Confira o programa do primeiro dia
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco deixou o Vaticano na manhã desta sexta-feira
(28/04) e, do aeroporto romano de Fiumicino, partiu para a cidade do Cairo
"como peregrino da paz ao Egito da paz", segundo afirma no Twitter.
Ao sair do
Vaticano, encontrou para uma breve saudação 9 migrantes egípcios, acompanhados
pelo Esmoleiro de Sua Santidade, o Arcebispo polonês Konrad Krajevskj. Ainda na
noite de quinta-feira dirigiu-se à Basílica Santa Maria Maior, centro de Roma,
onde confiou sua viagem a "Salus Popoli Romani".
Depois de 3’15’’
de voo, durante o qual saúda brevemente os jornalistas e a delegação, o
Pontífice chegará ao destino, começando assim a sua 18ª viagem apostólica fora
da Itália. Em uma estadia de apenas 27 horas, Francisco, segundo Papa a ir
ao Egito 17 anos depois da visita de João Paulo II, deve fazer cinco
discursos.
Papa prestes a embarcar no A321 da Alitália que o levará ao Egito |
Direto do
aeroporto, em carro fechado, o Papa se dirige ao Palácio Presidencial em
Heliópolis, bairro na zona nordeste da capital construído numa área aonde até o
início do século XX havia um deserto. Fora do Palácio, está prevista uma
cerimônia com piquetes de honra e a execução dos hinos do Egito e da Santa Sé.
O Presidente da República Abdel-Fattah Al-sisi, 63, eleito em 2014, recebe o
Pontífice e o acompanha à Sala de Honra para um rápido encontro e troca de
presentes. Não há discursos públicos.
Na sequência,
ainda em carro fechado, o Papa e sua comitiva se dirigem aoComplexo de Al-Azhar.
É a chamada “Esplêndida”, a mais conceituada instituição teológica e de
instrução religiosa do Islã sunita no mundo e amais antiga universidade
islâmica, tendo sido construída em 969. Desde a década de ’60, o ateneu também
oferece cursos não religiosos, como pedagogia, letras, ciências, medicina,
economia, engenharia, etc. As mulheres têm acesso aos estudos, mas em sedes
separadas. Hoje, quase 300 mil alunos de todos os países islâmicos estão
matriculados na Universidade, que possui um próprio canal Youtube, denominado
“Al-Azhar TV”.
Antes de
participar da Conferência Internacional sobre a Paz, em andamento no
Complexo, Francisco faz uma visita de cortesia ao Reitor da Universidade, que é
também o Grão-Imame da Mesquita anexa, Shaykh Ahmad Al-Tayeb. É o segundo
encontro entre os dois, depois da visita do Imame ao Vaticano, em 2016.
Em seguida, o
programa prevê uma reunião com representantes do governo egípcio e um encontro
com Tawadros II de Alexandria (papa da Igreja Copta Ortodoxa) na sede do
Patriarcado. O bairro cristão do Cairo foi alvo de um grave atentado terrorista
em dezembro de 2016, quando uma bomba explodiu na capela de São Pedro, a pouca
distância do escritório de Tawadros II, e deixou 29 mortos. Ali, Francisco, o
Patriarca e outros líderes de confissões cristãs farão uma oração
ecumênica pelas vítimas daquele e dos recentes atentados contra cristãos
no Egito.
O primeiro dia
da viagem se encerra às 18h40, horário local, com a chegada do Pontífice à Nunciatura,
onde será acolhido por um grupo de crianças da Escola Comboniana do Cairo. (CM)
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Papa Francisco chega ao Egito
Cairo (RV) - O
Papa Francisco chegou ao Aeroporto Internacional do Cairo, no Egito, nesta
sexta-feira (28/04), às 14h02 locais (9h02 no horário de Brasília).
Papa é acolhido no Egito |
Subiram no avião
da Alitália que levou o Papa ao Egito, o Patriarca copta-católico no Egito, Dom
Ibrahim Isaac Sidrak, e o Núncio Apostólico no Egito, Dom Bruno Musarò, que
deram as primeiras boas-vindas ao Santo Padre.
Aos pés da
escada do avião, o Santo Padre foi acolhido pelo primeiro-ministro egípcio,
Sherif Ismail, pelo Bispo de Luxor, Dom Emmanuel Bishay, e pelo secretário da
Nunciatura Apostólica, Jan Thomas Limchua.
Acolheram também
o Papa uma jovem, uma religiosa e um menino.
Segundo o site
de notícias egípcio ‘Youm 7’, o Papa foi também acolhido por uma delegação de
mais de 100 deputados muçulmanos e cristãos. (MJ)
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Assista:
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Papa em Al-Azhar:
Somos chamados a caminhar juntos
Cairo (RV) - O
Papa Francisco proferiu seu primeiro discurso em terras egípcias, nesta
sexta-feira (28/04), aos participantes da Conferência Internacional pela Paz
promovida pela Universidade sunita de Al-Azhar, no Cairo.
“É um grande dom
estar aqui e iniciar neste lugar minha visita ao Egito, nesta Conferência
Internacional pela Paz. Agradeço ao Grande Imã por tê-la pensada e organizada e
por me convidar”, disse Francisco.
O Papa ressaltou
em seu discurso, que o Egito se mostrou ao mundo, ao longo dos séculos, “como
terra de civilização e terra de alianças”.
Terra de
civilização porque desde tempos antigos, “a civilização surgiu das margens do
Nilo e foi sinônimo de civilização. No Egito, se elevou a luz do conhecimento,
fazendo germinar um patrimônio cultural inestimável, composto de sabedoria e
sagacidade, de aquisições matemáticas e astronômicas, de formas maravilhosas de
arquitetura e arte”.
“A busca do
saber e do valor da educação foram escolhas fecundas de desenvolvimento
empreendidos pelos antigos habitantes desta terra. São também escolhas
necessárias para o futuro, escolhas de paz e pela paz, pois não haverá paz sem
uma educação adequada das novas gerações. Também não haverá uma educação
adequada para os jovens de hoje se a formação a eles oferecida não responder à
natureza do homem, ser aberto e relacional.”
Papa Francisco com o Grão-Imã de Al-Azhar, Ahmed al-Tayeb |
Segundo
Francisco, “a educação se torna sabedoria de vida quando é capaz de extrair do
ser humano, em contato com Aquele que o transcende e com tudo o que o circunda,
o melhor de si, formando uma identidade não voltada para si mesma. A sabedoria
procura o outro, superando a tentação de se enrijecer e se fechar; aberta e em
movimento, humilde e curiosa ao mesmo tempo”.
“A sabedoria
sabe valorizar o passado e colocá-lo em diálogo com o presente, sem renunciar a
uma hermenêutica adequada. Esta sabedoria prepara um futuro em que não se mira
ao prevalecer da própria parte, mas ao outro como parte integrante de si. A
sabedoria não se cansa, no presente, de encontrar ocasiões de encontro e
partilha; do passado se aprende que do mal vem somente o mal e da violência
somente a violência, numa espiral que termina por aprisionar. Esta sabedoria
coloca no centro a dignidade do ser humano, precioso aos olhos de Deus, e uma
ética digna do homem.”
“No campo do
diálogo, especialmente inter-religioso somos sempre chamados a caminhar juntos,
na convicção de que o futuro de todos depende também do encontro entre
religiões e culturas. Neste sentido o trabalho da Comissão mista para o diálogo
entre o Pontifício Conselho para o Diálogo inter-religioso e a Comissão de
Al-Azhar para o Diálogo nos oferece um exemplo concreto e encorajador”, disse
ainda o Papa Francisco.
Três orientações
fundamentais podem ajudar o diálogo: o dever da identidade, a coragem da
alteridade e a sinceridade das intenções. “O dever da identidade, porque não é
possível iniciar um diálogo verdadeiro baseado na ambiguidade ou no sacrificar
o bem para agradar a outro; a coragem da alteridade, porque quem é diferente de
mim, culturalmente ou religiosamente, não deve ser visto e tratado como um
inimigo, mas acolhido como um companheiro de viagem, na convicção genuína de
que o bem de cada um reside no bem de todos; sinceridade de intenções, porque o
diálogo, como expressão autêntica do ser humano, não é uma estratégia para
alcançar segundas intenções, mas uma forma de verdade que merece ser
pacientemente realizada para transformar a competição em colaboração.”
"Educar para a abertura respeitosa e ao diálogo sincero com o outro,
reconhecendo os direitos e as liberdades fundamentais, especialmente a
religiosa, é a cia melhor para edificar juntos o futuro, para ser construtores
de civilização".
Egito, terra de
alianças
No Egito, não
surgiu somente o sol da sabedoria; também a luz policromática das
religiões iluminou esta terra: ao longo dos séculos, "as diferenças de
religião constituíram uma forma de enriquecimento recíproco a serviço da
comunidade nacional". Credos diferentes se encontraram e várias culturas
se misturaram, sem se confundir, mas reconhecendo a importância de aliar-se para
o bem comum. Tais alianças são ainda mais urgente hoje. Ao falar sobre isso, eu
usaria como símbolo a "Montanha da Aliança" que sobe nesta terra. O
Sinai nos lembra que uma aliança autêntica sobre a terra não pode prescindir do
Céu, que a humanidade não pode encontrar paz excluindo Deus do horizonte, e nem
pode subir à montanha para e apoderar de Deus.”
“Num mundo que
globalizou muitos instrumentos técnicos úteis, mas, ao mesmo tempo tanta
indiferença e negligência, e que corre numa velocidade frenética, dificilmente
sustentável, sente saudade daquelas grandes perguntas de sentido, que as
religiões fazer recordar e que suscitam a memória das próprias origens: a
vocação do homem, criado não para se exaurir na precariedade de assuntos
terrenos, mas para caminhar em direção ao Absoluto ao qual se dirige. Por estas
razões, especialmente hoje, a religião não é um problema, mas parte da
solução".
"É
imprescindível excluir toda forma de absolutização que justifique formas de
violência. A violência, de fato, é a negação de toda religiosidade autêntica.
Como responsáveis religiosos somos chamados a desmascarar a violência que se
disfarça de suposta sacralidade, acentuando o egoísmos e não uma abertura
autêntica ao Absoluto. Devemos denunciar as violações contra a dignidade humana
e contra os direitos humanos, e denunciar as tentativas que justificam toda
forma de ódio em nove da religião”.
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Assista:
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Papa Francisco:
Egito, terra significativa
para história da humanidade e Tradição da Igreja
Cairo (RV) - O
Papa Francisco encontrou-se com as autoridades egípcias, nesta sexta-feira
(28/04), no Palácio Presidencial, no Cairo, no âmbito de sua 18ª viagem
apostólica internacional.
“Sinto-me feliz
por me encontrar no Egito, terra duma civilização muito antiga e nobre, cujos
vestígios podemos admirar ainda hoje e que, na sua majestade, parecem querer
desafiar os séculos. Esta terra é muito significativa para a história da
humanidade e para a Tradição da Igreja, não só pelo seu prestigioso passado
histórico – faraônico, copta e muçulmano –, mas também porque muitos Patriarcas
viveram no Egito ou o cruzaram. Na verdade, aparece mencionado numerosas vezes
na Sagrada Escritura. Nesta terra, Deus se fez ouvir, «revelou o seu nome a
Moisés» e, no Monte Sinai, confiou ao seu povo e à humanidade os
Mandamentos divinos. No solo egípcio, encontrou refúgio e hospitalidade a
Sagrada Família: Jesus, Maria e José”, disse Francisco em seu segundo discurso em terras egípcias.
O Papa com o presidente do Egito, Al Sisi |
“Também hoje
encontram aqui hospitalidade milhões de refugiados provenientes de vários
países, entre os quais se conta o Sudão, a Eritreia, a Síria e o Iraque;
refugiados esses, aos quais se procura, com um louvável esforço, integrar na
sociedade egípcia”, frisou o Papa.
“Por causa da
sua história e da sua particular posição geográfica, o Egito ocupa um papel
insubstituível no Oriente Médio e no contexto dos países empenhados na busca de
soluções para problemas agudos e complexos que precisam ser encarados agora
para se evitar uma precipitação de violência ainda mais grave. Refiro-me à
violência cega e desumana, causada por vários fatores: o desejo obtuso de
poder, o comércio de armas, os graves problemas sociais e o extremismo
religioso que utiliza o Santo Nome de Deus para realizar inauditos massacres e
injustiças.”
“Este destino e
esta tarefa do Egito constituem também o motivo que levou o povo a solicitar um
Egito, onde a ninguém falte o pão, a liberdade e a justiça social. Com certeza,
este objetivo tornar-se-á realidade, se todos juntos tiverem a vontade de
transformar as palavras em ações, as aspirações válidas em compromissos, as
leis escritas em leis aplicadas, valorizando a genialidade inata deste povo.”
O Papa recordou
em seu discurso, “as pessoas que, nos últimos anos, deram a vida para
salvaguardar a sua pátria: os jovens, os membros das forças armadas e da
polícia, os cidadãos coptas e todos os desconhecidos que tombaram por causa de
várias ações terroristas. Penso também nos assassinatos e nas ameaças que
levaram a um êxodo de cristãos do norte do Sinai. Expresso viva gratidão às
autoridades civis e religiosas e a quantos deram hospitalidade e assistência a
estas pessoas tão provadas. Penso igualmente naqueles que foram atingidos nos
atentados contra as igrejas coptas, quer em dezembro passado quer mais
recentemente em Tanta e Alexandria. Aos seus familiares e a todo o Egito, as
minhas sentidas condolências com a certeza da minha oração ao Senhor pela
rápida recuperação dos feridos”.
“Não posso
deixar de encorajar os esforços audaciosos na realização de numerosos projetos
nacionais, bem como as muitas iniciativas que foram tomadas a favor da paz no
Egito e fora dele, tendo em vista o almejado desenvolvimento na prosperidade e
na paz que o povo deseja e merece”.
“A grandeza de
qualquer nação revela-se no cuidado que efetivamente dedica aos membros mais
frágeis da sociedade: as mulheres, as crianças, os idosos, os doentes, as
pessoas com deficiência, as minorias, de modo que nenhuma pessoa e nenhum grupo
social fique excluído ou marginalizado”, disse ainda o Papa, recordando que
este ano, comemora-se o 70º aniversário das relações diplomáticas entre a Santa
Sé e a República Árabe do Egito. (MJ)
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Assista:
Íntegra da declaração comum assinada por
Francisco e Tawadros II
Francisco e Tawadros II
Cairo (RV) -
Segue a íntegra da declaração comum assinada pelo Papa Francisco e o Patriarca
Tawadros II no final do encontro.
DECLARAÇÃO COMUM
DE SUA SANTIDADE
FRANCISCO
E DE SUA
SANTIDADE TAWADROS II
(Cairo: Patriarcado, 28 de abril de 2017)
1. Nós, Francisco, Bispo de Roma e Papa da Igreja Católica, e
Tawadros II, Papa de Alexandria e Patriarca da Sé de São Marcos, no Espírito
Santo damos graças a Deus por nos ter concedido a feliz oportunidade de nos
encontrarmos mais uma vez, trocarmos o abraço fraterno e juntarmo-nos novamente
em oração comum. Damos glória ao Todo-Poderoso pelos laços de fraternidade e
amizade existentes entre a Sé de São Pedro e a Sé de São Marcos. O privilégio
de estar juntos aqui no Egito é um sinal de que a solidez do nosso
relacionamento tem aumentado de ano para ano e de que estamos a crescer na
proximidade, na fé e no amor de Cristo nosso Senhor. Damos graças a Deus pelo
amado Egito, «terra natal que vive dentro de nós», como costumava dizer Sua
Santidade Papa Shenouda III, «povo abençoado pelo Senhor» (cf. Is 19, 25) com a
sua antiga civilização dos Faraós, a herança grega e romana, a tradição copta e
a presença islâmica. O Egito é o lugar onde a Sagrada Família encontrou
refúgio, é terra de mártires e santos.
2. O nosso vínculo profundo de amizade e fraternidade tem a sua origem na
plena comunhão que existia entre as nossas Igrejas nos primeiros séculos
tendo-se expressado de várias maneiras nos primeiros Concílios Ecumênicos, a
começar pelo Concílio de Nicéia em 325 e a contribuição de Santo Atanásio,
corajoso Padre da Igreja que mereceu o título de «Protetor da Fé». A nossa
comunhão manifestava-se através da oração e práticas litúrgicas semelhantes, da
veneração dos mesmos mártires e santos, e no fomento e difusão do monaquismo,
seguindo o exemplo do grande Santo Antão, conhecido como o pai de todos os
monges.
Papa Francisco e Tawadros II assinam declaração comum |
Esta experiência
comum de comunhão, anterior ao tempo de separação, assume um significado
especial na nossa busca atual do restabelecimento da plena comunhão. A maior
parte das relações que existiam nos primeiros séculos continuaram, apesar das
divisões, entre a Igreja Católica e a Igreja Copta Ortodoxa até ao dia de hoje
e recentemente foram mesmo revitalizadas. Estas desafiam-nos a intensificar os
nossos esforços comuns, perseverando na busca duma unidade visível na
diversidade, sob a guia do Espírito Santo.
3. Recordamos, com gratidão, o encontro histórico de há quarenta e quatro
anos entre os nossos predecessores Papa Paulo VI e Papa Shenouda III, aquele
abraço de paz e fraternidade depois de muitos séculos em que os nossos vínculos
mútuos de amor não tiveram possibilidade de se expressar devido à distância que
se criara entre nós. A Declaração Comum, que eles assinaram em 10 de maio de
1973, representou um marco no caminho ecuménico e serviu como ponto de partida
para a instituição da Comissão de Diálogo Teológico entre as nossas duas
Igrejas, que produziu muito fruto e abriu o caminho para um diálogo mais amplo
entre a Igreja Católica e toda a família das Igrejas Ortodoxas Orientais.
Naquela Declaração, as nossas Igrejas reconheceram que, no sulco da tradição
apostólica, professam «uma só fé no Deus Uno e Trino» e «a divindade do
Unigénito Filho de Deus (...) perfeito Deus, quanto à sua divindade, e perfeito
homem quanto à sua humanidade». Reconheceu-se também que «a vida divina é-nos
dada e alimentada em nós pelos sete sacramentos» e que «veneramos a Virgem
Maria, Mãe da verdadeira Luz», a «Theotókos».
4. Com profunda gratidão, recordamos o encontro fraterno que nós próprios
tivemos em Roma, a 10 de maio de 2013, e a instituição do dia 10 de maio como
jornada anual em que aprofundamos a amizade e a fraternidade entre as nossas
Igrejas. Este renovado espírito de proximidade permitiu-nos discernir ainda
melhor como o vínculo que nos une foi recebido de nosso único Senhor no dia do
Batismo. Com efeito, é através do Batismo que nos tornamos membros do único
Corpo de Cristo que é a Igreja (cf. 1 Cor 12, 13). Esta herança comum é a base
da peregrinação que juntos realizamos rumo à plena comunhão, crescendo no amor
e na reconciliação.
5. Conscientes de que ainda há tanto caminho a fazer nesta peregrinação,
recordamos o muito que já foi alcançado. Em particular, lembramos o encontro
entre Papa Shenouda III e São João Paulo II, que veio como peregrino ao Egito
durante o Grande Jubileu do ano 2000. Estamos determinados a seguir os seus
passos, movidos pelo amor de Cristo Bom Pastor, na convicção profunda de que,
caminhando juntos, crescemos em unidade. Para isso auferimos a força de Deus,
fonte perfeita de comunhão e de amor.
6. Este amor encontra a sua expressão mais alta na oração comum. Quando os
cristãos rezam juntos, chegam a compreender que aquilo que os une é muito maior
do que aquilo que os divide. O nosso desejo ardente de unidade encontra
inspiração na oração de Cristo «para que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Para
isso aprofundemos as raízes que compartilhamos na única fé apostólica, rezando
juntos e procurando traduções comuns do Pai Nosso e uma data comum para a
celebração da Páscoa.
7. Enquanto caminhamos para o dia abençoado em que finalmente nos reuniremos
à mesma Mesa Eucarística, podemos colaborar em muitas áreas e tornar tangível a
grande riqueza que já temos em comum. Podemos testemunhar juntos certos valores
fundamentais como a sacralidade e dignidade da vida humana, a sacralidade do
matrimónio e da família, e o respeito por toda a criação, que Deus nos confiou.
Não obstante a multiplicidade de desafios contemporâneos, como a secularização
e a globalização da indiferença, somos chamados a oferecer uma resposta
compartilhada baseada nos valores do Evangelho e nos tesouros das nossas respetivas
tradições. Nesta linha, somos encorajados a aprofundar o estudo dos Padres
Orientais e Latinos e promover um frutuoso intercâmbio na vida pastoral,
especialmente na catequese e num mútuo enriquecimento espiritual entre
comunidades monásticas e religiosas.
8. O testemunho cristão que compartilhamos é um sinal providencial de
reconciliação e esperança para a sociedade egípcia e suas instituições, uma
semente semeada para frutificar na justiça e na paz. Uma vez que acreditamos
que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus, esforcemo-nos por
promover a tranquilidade e a concórdia através duma coexistência pacífica entre
cristãos e muçulmanos, testemunhando assim que Deus deseja a unidade e a
harmonia de toda a família humana e a igual dignidade de cada ser humano. Temos
a peito a prosperidade e o futuro do Egito. Todos os membros da sociedade têm o
direito e o dever de participar plenamente na vida do país, gozando de plena e
igual cidadania e colaborando para construir a sua nação. A liberdade
religiosa, que engloba a liberdade de consciência e está enraizada na dignidade
da pessoa, é a pedra angular de todas as outras liberdades. É um direito
sagrado e inalienável.
9. Intensifiquemos a nossa oração incessante por todos os cristãos no Egito
e em todo o mundo, especialmente no Médio Oriente. Alguns acontecimentos
trágicos e o sangue derramado pelos nossos fiéis, perseguidos e mortos
unicamente pelo motivo de ser cristãos, recordam-nos ainda mais que o
ecumenismo dos mártires nos une e encoraja no caminho da paz e da
reconciliação. Pois, como escreve São Paulo, «se um membro sofre, com ele
sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26).
10. O mistério de Jesus, que morreu e ressuscitou por amor, situa-se no
coração do nosso caminho para a plena unidade. Mais uma vez, os mártires são os
nossos guias. Na Igreja primitiva, o sangue dos mártires foi semente de novos
cristãos; assim também, em nossos dias, o sangue de tantos mártires seja
semente de unidade entre todos os discípulos de Cristo, sinal e instrumento de
comunhão e de paz para o mundo.
11. Obedientes à ação do Espírito Santo, que santifica a Igreja, a sustenta
ao longo dos séculos e conduz àquela unidade plena pela qual Cristo rezou, hoje nós, Papa Francisco e Papa Tawadros II, para alegrar o coração do Senhor
Jesus bem como os corações dos nossos filhos e filhas na fé, declaramos
mutuamente que, com uma só mente e coração, procuraremos sinceramente não
repetir o Batismo administrado numa das nossas Igrejas a alguém que deseje
juntar-se à outra. Isto confessamos em obediência às Sagradas Escrituras e à fé
expressa nos três Concílios Ecumênicos reunidos em Niceia, Constantinopla e
Éfeso.
Pedimos a Deus nosso Pai que nos guie, nos tempos e modos que o Espírito Santo
dispuser, para a unidade plena no Corpo místico de Cristo.
12. Concluindo, deixemo-nos guiar pelos ensinamentos e o exemplo do apóstolo
Paulo, que escreve: «[Esforçai-vos] por manter a unidade do Espírito, mediante
o vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação
vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só
Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos»
(Ef 4, 3-6).
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Papa a Tawadros:
A paz feita de caridade fraterna e ecumenismo de sangue
Cairo (RV) – O Papa
Francisco encontrou o Primaz da mais consistente Igreja radicada num país
árabe, o Patriarca Copta-ortodoxo Tawadros II de Alexandria, no final da tarde
desta sexta-feira (28), no Cairo, um dos momentos mais aguardados do
dia. Depois da audiência privada, no escritório da sede do Patriarcado,
Francisco e Tawadros, junto a líderes de outras confissões cristãs, se
reuniram em oração ecumênica.
O abraço
comum no Egito foi dirigido às vítimas dos recentes ataques terroristas
contra cristãos no país, inclusive àquelas que sofreram o atentado de dezembro
de 2016, no Cairo. Na ocasião, 29 pessoas morreram vítimas de uma bomba que
explodiu na capela de São Pedro, próxima do Patriarcado, no bairro cristão da
capital.
No discurso
desta tarde, o terceiro de cinco que serão feitos durante sua viagem apostólica
ao Egito, Francisco se dirigiu ao “caríssimo irmão”, Tawadros II, o 118° papa
da Igreja Copta-Ortodoxa, falando em árabe: “O Senhor ressuscitou. Ressuscitou
verdadeiramente”.
O encontro foi no fim da tarde desta sexta (28), no Cairo |
A primeira
menção de Francisco foi à recente solenidade da Páscoa que, neste ano, foi
celebrada em comunhão para “proclamar em uníssono o anúncio da Ressurreição.
Hoje, esta
alegria pascal é enriquecida pelo dom de adorarmos, juntos, o Ressuscitado na
oração e, por trocarmos novamente, em seu nome, o ósculo santo e o abraço de
paz. Sinto-me muito grato por isso: ao chegar aqui como peregrino, tinha a
certeza de receber a bênção de um Irmão que me esperava.
O Papa lembrou,
então, do primeiro encontro com Tawadros, em Roma, logo depois da eleição de
Francisco em 10 de maio de 2013. A data simbólica de um “caminho ecumênico”
acabou sendo instituída como o Dia da Amizade Copta-Católica. A própria
Declaração Comum assinada por Paulo VI e Amba Shenouda III há mais de 40 anos,
em 10 de maio de 1973, acrescentou o Pontífice, também foi um marco nas
relações entre a Sé de Pedro e a de Marcos na proclamação do “domínio de Jesus:
juntos, confessamos que pertencemos a Jesus e que Ele é o nosso tudo”.
Naquele dia,
depois de “séculos de história difícil”, em que “surgiram diferenças
teológicas, que foram alimentadas e acentuadas por fatores de caráter
não-teológico” e por uma difidência cada vez mais generalizada nas relações,
com a ajuda de Deus chegou-se a reconhecer, juntos, que Cristo é “perfeito
Deus, quanto à sua divindade, e perfeito homem, quanto à sua humanidade”
(Declaração Comum, assinada pelo Santo Padre Paulo VI e por Sua Santidade Amba
Shenouda III, 10 de maio 1973).
Na exortação de
que “não se pode pensar em avançar cada um pela sua estrada, porque trairíamos
a vontade de Jesus”, Papa Francisco fez menção a João Paulo II. Durante o
Encontro Ecumênico de fevereiro de 2000, Wojtyla motivou a não se perder mais
tempo com esse propósito.
Já não podemos nos
esconder atrás de desculpas de divergências de interpretação, nem atrás de
séculos de história e tradições que nos tornaram estranhos. [...] Nesse
sentido, não há só um ecumenismo feito de gestos, palavras e compromisso, mas
uma comunhão já efetiva, que cresce dia a dia no relacionamento vivo com o
Senhor Jesus, está enraizada na fé professada e funda-se realmente no nosso
Batismo, em sermos n’Ele “novas criaturas” (cf. 2 Cor 5, 17): em suma, “um só
Senhor, uma só fé, um só Batismo” (Ef 4, 5).
Na “construção
da comunhão” com o testemunho diário de “levar a fé ao mundo”, Papa Francisco
afirmou que “o Espírito não deixará de abrir caminhos providenciais e
inesperados de unidade”. Com esse “espírito apostólico construtivo”, segundo o
Pontífice, “possam coptas-ortodoxos e católicos falarem juntos, sempre mais,
essa língua comum da caridade”.
O Papa
Francisco, então, se disse novamente agradecido pela “atenção genuína e
fraterna” de Tawadros para com a Igreja Copta-Católica, tanto através do
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs como do 13° Encontro da Comissão Mista
Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas
Ortodoxas Orientais.
Dando
continuidade à expressão da Sagrada Escritura entre as Sés de Marcos e de
Pedro, o Pontífice também falou sobre “os laços fraternos do Evangelista e a
sua atividade apostólica com São Paulo” ao se referir às origens que geram uma
mensagem de “caridade fraterna e comunhão de missão”.
A maturação do
nosso caminho ecumênico é sustentada, de modo misterioso e muito atual, também
por um verdadeiro e próprio ecumenismo do sangue. São João escreve que Jesus
veio “com água e com sangue” (1 Jo 5, 6); quem acredita n’Ele, assim “vence o
mundo” (1 Jo 5, 5). Com água e sangue: vivendo uma vida nova no nosso Batismo
comum, uma vida de amor incessante e por todos, mesmo à custa do sacrifício do
sangue. Desde os primeiros séculos do cristianismo, nesta terra, quantos
mártires viveram a fé heroicamente e até ao extremo, preferindo derramar o
sangue que negar o Senhor e ceder às adulações do mal ou mesmo só à tentação de
responder ao mal com o mal! [...] Trabalhemos por nos opor à violência,
pregando e semeando o bem, fazendo crescer a concórdia e mantendo a unidade,
rezando a fim de que tantos sacrifícios abram o caminho para um futuro de plena
comunhão entre nós e de paz para todos.
Além da história
de santidade no Egito testemunhada pelo sacrifício dos mártires, o Papa
Francisco lembrou de uma nova forma de vida logo que terminaram as perseguições
antigas que, “doada ao Senhor, nada retinha para si: no deserto, começou o
monaquismo”, disse o Pontífice.
Com veneração a
esse patrimônio comum, concluiu o Papa Francisco em seu discurso a Tawadros II:
que “o Senhor nos conceda a graça de recomeçar hoje, juntos, como peregrinos de
comunhão e arautos de paz”. (AC)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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