A pandemia do
Coronavírus (Covid 19) está impondo um modo próprio de viver a Quaresma. Não
temos mais, por enquanto, a celebração eucarística. A Via-Sacra, os encontros
nos grupos, as obras de misericórdia e a celebração da confissão só de maneira
pessoal. Na Quarta-feira de Cinzas, quando recebemos as cinzas, uma das
fórmulas a serem ditas era: “Recorda-te que és pó, e em pó te hás de tornar”.
Pela sua característica própria de um tempo de maior recolhimento,
interiorização, conversão pessoal e social, a Quaresma nos traz de volta ao
centro. Isto é a conversão: recorda-te que és frágil! O cotidiano, com tudo o
que traz segurança, nem sempre é local propício para o exercício da humildade
diante do Criador. A primeira impressão deste tempo quaresmal, nesta pandemia,
é que somos questionados sobre o sentido de nosso viver. É tão frágil. É tão
rápido. Quando nos sentíamos seguros, em poucos dias nos damos conta de que não
o somos. E tudo isto por um vírus, pequeno, invisível ao olho nu.
Dom Adelar Baruffi |
Precisamos recordar
o exemplo do bom samaritano, do evangelho de Lucas. Ele é modelo de nosso
viver. Superar toda forma de indiferença fará nosso mundo ser bem melhor. Todo
ser humano é convidado a ter vísceras de misericórdia. Não somente porque é
tempo de pandemia, mas porque é do evangelho cristão o jeito de viver, o modo
de ser de Jesus, cheio de misericórdia. A misericórdia é a chave da vida humana
e cristã. Sem ela não há comunhão possível. Todos os gestos de caridade humana
são a manifestação do rosto de Deus, que em Jesus vem a nós. Quaresma é tempo
de caridade, pois Jesus nos amou até o fim (cf. Jo 13,1).
A Quaresma, e todo
o resguardo que nos é solicitado, pode ser uma oportunidade para crescimento
espiritual na vida de oração. É tempo de boas leituras. Descobrimos a beleza da
vida familiar. Pode ser uma oportunidade de maior profundidade espiritual, de
rezar mais. O que será que Deus está querendo nos dizer com este momento, com
sua dramaticidade? Carregamos uma certeza: embora nem sempre compreendamos, Deus
está conosco sempre. “Meu refúgio e minha fortaleza, meu Deus, em quem confio.
Ele te livrará do laço dos caçadores e da palavra que destrói” (Sl 91,2-3).
Recordemo-nos de
olhar para o Senhor Crucificado-Ressuscitado. Ele deu sua vida por nós. Ele
vive e nos quer vivos sempre. A Páscoa que se aproxima reanima nossa esperança.
Amanhã será melhor se nos confiarmos a ele. Nossas atitudes do cotidiano sejam
espelhadas neste caminhar com Cristo vivo em nós. Não somos portadores do medo,
mas da esperança.
Dom Adelar Baruffi - Bispo de Cruz Alta (RS)
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Fonte: vaticannews.va Banner: arquidiocesebh.org.br Foto: radiocoracao.org
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