Estimados irmãos
e irmãs em Cristo Jesus! No início da Quaresma, durante a imposição das cinzas,
ouvimos a frase: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Percorrer este caminho
de conversão, que passa pelo coração do ser humano, é um convite que está ao
alcance de todos aqueles que acreditam no amor e na misericórdia de
Deus.
O caminho que
nos é proposto no sagrado Tempo da Quaresma é de conversão, pelas práticas do
jejum, da oração e da caridade. Mas não devemos fazer dicotomia ou separação
entre os três elementos que marcam a nossa caminhada espiritual no sagrado
Tempo Quaresma. Porque, se assim o fizermos, estaremos correndo o risco de
ficarmos na superficialidade, na hipocrisia de tentar apenas apaziguar a voz da
consciência, sem ouvir a voz do coração que quer viver em profunda comunhão com
os irmãos, a partir da comunhão espiritual com o Senhor Jesus.
Nem sempre o
nosso caminho quaresmal é marcado por conquistas, podemos também experimentar
as quedas e o fracasso de retroceder na nossa vida de fé ou na caminhada de
conversão, depois de termos percorrido, de joelhos e entre lágrimas, um longo
caminho. Isso pode acontecer porque talvez tenhamos apostado muito nas nossas
próprias forças e pouco na graça e na misericórdia de Deus. Preparamo-nos para
fazer uma maratona quando o caminho de conversão proposto, no sagrado Tempo da
Quaresma, nos pede para dar um pequeno passo por dia, ou quem sabe por semana,
para que os outros possam caminhar conosco e nos sustentar de forma fraterna e
solidária na hora do cansaço e do desânimo.
Pode acontecer
que depois das primeiras semanas da Quaresma comecemos a sentir o peso da cruz,
que abraçamos com entusiasmo no início, como parte do nosso projeto pessoal de
conversão. E sentindo a cruz pesar, julgamos que seria mais fácil abandoná-la,
em vez de renovar as forças com mais empenho na oração, no jejum e na caridade,
para manter acesa a chama de esperança e poder chegar ao final do caminho que
nos propomos a percorrer, no início deste tempo sagrado.
Quem sabe,
pessoalmente, fizeste este propósito de joelhos, em oração; colocaste diante do
Senhor uma intenção que era muito especial no teu coração, e o Senhor acolheu
tua oração, tua dor, teu silêncio e teu propósito. Ele se dispôs a caminhar
contigo e te sustentar com o seu amor e a sua misericórdia. Por que queres
agora deixar a cruz que marca o teu caminho de conversão, abandonando-a à
margem do caminho, sem chegar ao destino? O que te faz desistir? A falta de
forças? Ou estás cedendo ao domínio da preguiça, do comodismo, do orgulho e da
autossuficiência, que te leva a dispensar a companhia do Senhor
Jesus?
Às vezes rejeitamos a “luz do Senhor” que ilumina o nosso caminhar, porque preferimos a companhia das trevas que estão em nós, e a elas estamos tão apegados que preferimos abandonar as iniciativas para encontrar a ‘luz’. Mesmo assim, o Senhor não deixa de nos convidar para retomar a cruz e o caminho da conversão. Ele está próximo de nós, com seu amor e sua misericórdia, no bem e na dor que marcam o nosso coração e a nossa vida de “Peregrinos de Esperança”. Ele é o bálsamo da presença solidária que alivia as nossas dores e alimenta no nosso coração a esperança, mesmo quando desistimos e deixamos a nossa cruz abandonada à margem do caminho.
Dom José Gislon - Bispo de Caxias do Sul (RS)
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