Quaresma e conversão
Dom José Gislon - Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos
e irmãs em Cristo Jesus! O tempo da Quaresma nos ajuda a refletir e olhar a
vida a partir dos olhos do coração, sem medo de buscarmos a misericórdia do Pai
para retomarmos o caminho da paz interior, que favorece a comunhão com Deus,
com os irmãos e irmãs e com a criação, onde pulsa a vida que vem do
Criador.
O sagrado Tempo
da Quaresma nos convida a colocar o coração diante de Deus, a partir da nossa
realidade. É um tempo sagrado para entregar ao Senhor aquilo que somos,
deixando que ele nos oriente no caminho de conversão interior, de reconciliação
com Deus, conosco mesmos, com os irmãos e com a criação, lembrando das palavras
pronunciadas pelo Criador depois de completar a sua obra: “Deus viu que tudo
era muito bom” (Gn 1,31).
A Campanha da
Fraternidade deste ano, com o tema: “Fraternidade e Ecologia Integral”, nos
leva a refletir sobre a realidade da agressão por parte do homem contra a
natureza, a nossa Casa Comum. A reação da natureza se manifesta muitas vezes de
forma violenta e incontrolada, causando destruição e morte em tantas realidades
do mundo. Creio ser pertinente a conscientização e a participação pessoal, mas
também das entidades de classe e dos governos, num processo de transformação,
de mudança de mentalidade, para passarmos de agressores e destruidores da
natureza a cuidadores e corresponsáveis pela obra que o Criador viu e afirmou
ser “muito bom”.
No sagrado Tempo
da Quaresma podemos ser tentados a viver uma espiritualidade ou
pseudo-espiritualidade desencarnada da realidade da vida e do mundo que está ao
nosso redor, uma espiritualidade da indiferença, marcada pelo egoísmo, na qual
falta uma comunhão de vida com os irmãos e toda a obra do Criador. Essa
espiritualidade pode ser interessante para aliviar a nossa consciência por
termos praticado um rito, mas não é geradora de comunhão nem expressa o amor, a
compaixão, a ternura e o amor do Pai.
Vida e natureza
caminham juntas. “Cultivar e guardar a criação”, em defesa da vida que está ao
nosso redor, percorrendo um caminho de conversão entendido à luz da Palavra de
Deus. A conversão precisa chegar até o nosso coração, tocar e mudar a nossa
vida, as nossas ações em defesa da vida e da criação, onde muitas vezes vemos
sinais de morte que ameaçam a obra do Criador.
O progresso que traz bem estar é algo desejado e esperado por todas as realidades. Mas o progresso do bem estar econômico, que pouco se importa com a dignidade da vida das pessoas e com o cuidado do meio ambiente, mais do que esperança de vida reflete sinais de morte para todos. O Papa Bento XVI, na homilia do início do seu ministério, disse que “os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”. A defesa da vida, da ecologia do mundo onde vivemos, foi retomada pelo Papa Francisco, na encíclica Laudato Si, ele salienta que “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo opcional, nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa”.
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