terça-feira, 18 de março de 2025

Do hospital, Papa Francisco insiste:

a guerra é absurda, é preciso desarmar a Terra

Publicamos a carta que o Papa Francisco escreveu ao diretor do jornal italiano Corriere della Sera, Luciano Fontana, em resposta a uma mensagem sua de proximidade ao Pontífice neste momento de doença, na qual lhe pede que reitere um apelo pela paz e pelo desarmamento nas colunas do jornal diário milanês.

Prezado diretor,

gostaria de agradecer pelas palavras de proximidade com as quais desejou estar presente neste momento de doença em que, como já disse, a guerra parece ainda mais absurda. A fragilidade humana, de fato, tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata. Talvez seja por isso que, com tanta frequência, tendemos a negar os limites e a evitar pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade.

Gostaria de encorajar o senhor e todos aqueles que dedicam trabalho e inteligência para informar, através de instrumentos de comunicação que agora unem nosso mundo em tempo real: sentir toda a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Elas podem conectar ou dividir, servir a verdade ou se servir dela. Precisamos desarmar as palavras para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de um senso de complexidade.

Enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova força vital e credibilidade. As religiões, além disso, podem se valer da espiritualidade dos povos para reacender o desejo da fraternidade e da justiça, a esperança de paz.

Tudo isso exige comprometimento, trabalho, silêncio e palavras. Sintamo-nos unidos nesse esforço, que a Graça celeste não deixará de inspirar e acompanhar.

Francisco

Roma, Policlínica Gemelli, 14 de março de 2025

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Desarmamento e novo vigor à diplomacia

Do Gemelli o Papa Francisco reitera o absurdo da guerra enquanto o mundo se apressa em se rearmar.

Poucas palavras, mas significativas, que infelizmente chegam nas mesmas horas em que se reacende a guerra no Oriente Médio com novos bombardeios israelenses em Gaza. Do Hospital Gemelli, o Papa Francisco vê de forma ainda mais clara e lúcida o absurdo da guerra. E em sua carta ao editor do jornal italiano Corriere della Sera, ele mais uma vez levanta sua voz - semelhante à do Batista que clama no deserto - para reiterar que a guerra devasta comunidades e o meio ambiente.

O mundo, incluindo a Europa, está correndo para se rearmar, pronto para investir enormes somas para encher os arsenais já transbordantes com armas capazes de destruir dez vezes toda a humanidade. O Sucessor de Pedro, fragilizado e enfraquecido pela doença, não desiste de nos mostrar o caminho para deter a corrida rumo ao abismo da Terceira Guerra Mundial. Ele nos convida, antes de tudo, a desarmar as palavras e as mentes. Ele nos convida a desarmar a Terra.

Em uma época em que até mesmo as negociações e os encontros de cúpula ocorrem em mundo visão, e onde parecem prevalecer a linguagem simplificada, a demonização do adversário, a polarização e as fake news, Francisco convida à reflexão, à calma, ao senso da complexidade da realidade. Acima de tudo, ele nos convida a redescobrir a diplomacia em um mundo que parece tê-la esquecido, e a restaurar o vigor e a credibilidade das organizações internacionais, que devem ser fortalecidas e não esvaziadas de sua força.

O fato de que o caminho a seguir é o desarmamento, e não o rearmamento, também foi lembrado ontem pelo cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, quando questionado sobre o ReArm Europe à margem da primeira edição da Mesa do Ramadão - Iftar, organizada pela Embaixada do Marrocos junto à Santa Sé: “aqueles que optam por se rearmar devem, mais cedo ou mais tarde, enfrentar a realidade de que as armas, por mais que pareçam um impedimento, estão destinadas a serem usadas. Devemos insistir, em nível internacional, que haja um desarmamento geral e controlado. E isso tem sido uma constante na política da Santa Sé desde a Primeira Guerra Mundial”. Parolin acrescentou: “não podemos, portanto, estar satisfeitos com a direção que estamos tomando, onde, ao contrário, estamos testemunhando um fortalecimento dos arsenais”.

Andrea Tornielli

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                                                                                                                    Fonte: vaticannews.va

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