Corrupção
A solidariedade confere particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana, à igualdade de todos em dignidade e direitos, ao caminho comum dos homens e dos povos para uma unidade cada vez mais convicta.(...) O processo de aceleração da interdependência entre as pessoas e os povos deve ser acompanhado com um empenho no plano ético-social igualmente intensificado, para evitar as nefastas consequências de uma situação de injustiça...
A unidade, a interdependência entre pessoas necessitam estar ancoradas em uma ética-social, orientada pelo princípio da igualdade de todos face à lei e pelos direitos garantidos, portadora da verdadeira determinação de inclusão social.
O Brasil vive um momento crítico de sua história. Sinais da corrupção arraigada em vários setores da sociedade estão vindo à tona com uma intensidade tal que envergonha a muitos.
Quem paga pela corrupção? “Certamente não quem paga o suborno. Na realidade, os pobres pagam pela corrupção, são os mártires da corrupção” (Papa Francisco).
Palavras como honestidade, transparência, dignidade, honra parecem ter sumido do vocabulário e da vida cotidiana. Desponta a questão: por que tantas evidências de corrupção? Diferentes aspectos estão presentes nas possíveis e necessárias respostas, havendo entre eles uma indicação bastante plausível: o poder tem tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente (Lord Acton).
A corrupção é uma praga que não faz distinção de pessoas, classes sociais, crenças, ideologias, partidos políticos, atividades.
A promoção, o cuidado e a interdependência entre as pessoas e as instituições, seguindo critérios éticos, constituem um serviço a ser desenvolvido por pessoas democraticamente escolhidas para atuarem nas diversas instâncias da sociedade. Esta atividade é a expressão mais alta da caridade, pois cuida do bem comum, o qual é tanto material quanto imaterial.
Quando pessoas legitimamente escolhidas deixam de desenvolver a obra para a qual foram designadas, traem a honra, a confiança e a dignidade de quem as escolheu. O mesmo se aplica aos indicados para funções de coordenação junto a entes públicos, cuja razão de ser é igualmente o bem comum.
Corruptores e corruptos roubam de quem trabalha e se empenha aquilo que o ser humano tem de melhor: a capacidade de sonhar e colaborar na construção de dias melhores.
“Quem pratica a verdade se aproxima da luz” (Jo 3,21). Denúncias precisam ser apuradas. Denunciados devem ser julgados. Os julgados e condenados devem cumprir a justa pena. Assim será recuperada a credibilidade das instituições e a justiça será restabelecida.
A promoção e o cuidado do bem público requerem a participação de pessoas com capacidade técnica, marcadas pelo próprio mérito. Uma iniciativa viável e necessária neste momento histórico brasileiro, entre outras, refere-se a suprimir a prescrição dos crimes de corrupção, cometidos por detentores de cargos da administração pública. O crime de roubar dinheiro da administração pública só poderia ser perdoado após a devolução do dinheiro roubado. Em meio a outras iniciativas para estancar a corrupção, mostra-se urgente reduzir ao mínimo possível o privilégio dos governantes de nomear livremente ocupantes de cargos da administração pública.
Dom Jaime Spengler - Arcebispo de Porto Alegre
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Fonte: cnbb.org.br
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