Samaritano
Um mestre da lei
quis colocar Jesus à prova, perguntando sobre o que fazer para se alcançar a
vida eterna. Jesus lembrou-lhe a respeito do “dever de casa” a se
realizar na vida terrena. É preciso mostrar a Deus que se ama o próximo na
prática de lhe fazer o bem, sendo solidário com os mais fragilizados. A
parábola do bom samaritano foi a resposta clara e objetiva do Senhor (Cf. Lucas
10,25-37). Somente com a compaixão, a misericórdia, o amor desinteressado e a
justiça é que se conquista a vida eterna. Quem só pensa em si, não sendo ético,
colaborador com o bem do semelhante e da sociedade, não adianta falar que crê
em Deus. Ele vai nos avaliar e premiar se, na vida presente, colocarmos em
prática o mandamento do amor. Por causa de Deus se ama o semelhante, a ponto de
se imitar o próprio Filho de Deus, na doação de si para o bem de todos. Somos
instados a colocar em prática os dons recebidos de Deus para servirmos a
comunidade.
O mundo precisa urgentemente de novos samaritanos |
Na mentalidade e
prática consumista, hedonista e materialista há a tentação da busca desenfreada
e idólatra de se colocar o valor máximo na busca de vantagens e bem estar a
todo custo, passando-se por cima dos valores da vida e da dignidade humana.
Isto se dá no olvidar-se ou não se considerar a presença e a importância do respeito
aos valores do Criador inoculados na natureza humana, criada à sua imagem e
semelhança. As verdades reveladas explicitam de modo claro o projeto divino
para a convivência humana harmoniosa com a natureza e o semelhante. Quem não
forja o próprio caráter com valores sobrenaturais, mesmo na aparência de
bondade, lesa o semelhante por não levar em consideração a fé comprometida com
a convivência promotora de honestidade, da verdade e da espiritualidade,
respeitando-se a presença divina no humano.
A atitude de
“bom samaritano” leva a pessoa a se formar, idealmente desde o berço, para
conviver assumindo os valores da ética e do altruísmo para colaborar com o bem
comum. Ao contrário, vamos ter muitos cidadãos anti-cidadania, sumamente
egoístas, sem respeito ao próximo e até lesando-o. Não adianta à real
cidadania, estudos de alto nível, se não se forjar o caráter para a pessoa
marcar presença na família, na profissão e na convivência social, de modo a se
engrandecer por ser quem é reto moralmente. Assim, colabora com sua ação e
posição social para ajudar o barco da vida de todos se equilibrar bem e salvar
a todos. Mesmo o acúmulo de riquezas, sem hipoteca ou compromisso de ajuda à
sociedade, mostra o caráter das pessoas.
Moisés, o
encarregado por Deus para libertar o povo judeu da escravidão do Egito,
comunica ao mesmo povo as palavras divinas: “Ouve a voz do Senhor teu Deus e
observa todos os seus mandamentos... Converte-te para o Senhor teu Deus com
todo o teu coração e com toda a tua alma” (Deuteronômio 30, 10). Se todos, de
fato, seguissem o projeto divino, teríamos uma sociedade mais justa, solidária
e ética. Mesmo quem não tem o dom da fé religiosa, seguindo em consciência o
bem natural, praticando convictamente a ética natural, pode realizar
um convivo de intensa colaboração com o bem comum. Todos temos
consciência da necessidade de sermos bons samaritanos. Se colocarmos em prática
a realização de um projeto de convivência pacífica e de ajuda à inclusão social
e fraterna para quem é deixado de lado, poderemos caminhar com a mente
tranquila. A atitude de benfeitor é apreciada perante a sociedade e, que dirá,
diante de Deus!
Quem dá de si
com alegria pelo bem do semelhante, também recebe largamente em resultado de
grandeza moral.
Dom José Alberto
Moura - Arcebispo de Montes Claros (MG)
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A misericórdia
que enxerga e soergue as pessoas
Na parábola do
Bom Samaritano Jesus apresenta magistralmente o que significa ser
misericordioso. Às vezes podemos confundir este atributo divino,que
transpareceu limpidamente no rosto e na prática de Jesus com uma bondade
genérica ou um sentimentalismo piegas e inócuo.
Ao contrário, a
misericórdia nos desinstala e tira da zona de conforto, fazendo como aconteceu
com o Samaritano das tripas coração, isto é, deixando a sua agenda e sua viagem
tranquila para atender a um ser humano; a misericórdia nos faz olhar as pessoas
com amor, ternura e compaixão, identificando-nos com elas, nos tornando
próximos e fraternos.
Que Jesus, o Rosto da Misericórdia nos ajude a sermos misericordiosos! |
A misericórdia
não se conforma com um gesto rápido e indoloro, mas assume plenamente a
situação de sofrimento comprometendo-se na solução ou encaminhamento. Ainda,a
misericórdia nos desbloqueia de preconceitos e etiquetas que tantas vezes
nos impossibilitam de amar incondicionalmente, a tempo e fundo perdido.
Quem se
deixa inspirar pela misericórdia do Pai, só fica satisfeito quando imitando o
Bom Samaritano, damos o melhor de nós mesmos para a cura, reabilitação ou a
promoção integral do irmão, sabendo que toda pessoa da terra é nosso irmão/ã.
Ser misericordioso é de veras um caminho de santidade e perfeição, que toma
conta por inteiro da nossa vida, dando um sentido plenamente cristão ao que
fazemos e construímos.
Seria importante
que a nossa conversão à misericórdia possa encorajar a cultura do encontro e da
proximidade, em nossos relacionamentos, espaços de convivência e obras sociais,
levando a uma misericórdia política, que soerga tantos irmãos caídos na
sarjeta, nos corredores dos hospitais, amontoados em cárceres fétidas, e
morando ao relento sem comida nem abrigo. Que Jesus,o Rosto da Misericórdia,
nos ajude a ter um coração matricial, cheio de bondade e ternura para
amar e servir. Deus seja louvado!
Dom Roberto
Francisco Ferreria Paz - Bispo de Campos (RJ)
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Fonte: cnbb.org.br Ilustrações: 1ª: blog.cancaonova.com 2ª: a12.com
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