sábado, 2 de julho de 2016

Editorial da Rádio Vaticano

Um copo d'água

Cidade do Vaticano (RV) – “Ignorar o pobre é desprezar Deus”: uma frase que o Papa Francisco pronunciou nas semanas passadas durante uma audiência geral na Praça São Pedro, quando ele dedicou o tema de sua catequese à pobreza e a misericórdia e que deve sacudir a nossa consciência. A frase foi o coração de sua reflexão, que partiu da parábola evangélica do pobre Lázaro e do rico opulento.
Condições de vida opostas em tudo – a do rico e a do pobre -, e que jamais se tocaram, apesar de Lázaro viver às portas da casa do opulento. Uma parábola de 2 mil anos atrás, mas de uma atualidade impressionante. Basta olhar ao nosso redor para notar os novos Lázaros que batem às portas dos novos ricos.
A beleza da doação
Uma imagem atual: os refugiados que batem às portas da velha Europa. Muitas dessas portas ainda continuam fechadas.
Podemos conhecer toda a Bíblia, toda a teologia, mas o amor... vai por outro caminho nos recorda Francisco! Diante do sofrimento de tanta gente que padece fome, violência e injustiças, não podemos ser meros espectadores. “Ignorar o sofrimento do homem significa ignorar Deus!”. A compaixão, o amor, não é um sentimento vago, mas significa cuidar do outro, comprometer-se, identificar-se com ele. 
Como o tema é de grande atualidade, Francisco durante uma das suas homilias na Santa Missa na capela da Casa Santa Marta, comentando a leitura do dia, extraída da carta de São Tiago fez uma forte advertência aos ricos que acumulam dinheiro explorando as pessoas. “As riquezas em si mesmas são boas – disse -, mas são “relativas, não uma coisa absoluta.”
De fato, erra quem segue a chamada “teologia da prosperidade”, segundo a qual “Deus mostra que você é justo se lhe dá tantas riquezas”. O problema é não apegar o coração às riquezas, porque – recordou – “não se pode servir Deus e as riquezas”.
Francisco vai mais além e toca a tecla da exploração do próximo, exploração que torna alguém rico e muitos escravos. Quem faz isso, disse Francisco num tom sem equívocos, “são verdadeiras sanguessugas” e vivem do sangue que jorra das pessoas transformadas em escravos do trabalho.
Dura advertência a um mundo em que vê a pessoa como objeto e não mais como sujeito. Mundo que gira ao redor de um egoísmo insaciável “descartando” quem não produz, e que explora aquele que pode “dar mais”. O sangue de toda esta gente que vocês sugaram “é clamor ao Senhor, é um grito de justiça. A exploração das pessoas hoje é uma verdadeira escravidão”, diz o Papa.
Francisco afirma que pensávamos que os escravos não existissem mais, mas eles existem. As pessoas não são mais buscadas na África para serem vendidas na América, elas estão em nossas cidades.
Recordando que a morte, mais cedo ou mais tarde tocará a todos, pobres e ricos, o Sucessor de Pedro recorda que “ninguém pode levar consigo as próprias riquezas”. A mortalha não tem bolsos.
Devemos perceber o próximo que está ao nosso lado, à nossa porta, esperando para ser visto e ajudado. O pior da nossa existência é não perceber isso; explorar e deixar o outro morrer a míngua, de fome, também com um trabalho mal remunerado! “É viver do sangue das pessoas”.
Pensemos neste drama de hoje: a exploração das pessoas, o sangue das pessoas que se tornam escravas, os traficantes de seres humanos e não somente aqueles que traficam prostitutas e crianças para o trabalho infantil, mas aquele tráfico mais ‘civilizado’ que explora o trabalho do outro sem dar nenhuma condição de que ele possa ter uma vida digna.
Francisco insiste no fato de que devemos abrir o nosso coração à Palavra de Deus, que nos chama a amar o próximo. A Palavra de Deus pode ressuscitar um coração árido e curá-lo de sua cegueira. Nenhum mensageiro e nenhuma mensagem podem substituir os pobres que encontramos no caminho, “porque neles está Jesus que vem ao nosso encontro”.
Para concluir, uma frase lapidária de Francisco para refletir e viver: “É mais importante um copo de água em nome de Cristo que todas as riquezas acumuladas com a exploração das pessoas”.
                                                                                                      Silvonei José
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Cardeal Raymundo Damasceno:
O abraço de Aparecida a Bento XVI

Um dos eventos que marcaram a semana no Vaticano foi a celebração dos 65 anos de ordenação sacerdotal do Papa emérito Bento XVI.
Inúmeros cardeais participaram da cerimônia, entre eles o Arcebispo de Aparecida, Card. Raymundo Damasceno Assis. Ao saudar o Papa Francisco, Cardeal Raymundo reiterou que o Santuário Nacional aguarda sua visita para celebração dos 300 anos da imagem de Nossa Senhora, em 2017.
Já a Bento XVI, que o criou Cardeal em 2010, Cardeal Raymundo falou de um evento especial. Ouça abaixo:
Bento XVI é homenageado
“Eu trouxe um abraço especial de Aparecida, porque ele esteve três dias lá. Estive com ele um mês antes, pedindo as suas bênçãos e suas orações para a missão que iria realizar na Baviera, a sua terra, porque fui convidado para presidir as festas da padroeira da Baviera, Nossa Senhora da Misericórdia. Ele me deu uma bênção e agora, conversando, saudando-o no dia 28, ele me dizia: ‘Vi pelos jornais como foi a festa da padroeira’, o início das peregrinações que começam em maio, em Altötting, onde está o Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia – padroeira da Baviera. E disse: ‘Vi pelas fotos que estava tudo muito bonito, parabéns’. Então vi que o Papa ainda está acompanhando os acontecimentos da sua terra, através da imprensa, que certamente lhe enviam, para que ele tome conhecimento daquilo que está acontecendo. Pude visitar a casa onde ele nasceu e cresceu, que hoje é um memorial. Memorial que recorda não só com objectos que lhe pertenceram, mas sobretudo para tornar conhecida a mensagem que o Papa emérito Bento XVI deixou para o mundo.” (BF)
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                                                                                  Fonte: radiovaticana.va       news.va

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