante
tudo o que nós podemos inventar para incomodá-los, fazê-los tropeçar e
desencorajar. É a vocação natural que os impulsiona e não apenas a sede de
lucro.”
“Tirar o
trabalho das pessoas ou explorar as pessoas no trabalho indigno e mal pago é
inconstitucional. Se a República Italiana não fosse fundada no trabalho não
seria uma democracia”, disse o Papa.
Ainda citando a
Constituição italiana, o Papa disse que “o trabalho é amigo do homem e o homem
é amigo do trabalho e por isso não é fácil vê-lo como inimigo porque se
apresenta como uma pessoa de família até mesmo quando nos fere. Homens e mulheres
se nutrem com o trabalho e com o trabalho são ungidos de dignidade. Por esta
razão, em torno do trabalho se edifica o pacto social porque quando não se
trabalha ou se trabalha pouco, mal, ou muito, é a democracia que entra em
crise.”
Dignidade
Respondendo à
pergunta de uma desempregada, o Papa disse que “quem perde o trabalho e não
consegue encontrar outro trabalho bom sente que perde a dignidade, como perde a
dignidade quem é obrigado por necessidade a aceitar trabalhos ruins e errados.
Nem todos os trabalhos são bons, existem trabalhos ruins, como o tráfico
de armas, a pornografia, o jogo de azar, mas também o trabalho de quem não
respeita os direitos dos trabalhadores, a natureza ou quem não coloca limites
aos horários”.
“Nas famílias
onde há pessoas desempregadas, nunca é realmente domingo e as festas se tornam
às vezes dias de tristeza porque falta o trabalho na segunda-feira. Para
celebrar a festa, é necessário celebrar o trabalho. Ao trabalhar nos tornamos
mais pessoa, a nossa humanidade floresce, os jovens se tornam adultos somente
trabalhando”.
“Um mundo que
não conhece mais os valores e o valor do trabalho, não entende mais a
Eucaristia, a oração verdadeira e humilde dos trabalhadores e trabalhadoras. Os
campos, o mar e as fábricas sempre foram altares de onde se elevaram orações
bonitas e puras, que Deus acolheu. Orações ditas por quem sabia e queria rezar,
mas também orações feitas com as mãos, com o suor, com a fadiga do trabalho de
quem não sabia rezar com a boca. Deus acolheu estas e continua acolhendo estas
orações também hoje.” (MJ)
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Papa aos
religiosos:
A vida cristã é movimento
Gênova (RV) -
Após o encontro com o mundo do trabalho, o Santo Padre se transferiu, de
automóvel, para a Catedral de Gênova, onde manteve um encontro com os Bispos da
região italiana da Ligúria, como também com o Clero, os Seminaristas, os
Religiosos, Religiosas, colaboradores leigos engajados na Cúria e
Representantes de outras Confissões Religiosas.
Neste encontro,
o Papa também respondeu às perguntas de quatro religiosos: três sacerdotes e
uma religiosa.
Papa com religiosos |
Jesus nunca
ficou parado e como todos aqueles que caminham, Jesus era exposto à dispersão,
a ser fragmentado. Não devemos ter medo do movimento e da dispersão de nosso
tempo. Mas o medo maior ao qual devemos pensar, que devemos imaginar é o de uma
vida estática”, disse o Papa aos religiosos.
“De uma vida de
sacerdote que tem tudo bem resolvido, tudo em ordem, estruturado, tudo está no
próprio lugar, com os seus horários de abrir e fechar a secretaria. Tenho
medo do sacerdote estático. Tenho medo, também quando é estático na oração, eu
rezo de tal hora a tal hora.”
O Papa disse que
Jesus sempre foi um home que estava nas ruas, um homem que caminhava, um homem
aberto às surpresas de Deus. O sacerdote que tem tudo planificado, tudo
estruturado, geralmente é fechado para as surpresas de Deus e perde aquela
alegria da surpresa do encontro.”
“No encontro com
o Pai e o encontro com os seus fiéis, se vive esta tensão: tudo deve ser vivido
nesta chave do encontro”, disse Francisco.
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Papa Francisco:
Papa Francisco:
Missão do cristão: poder de intercessão e anúncio
Cidade do
Vaticano (RV) – O Santo Padre concluiu sua Visita Pastoral a Gênova,
presidindo a uma solene concelebração Eucarística, no Largo Kennedy da cidade.
Além dos
milhares de fiéis genoveses, participaram da Santa Missa cerca de 40 pessoas
excepcionais dos Centros da Obra Don Orione, como também os religiosos,
religiosas e voluntários da “constelação de solidariedade” da Congregação
Orionita de Gênova.
Papa preside a Eucaristia |
Em sua homilia
aos milhares de fiéis presentes, o Papa citou as palavras de Jesus antes da sua
Ascensão ao Céu: “Foi-me dado todo poder no céu e na terra”.
O poder de Jesus
e a força de Deus são temas que permeiam as leituras da Liturgia de hoje sobre
a Ascensão do Senhor. Mas, no que consistem esta força e este poder? Falando de
poder de ligar o Céu e a Terra, o Papa respondeu:
“Quando Jesus
subiu ao Pai, a nossa carne humana cruzou o limiar da porta do Céu; a nossa
humanidade está em Deus, para sempre. Deus jamais se separará dos homens. Jesus
prepara o lugar para cada um de nós no Céu. Eis o poder de Jesus: manter-nos
ligados com o Céu”.
Porém, -
acrescentou o Papa - este poder de Jesus não acaba com a sua Ascensão ao Céu,
mas continua hoje e sempre: “Eu estarei com vocês até o fim do mundo”. Logo,
Jesus está conosco e intercede por nós junto do Pai. Eis, então, que a
palavra-chave do seu “poder” é “intercessão” por nós. E acrescentou:
“Esta capacidade
de interceder, Jesus deu também a nós, à sua Igreja, que tem o poder e o dever
de interceder e rezar por todos. Ele é a nossa âncora! Na oração, confiamos o
nosso mundo a Deus. Intercessão é caridade, é pedir, bater à porta, buscar e
colocar-se em jogo. Logo, interceder, sem cessar, é a nossa primeira
responsabilidade de cristãos; é a nossa missão!”.
Além da
intercessão, o Papa acrescentou outra palavra-chave do poder de Jesus: o
“anúncio”. O Senhor envia seus discípulos a anunciar a sua Mensagem, com o
poder do Espírito Santo. Trata-se de um ato de extrema confiança. Ele confia em
nós, apesar das nossas faltas e de não sermos perfeitos. Mas, podemos superar
uma nossa grande “imperfeição”: o “fechamento”. E explicou:
“O Evangelho não
pode ser fechado e sigilado, porque o amor de Deus é dinâmico e deve chegar a
todos. Para anunciar é preciso ir com confiança, sair de si mesmos, livres de
qualquer tentação de comodismo. Com o Batismo, Jesus conferiu a cada um de nós
o poder de anunciar. Eis a identidade do cristão!”.
O cristão -
disse ainda Francisco - é um peregrino, um missionário, um maratonista
esperançoso, confiante e ativo, criativo e respeitoso, empreendedor e aberto,
laborioso e solidário. Com este estilo, como fizeram os discípulos, – frisou –
o cristão deve percorrer as estradas do mundo transmitindo a Mensagem de Jesus,
com a força límpida e mansa do seu alegre testemunho.
O Papa concluiu
sua homilia pedindo ao Senhor a graça de dedicar-nos plenamente à urgente
missão, trabalhando concretamente pelo bem comum e pela paz! (MT)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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