Não nos deixemos aprisionar pelos escombros da vida
Carpi (RV) – Na
manhã deste domingo o Papa Francisco presidiu a Santa Missa na localidade de
Carpi, atingida por um terremoto em 2012 e que provocou 28 mortes e grandes
danos materiais. Setenta mil fiéis participaram da celebração.
O Papa partiu de
helicóptero do Vaticano às 8h15min, tendo aterrissado cerca de 1h30min mais
tarde no campo de rugny “Dorando Pietri”. Eis a sua homilia na íntegra:
“As leituras de
hoje nos falam do Deus da vida, que vence a morte. Concentremo-nos, em particular,
no último dos sinais milagrosos que Jesus realiza antes de sua Páscoa, no
sepulcro de seu amigo Lázaro.
Ali parece que
tudo acabou: o túmulo está fechado por uma grande pedra; ao redor, somente
choro e desolação. Também Jesus está abalado pelo mistério dramático da perda
de uma pessoa querida: “Comoveu-se profundamente” e ficou “muito perturbado”.
Depois “chorou” e dirigiu-se ao sepulcro, diz o Evangelho, “mais uma vez
profundamente comovido”. É este o coração de Deus: afastado do mal mas próximo de
quem sofre; não faz desaparecer o mal magicamente, mas compartilha o
sofrimento, o assume e o transforma habitando-o.
Diante dos grandes “porquês” da vida
podemos ficar olhando melancolicamente os sepulcros de ontem e de hoje ou aproximar Jesus de nossos sepulcros |
Observemos porém
que, em meio à desolação geral pela morte de Lázaro, Jesus não se deixa tomar
pelo desconforto. Mesmo sofrendo Ele mesmo, pede que se creia firmemente; não
se fecha no choro, mas comovido, coloca-se a caminho em direção ao sepulcro.
Não se deixa dominar pelo ambiente emotivo resignado que o circunda, mas reza
com confiança e diz: “Pai, eu te dou graças”. Assim, no mistério do sofrimento,
diante do qual o pensamento e o progresso se quebram como moscas no vidro,
Jesus nos dá o exemplo de como nos comportar: não foge do sofrimento, que
pertence a esta vida, mas não se deixa aprisionar pelo pessimismo.
Em volta daquele
sepulcro, acontece assim um grande encontro-choque. De um lado, existe a grande
desilusão, a precariedade da nossa vida mortal que, atravessada pela angústia
pela morte, experimenta frequentemente a derrota, uma obscuridade interior que
parece intransponível. A nossa alma, criada para a vida, sofre sentindo que a
sua sede de eterno bem é oprimida por um mal antigo e obscuro. Por um lado
existe esta derrota do sepulcro.
Mas por outro
lado há a esperança que vence a morte e o mal que tem um nome: a esperança se
chama Jesus. Ele não traz um pouco de bem estar ou algum remédio para prolongar
a vida, mas proclama: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda
que esteja morto, viverá”. Por isto decididamente diz: “Tirai a pedra!” e a
Lázaro grita em alta voz: “Vem para fora!”.
Queridos irmãos
e irmãs, também nós somos convidados a decidir de que parte estar. Se pode
estar do lado do sepulcro ou do lado de Jesus. Há também quem se deixe fechar
na tristeza e quem se abre à esperança. Há quem permanece preso nos escombros
da vida e que, como vocês, com a ajuda de Deus, levanta os escombros e
reconstrói com paciente esperança.
Diante dos
grandes “porquês” da vida temos dois caminhos: ficar a olhar melancolicamente
os sepulcros de ontem e de hoje ou aproximar Jesus de nossos sepulcros. Sim,
porque cada um de nós já tem um pequeno sepulcro, alguma zona um pouco morta
dentro do coração; uma ferida, uma injustiça sofrida ou cometida, um rancor que
não dá trégua, um remorso que vai e volta, um pecado que não se consegue superar.
Identifiquemos
hoje estes nossos pequenos sepulcros que temos dentro e convidemos Jesus para
ir lá. É estranho, mas seguidamente preferimos estar sozinhos nas grutas
obscuras que temos dentro, antes que convidar Jesus para estar lá; somos
tentados em buscar sempre nós mesmos, remoendo e nos afundando na angústia,
lambendo as chagas, antes que ir até Ele, que diz: “Vinde a mim, todos vós que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”.
Não deixemo-nos
aprisionar pelas tentações de permanecer sozinhos e desconfiados, chorando por
aquilo que nos acontece; não cedamos à lógica inútil e inconclusiva do medo, do
repetir resignado de que vai tudo mal e nada é mais como antes. Esta é a
atmosfera do sepulcro; o Senhor deseja ao invés disto, abrir o caminho da vida,
o do encontro com Ele, da confiança nele, da ressurreição do coração, o caminho
do “Levanta-te! Levanta-te, saia!”. É isto que nos pede o Senhor, e Ele está ao
lado de nós para fazer isto.
Ouçamos então
como dirigidas a cada um de nós as palavras de Jesus a Lázaro: “Vem para
fora!”; vem para fora do emaranhado da tristeza sem esperança; desata as vendas
do medo que criam obstáculo no caminho; os laços das fraquezas e das
inquietações que te bloqueiam, repete que Deus desata os nós. Seguindo Jesus
aprendemos a não amarrar a nossa vida nos problemas que se apresentam; sempre
existirão problemas, sempre, e quando resolvemos um, pontualmente chega outro.
Podemos porém encontrar uma nova estabilidade, e esta estabilidade é
precisamente Jesus, esta estabilidade se chama Jesus, que é a ressurreição e a
vida: com ele a alegria habita o coração, a esperança renasce, a dor se
transforma em paz, o temor em confiança, a prova em oferta de amor. E mesmo que
não faltem os pesos, haverá a sempre a sua mão que nos levanta novamente, a sua
Palavra que nos encoraja e diz a todos nós, a cada um de nós: “Venha para fora!
Venha para mim!”. Diz a todos nós: “Não tenham medo!”.
Também a nós
hoje, como então, Jesus diz: “Tirai e pedra!”. Por mais pesado que seja o
passado, grande o pecado, forte a vergonha, não barremos a entrada do Senhor.
Tiremos diante d’Ele a pedra que lhe impede de entrar: é este o tempo favorável
para remover o nosso pecado, o nosso apego às vaidades mundanas, o orgulho que
nos bloqueia a alma, tantas inimizades entre nós, nas famílias... esta é o
momento favorável para remover todas estas coisas.
Visitados e
libertados por Jesus, peçamos a graça de ser testemunhas de vida neste mundo
que tem sede dele, testemunhas que suscitam e ressuscitam a esperança de deus
nos corações cansados e pesados pela tristeza. O nosso anúncio é a alegria do
Senhor vivo, que ainda hoje diz, como a Ezequiel: “Eis que eu abrirei os vossos
sepulcros, e vos farei subir das vossas sepulturas, ó povo meu”.
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Assista:
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Francisco reza pelo Congo, Colômbia, Venezuela e Paraguai
Carpi (RV) - O Papa Francisco, antes de rezar a Oração mariana do Angelus, em Carpi, expressou o seu pesar pela tragédia causada por um enorme deslizamento de terra na cidade de Mocoa, na Colômbia, na província de Putumayo. Falando de improviso, assegurou suas orações pelas vítimas e pelas famílias.
“Estou
profundamente entristecido pela tragédia que atingiu a Colômbia, onde um
gigante deslizamento de terra, causado por chuvas torrenciais, atingiu a cidade
de Mocoa, causando numerosos mortos e feridos. Rezo pelas vítimas e asseguro a
minha proximidade e a de vocês àqueles que choram a morte de seus entes
queridos, e agradeço a todos aqueles que estão trabalhando para prestar
socorro".
Papa Francisco em Carpi |
O balanço, no
momento, é de 250 mortos e centenas de feridos e desaparecidos.
Francisco
dirigiu ainda o seu pensamento à dramática situação no Congo fazendo um
premente apelo para que se chegue à paz.
“Continuam a
chegar notícias não boas de sangrentos confrontos armados na região de Kasai,
na República Democrática do Congo, confrontos que estão causando mortes e
deslocamentos e que atingem também pessoas e propriedades da Igreja: igrejas,
hospitais, escolas... Asseguro a minha proximidade a esta nação, e exorto todos
a rezar pela paz para que os corações dos artífices de tais crimes não
permaneçam escravos do ódio e da violência, o ódio e a violência sempre
destroem”.
Além disso, -
continuou o Papa - sigo com grande atenção o que está acontecendo na Venezuela
e Paraguai. Rezo por aquelas populações a mim tão queridas, e convido todos a
perseverarem incansavelmente, evitando todo tipo de violência, na busca de
soluções políticas.
Antes de
conceder a sua Bênção Apostólica, o Papa Francisco agradeceu os presentes e
todos aqueles que trabalharam pela dupla maratona, domingo passado e este
domingo, fazendo uma referência à cerimônia de reabertura da Catedral,
presidida no domingo passado pelo Secretário de Estado, Cardeal Parolin.
“Gostaria de
agradecer a vocês enfermos. Estão presentes aqui 4.500 enfermos, acrescentou o
Papa. Obrigado a todos vocês, que com os seus sofrimentos ajudam a Igreja.
Ajudam a carregar a Cruz de Cristo”. O Papa dirigiu em seguida o seu pensamento
à Virgem Maria, que os habitantes de Carpi tanto veneram. “A Maria oferecemos
as nossas alegrias, as nossas dores e as nossas esperanças. Pedimos a ela que
dirija o seu olhar misericordioso sobre todos os que sofrem, particularmente
sobre os enfermos, sobre os pobres e sobre quem não tem um trabalho digno”.
(SP)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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