Jovens, abram-se para uma realidade que vai além do virtual
Na mensagem,
Francisco recorda o Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens sobre o tema "Os
jovens, a fé e o discernimento vocacional", afirmando que através dele a
Igreja lançou um processo de reflexão sobre a condição dos jovens no mundo
atual.
Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude no Panamá (Vatican Media) |
Cidade do Vaticano - Foi divulgada, nesta quinta-feira (05/03), a mensagem do Papa Francisco para a 35ª Jornada Mundial da
Juventude celebrada em todas as dioceses no Domingo de Ramos e da
Paixão do Senhor (05/04). O tema deste ano é «Jovem, Eu te digo,
levanta-te!» extraído do capítulo 7, versículo 14 do Evangelho de Lucas.
Na mensagem, o
Papa recorda o Sínodo dos Bispos realizado, no Vaticano, em outubro de 2018,
sobre o tema Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, afirmando que
através dele a Igreja lançou um processo de reflexão sobre a condição dos
jovens no mundo atual. Recorda também a Jornada Mundial da Juventude, no Panamá,
em janeiro de 2019, onde encontrou milhares de jovens do mundo. “Acontecimentos
como estes, Sínodo e JMJ, manifestam uma dimensão essencial da Igreja: o
«caminhar juntos»”, ressalta o Pontífice.
A seguir, o Papa
menciona também a próxima Jornada Mundial da Juventude que se realizará em
Lisboa, Portugal, em 2022. “De lá, nos séculos XV e XVI, vários jovens,
incluindo muitos missionários, partiram para terras desconhecidas a fim de
partilhar a sua experiência de Jesus com outros povos e nações.” O tema da Jornada
em Lisboa será: «Maria levantou-se e partiu apressadamente». Nos dois
anos que precedem a JMJ em Portugal, o Santo Padre pensa em refletir com os
jovens outros dois textos bíblicos: «Jovem, Eu te digo, levanta-te!», este
ano de 2020, e «Levanta-te! Eu te constituo testemunha do que viste!», em
2021.
Francisco chama a
atenção para o verbo comum nos três temas: levantar-se. “Esta palavra
possui também o significado de ressuscitar, despertar para a vida. É um verbo
frequente na Exortação Christus vivit (Cristo vive), que eu dediquei
a vocês depois do Sínodo de 2018 e que, juntamente com o Documento Final, a
Igreja lhes oferece como um farol para iluminar as sendas da sua
existência. Espero de todo o coração que o caminho que nos levará a Lisboa
coincida em toda a Igreja com um forte compromisso na concretização destes dois
documentos, orientando a missão dos animadores da pastoral juvenil”, ressalta o
Papa.
Ver o sofrimento e
a morte
Retornando ao tema
da Jornada Mundial da Juventude diocesana deste ano, «Jovem, Eu te digo,
levanta-te!», o Papa recorda que Jesus, tocado pelo sofrimento angustiado da
viúva, faz o milagre de ressuscitar o seu filho. “Jesus pousa um olhar atento,
não distraído, sobre aquele cortejo fúnebre."
A seguir, o Papa
nos convida a nos fazer as seguintes perguntas: “Como é o meu olhar? Vejo
com olhos atentos ou como faço ao repassar rapidamente as milhares de
fotografias no meu celular ou os perfis sociais?”
“Quantas vezes nos
acontece, hoje, ser testemunhas oculares de vários acontecimentos, sem nunca os
vivermos ao vivo! Às vezes, a nossa primeira reação é filmar a cena com o
celular, talvez esquecendo-nos de fixar nos olhos as pessoas envolvidas.”
Francisco recorda
que há “jovens que estão «mortos», porque perderam a esperança.
Infelizmente, entre os jovens, alastra também a depressão, que pode, em alguns
casos, levar à tentação de destruir a própria vida. Há tantas situações
onde reina a apatia e o indivíduo se perde num abismo de angústias e remorsos.
Vários jovens choram, sem que ninguém ouça o grito da sua alma. Muitas vezes,
ao seu redor, o que há são olhares distraídos, indiferentes talvez mesmo de quem
esteja desfrutando os seus momentos felizes mantendo-se à distância”.
Ter compaixão
Em muitas
ocasiões, os jovens demonstram que sabem se com-padecer. “Basta ver como
muitos de vocês se doam generosamente, quando as circunstâncias o exigem. Não
há desastre, terremoto, inundação que não veja grupos de jovens voluntários
mostrarem-se disponíveis para socorrer. Também a grande mobilização de jovens
que querem defender a criação dá testemunho de sua capacidade de ouvir o clamor
da terra. Queridos jovens, não deixem que lhes roubem esta sensibilidade”,
escreve o Papa.
Aproximar-se e
tocar
"Jesus para o
cortejo fúnebre. Aproxima-se, faz-se próximo. A proximidade impele a ir mais
além, cumprindo um gesto corajoso para que o outro viva. Vocês jovens
podem se aproximar das realidades de sofrimento e morte que encontram, podem
tocá-las e gerar vida como Jesus, tocar como Ele e transmitir a sua vida aos
seus amigos que estão mortos por dentro, que sofrem ou perderam a fé e a
esperança."
O primeiro passo é
aceitar levantar-se
O Papa ressalta
que o "Evangelho não refere o nome daquele jovem ressuscitado por Jesus em
Naim. Isto é um convite ao leitor, para se identificar com ele. O primeiro
passo é aceitar levantar-se. A nova vida que Ele nos der, será boa e digna
de ser vivida, porque será sustentada por Alguém que nos acompanhará também no
futuro sem nunca nos deixar, ajudando-nos a gastar de forma digna e fecunda
esta nossa existência".
Ir além do virtual
O Evangelho diz
que o jovem «começou a falar». "Falar significa também entrar em
relação com os outros. Quando se está «morto», o indivíduo fecha-se em si
mesmo: interrompem-se as relações ou tornam-se superficiais, falsas,
hipócritas. Quando Jesus nos devolve a vida, «restitui-nos» aos outros."
“Hoje, muitas
vezes há «conexão», mas não comunicação. Se o uso dos aparelhos eletrônicos não
for equilibrado, pode levar-nos a ficar sempre colados a um visor. Numa cultura
que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos
circular esta palavra de Jesus: «Levanta-te». É um convite a abrir-se para uma
realidade que vai muito além do virtual. Isto não significa desprezar a
tecnologia, mas usá-la como um meio e não como fim.”
"«Levanta-te»
significa também «sonha», «arrisca», «esforça-te por mudar o mundo», reacende
os teus desejos, contempla o céu, as estrelas, o mundo ao teu redor.
«Levanta-te e torna-te aquilo que és»”, concluiu Francisco.
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Em março, Papa
pede orações
pela Igreja na China e exorta à unidade dos cristãos
pela Igreja na China e exorta à unidade dos cristãos
Na mensagem em
vídeo divulgada nesta quinta-feira (5), o Papa Francisco pede que a comunidade
católica na China “persevere na fidelidade ao Evangelho e cresça em unidade”.
Esse é o terceiro “Vídeo do Papa” deste ano, promovido pela Rede Mundial de
Oração, com intenções para se rezar. Uma oportunidade para também procurar se
conhecer melhor a realidade da Igreja no país, a sua história, situação
política e religiosa.
Andressa Collet –
Cidade do Vaticano - As intenções de oração para este mês de março, divulgadas
pelo projeto da Rede Mundial de Oração do Papa, são dirigidas à comunidade
cristã na China, onde “a Igreja olha para o futuro com esperança”, afirma
Francisco na mensagem em vídeo divulgada nesta quinta-feira (5). A intenção do
Papa é que os católicos do país “perseverem na fidelidade ao Evangelho e
cresçam em unidade”:
“Hoje em dia na
China a Igreja olha para frente com esperança. A Igreja quer que os cristãos
chineses sejam cristãos de verdade e que sejam bons cidadãos. Eles devem
promover o Evangelho, mas sem fazer proselitismo, e alcançar a unidade da
comunidade católica que está dividida. Rezemos juntos para que a Igreja na
China persevere na fidelidade ao Evangelho e cresça na unidade.”
A unidade da
Igreja na China
Desde a década de
70, a China tem registrado um crescimento significativo do cristianismo. Em
2010, o Pew Research Center estimou que havia 67 milhões de cristãos
no país, aproximadamente 5% da população total. Dados atualizados de 2018,
indicam que já pode estar se aproximando dos 100 milhões de cristãos. Esse
crescimento mostra como a China continua sendo uma terra fértil para muitas
famílias que acreditam em Jesus Cristo.
A Carta de Bento
XVI aos católicos chineses, de maio de 2007, e a mensagem do Papa Francisco aos
"Católicos chineses e à Igreja Universal", de setembro de 2018, na
qual ele próprio apresentou o Acordo Provisório assinado entre a Santa Sé e
representantes da República Popular da China, foram medidas já tomadas nesse
caminho de recuperação da unidade da Igreja na China.
O caminho da
oração e reconciliação
O Pe. Frédéric
Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, destaca que a
intenção da oração de Francisco tem um propósito espiritual e pastoral, porque
favorecer a unidade da comunidade católica na China, em sua diversidade, é
promover a proclamação do Evangelho. E o sacerdote acrescenta: “É normal que
esse caminho seja longo, difícil e cheio de incompreensões, o Evangelho sofre
de muitas incompreensões, é por isso que devemos rezar, pois o Senhor, Criador
do Céu e da Terra, transforma o coração através da oração e ajuda na
reconciliação."
Reflexão sobre o
cristianismo na China
São Francisco
Xavier, grande missionário jesuíta e padroeiro da Rede Mundial de Oração do
Papa, morreu no dia 3 de dezembro de 1552, doente e por exaustão, na ilha de
Sanchoão. Ele olhava para o horizonte, onde se encontrava a China – que sempre
foi o seu destino de missão mais desejado, mas onde acabou por não entrar.
Depois de um
tempo, outros missionários conseguiram entrar no país, tão vasto e de uma
cultura tão rica e antiga, para um diálogo muito fecundo entre as duas
civilizações até que, por vários motivos, as portas do país se fecharam ao
anúncio do Evangelho por muitos anos. Mas permaneceu ali uma pequena Igreja,
clandestina e perseguida, fiel ao Papa, ao mesmo tempo em que, já sob o regime
comunista, no século XX, se criou uma Igreja própria da China: a Associação
Patriótica Católica Chinesa, controlada pelo Estado.
O regime político
da China é ateu e, por isso, não favorece o desenvolvimento das religiões, de
modo particular o Cristianismo, muito associado ao Ocidente, com o qual a China
sempre teve relações diplomáticas e políticas difíceis, até os nossos dias.
Contudo, nas últimas décadas, esforços de diálogo entre a Igreja Católica e as
instituições do país estão sendo feitos, tendo em vista o reconhecimento da
presença da Igreja e da sua liberdade de culto.
São pequenos
passos dados, no sentido de uma maior abertura, por parte do Vaticano, à realidade
da Associação Patriótica Católica Chinesa e, por outro, de abertura, por parte
do governo, à liberdade religiosa dos cristãos da Igreja clandestina. É nesse
sentido que o Papa Francisco, neste mês de março, pede a todos os cristãos para
terem presente nas orações esses esforços de abertura, diálogo, reconhecimento
e unidade, na fidelidade ao Evangelho, por parte das comunidades.
Desafios propostos
para este mês
A Rede Mundial de
Oração do Papa também propõe alguns desafios para este mês de março, seguindo a
intenção de oração de Francisco:
- procurar
conhecer melhor a realidade da Igreja na China, a sua história, a situação
política e religiosa;
- organizar, na
própria comunidade, um momento de oração onde se possa pedir pelos cristãos
chineses e também por todos os cristãos que, em todo o mundo, sofrem
perseguição e sentem limites à sua liberdade religiosa;
- promover, na
medida do possível, algum encontro com a comunidade chinesa nos locais onde
habito, procurando conhecer os seus costumes, tradições e a sua riqueza
cultural, favorecendo um clima de fraternidade e acolhimento.
Oração
Senhor Jesus
Cristo, que enviaste os teus discípulos a levar a todo o mundo a Boa-Nova,
inspira os nossos irmãos e irmãs que Te seguem neste grande país, a China. Que
o teu Espírito leve os seus responsáveis a ter no seu coração o desejo de
diálogo, abertura, paz e reconciliação. Neste mês, comprometemo-nos a estar
mais unidos aos nossos irmãos e irmãs na China que, através de muitas
dificuldades, acreditam em Ti e professam o teu nome. Que o teu amor seja para
cada um deles a sua força e a sua alegria.
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Assista:
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Quaresma:
Fazer o
bem como se nossas mãos fossem mãos de Deus
Na tarde de
quarta-feira (04) o pregador dos Exercícios Espirituais à Cúria Romana, Padre
Bovati, fez a sua sexta meditação. No centro da reflexão o caminho de Israel no
deserto, lugar de provações, mas também da manifestação da bondade de Deus para
com o seu povo.
Adriana Masotti –
Cidade do Vaticano - Na narração do Êxodo, o deserto é o lugar da providência.
O lugar onde o Senhor “se revela como o Deus da aliança com Israel, o Deus bom
e fiel, e ao mesmo tempo, como o soberano onipotente ao qual estão submetidas
todas as forças cósmicas”. Padre Pietro Bovati prossegue a sua reflexão
quaresmal, que chega na sua sexta etapa, citando uma passagem bíblica que por
um lado mostra o Senhor “como artífice da história da salvação”, e de outro
“não sublinha suficientemente um outro aspecto importante, ou seja, a livre
expressão dos homens, seu consenso ou a sua rebeldia para com Deus. Porém, sem
a atividade humana – observa o teólogo jesuíta – a história assume uma imagem
deformada “na qual Deus atua, sim, admiravelmente”, mas o homem corre o risco
de ser reduzido “a puro objeto passivo”. “Portanto, paradoxalmente, para
exaltar Deus na sua obra, chega-se a dizimar o próprio ápice da criação,
formado pelo homem livre e artífice do seu destino, porque foi criado a imagem e
semelhança de Deus”.
Os textos bíblicos
são complexos e muitas vezes complementares, afirma padre Bovati, e muitos
deles mostram que o Senhor no seu agir considera as resistências dos homens e
deseja sempre suscitar uma resposta, não se impõe e deseja uma relação com a
criatura “mesmo de cooperação, de corajosa colaboração”, a ponto que do homem,
em um certo sentido, depende a realização da ação salvífica de Deus nos
acontecimentos humanos.
O deserto “figura
da vida”
Os 40 anos
passados no deserto significam toda uma existência, o deserto é representação
da nossa terra, onde o homem sofre, mas onde Deus se revela e o faz “na própria
ação dos seus servos”. Padre Bovati reitera um ponto fundamental: “É preciso
assumir com responsável obediência a tarefa de fazer o bem como se as nossas
mãos fossem as mãos de Deus”. E isso se realiza quando o servo de Deus vive a
dupla virtude da escuta: a escuta da voz de Deus e a escuta do grito do povo
que lhe foi confiado.
O deserto, repete
o pregador, “é figura da vida”. É um tempo que pode se tornar tentação, “é o
nosso tempo, o tempo do homem”. Deus coloca o seu povo à prova para que
amadureça na fé e ao mesmo tempo estimula os homens capazes de ajudar os que
estão sob prova, como no caso de Moisés. Ele escuta o grito dos sofredores,
mesmo se manifestado debilmente e se os pedidos da sua gente o colocam em
dificuldade porque ele mesmo não sabe como responder. Mas escuta porque Deus
faz assim. “Mesmo as nossas orações, são sempre muito imperfeitas e principalmente,
o grito do povo sofredor, muitas vezes é turbulento”. Então Moisés invoca com
fé o Senhor na oração que vence a tentação e recebe resposta.
Ao amar, ensina-se
amar
O pregador
introduz um novo conceito: na narração bíblica se diz que “naquele lugar o
Senhor impôs ao povo uma lei e uma ordem”. “Isso significa – explica o pregador
– que no próprio ato do socorro, deve ser inculcada a relação obediente com o
Senhor”. Portanto, ao amar ensina-se amar, “na obra de misericórdia corporal se
faz também a obra de misericórdia espiritual, alcança-se o coração das pessoas,
colocando-os na condição de crer em Deus e de agir como Deus quer, ou seja, no
amor”.
Por fim padre
Bovati fala sobre a passagem evangélica do juízo final. Todo o juízo está
centralizado em uma só coisa: na ajuda ou na falta de ajuda para com os mais
necessitados. Portanto há uma concretude do fazer, que exige a dedicação a um
corpo que sofre, mas também do coração do sofredor. Nos mais necessitados, diz
o Evangelho, há Jesus mas, pergunta-se o pregador, “como é possível ver que nós
socorremos Deus quando nos dedicamos aos mais necessitados? Como os nossos
olhos de carne podem realmente ver que é assim?”. Então conclui: “É sem ver que
nós amamos, sem glória, sem honra, no doar-se até morrer, há a plenitude do
bem, há a bênção do Pai na vida”.
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Retiro espiritual:
A oração sincera é arma poderosa para o advento do Reino
Na sétima
meditação dos Exercícios espirituais da Quaresma na manhã de quinta-feira
(05/03) em Ariccia, que o Papa Francisco acompanha do Vaticano, o pregador
padre Bovati se deteve sobre o tema "Combate e oração": o reporta o
L'Osservatore Romano. O olhar voltou-se para "uma sociedade doente,
ferida, abandonada", com forças que buscam destrir aquilo que Cristo
fundou, mas, observou o jesuíta, "a rocha sobre a qual a Igreja é
edificada resistirá ao mal"
Cidade do Vaticano - “Combate e oração”
parece quase o título de um filme. As prementes histórias bíblicas que o
sacerdote jesuíta Pietro Bovati traçou, na manhã desta quinta-feira (05/03), na
sétima meditação dos Exercícios espirituais para a Cúria Romana em Ariccia, têm
realmente sabor cinematográfico.
Com uma chave de
leitura: a Igreja encontra-se sob violento ataque, abertamente e
sorrateiramente, mas a resposta está precisamente na conjunção entre testemunho
concreto e oração autêntica. Sem cessar, sem resignar-se e jamais sozinhos, e
além disso, com uma arma secreta: aquela fé que sim, realmente, move as
montanhas.
O dom da graça
A quinta-feira foi
“dedicada a meditar sobre o compromisso pessoal que o Senhor pede a cada um de
nós, em função da vocação recebida, do dom de graça, com os deveres
relacionados a essa graça”, evidenciou o pregador, recordando que “toda forma
de negligência, de preguiça, equivale a maldade e desprezo em relação a Deus”.
“Portanto, é
'àqueles que o Senhor consagrou com a unção sacerdotal que hoje se dirige a
pergunta: qual é o primeiro, fundamental serviço que o ministro de Deus é
chamado realizar?'”
Sem dúvida,
afirmou o secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, “hoje, numa sociedade
doente, ferida, abandonada, diante de necessidades urgentes e dolorosas, o
sacerdote é solicitado a prestações múltiplas. Todavia, isso não deve levar a
perder de vista o essencial”.
Serviço essencial
do sacerdote: a oração
Padre Bovati
indicou sobretudo “a oração” que, “além de ser a condição da escuta de Deus que
torna possível a pregação como autêntico testemunho, ela mesma é autêntico
ministério apostólico na sua natureza de acolhimento, reconhecimento da graça”.
E “a Escritura nos
oferece um modelo deste ministério permanente de intercessão no Livro do Êxodo
– explicou o pregador – propriamente com a figura de Moisés, mediador não
somente da Palavra de Deus, mas também mediador da graça para um povo em
constante perigo de perder-se”. Moisés “reza continuamente e a sua oração é
eficaz e salvífica”.
Atualizando “o
ministério orante de Moisés”, como é apresentado “na narração do capítulo 17 do
Êxodo, num contexto de perigo”, padre Bovati sugeriu como linha da meditação,
exatamente, a expressão “combate e oração”.
Encontramo-nos
diante de “um episódio incomum para o Êxodo: o apresentar-se de um combate que
deve repelir um povo inimigo, Amalec”. O texto, observou o pregador, deve ser
lido “em seu valor parabólico, de modo a obter um ensinamento sobre como aquele
que na comunidade é sacerdote e guia deve agir ao enfrentar o inimigo, aquele
que ameaça a vida do povo de Deus”.
Moisés tem diante
de si “um adversário astuto que agride os mais fracos da caravana, aqueles que
ficam na retaguarda porque cansados, um inimigo que aproveita de um povo
exausto”.
Mas nós “como
vivemos hoje a relação com Amalec e quem é Amalec hoje?” – é a questão concreta
proposta pelo pregador dos Exercícios espirituais. “A Igreja cristã, desde seus
primeiros momentos, sofreu ataques, perseguições, ostracismos e violências
mortais”.
A rocha sobre a
qual a Igreja é edificada resistirá ao mal
Na história “o
inimigo da Igreja assumiu diferentes aparências, por vezes a do poder político
e judiciário, por vezes a dos falsos profetas que semearam ódio e menosprezo
contra as convicções e o modo de viver dos cristãos. E isso continua em nossos
dias, sob formas persecutórias” mais ou menos evidentes.
Uma perseguição,
denunciou, que tem notas de “virulência inaudita também em nosso mundo, no
intento de demolir a estrutura completa da Igreja, atacando quem é mais fraco
na fé, escassamente preparado do ponto de vista espiritual para aceitar o
embate, o desprezo, e a marginalização”.
Eis que, afirmou o
religioso jesuíta, “o nosso Amalec tem forma atraentes para muitos e ataca
sorrateiramente quem não está preparado. Enormes forças ideológicas e
financeiras, coalizadas para favorecer interesses de parte, tornaram-se
ameaçadoras e usam todos os meios, da informação distorcida a retaliações
econômicas para destruir aquilo que Cristo fundou”.
É claro, relançou
padre Bovati, “a rocha sobre a qual a Igreja é edificada resistirá ao mal, não
porém sem a nossa participação ativa de fé e a oração”.
Formação humana e
espiritual, prioridade apostólica
“Metáfora à parte
e pensando aquilo que hoje nos é exigido para combater o bom combate do Reino
de Deus – afirmou o pregador, apresentando a figura de Josué que desce ao campo
de batalha –, devemos interrogar-nos com quais instrumentos enfrentamos quem,
com o engano e a violência, dificulta o bem.”
“Talvez algumas
armas sejam obsoletas, inapropriadas, insuficientes. A preparação cultural nas
ciências humanas e ciências religiosas deve ser objeto de imperioso
discernimento se não se quiser ser ingênuos e irresponsáveis diante de uma
agressiva onda de doutrinas e práticas contrárias ao Evangelho, na presença de
falsos profetas.”
Além disso, “as
instituições tradicionais consideradas úteis talvez requeiram mudanças
corajosas”. Por isso, reconheceu, “a formação humana e espiritual dos clérigos
e dos leigos se mostra hoje uma prioridade apostólica”.
Imersão em Deus,
condição indispensável
Com eficácia,
padre Bovati delineou o perfil de Moisés em oração, com “o olhar voltado para
Deus, não porque se desinteresse da batalha, mas porque quer endereçá-la à mais
completa vitória. Moisés no monte representa a força secreta que conduz o
exército ao triunfo: a imersão em Deus é a condição indispensável para que o
combate na terra tenha bom êxito”.
Sim, “a vitória se
alcança com os braços elevados, com o gesto tradicional do orante: o êxito da
guerra não está nas mãos do guerreiro, Josué, mas nas mãos de Moisés que invoca
Deus”.
Com uma observação
sobre o “aspecto da fadiga de quem está com as mãos elevadas, uma exaustão
diferente da dos combatentes, e no entanto real. E é com “humildade que para
realizar a sua missão Moisés se deixa ajudar pelos sacerdotes, Aarão e Cur, que
sustentam os braços do homem de Deus”.
Em suma, “cada um
é indispensável, mas é na comunhão, expressão orante da aliança entre irmãos e
com Deus, que a oração é eficaz, também porque expressa o amor, a
solidariedade, a unidade, no idêntico serviço para todo o povo de Deus”. Por
conseguinte, a sugestão é não pensar no desdobramento entre oração e
contemplação de um lado e combate e ação de outro”.
A passagem do
Evangelho de Mateus (17, 14-21) “fala de combate com satanás”, prosseguiu padre
Bovati, indicando a figura do “jovem às presas com pulsões que não sabe
controlar e é o símbolo da pessoa sofredora e indefesa, em grave perigo porque
desprovida daqueles recursos que lhe permitiriam aderir ao bem”.
Apelo à força
divina
A seu lado “está o
pai, testemunha do sofrimento do filho”: para salvá-lo se dirige aos discípulos
“que o Senhor havia dotado do poder de expulsar os demônios e de curar toda
forma de mal”.
No entanto, nesse
episódio, observou o pregador, “os discípulos do Senhor não conseguem nada, a
atividade deles é ineficaz, a intervenção deles é desprovida daquela força
espiritual para combater o espírito do mal”.
E esse é “o enigma
da narração: por que falta a eficácia? Porque o poder, mesmo tendo sido dado,
não dá resultado? Jesus fala da falta de fé, de “geração incrédula e perversa”.
Padre Bovati
explicou que não falta “somente a oração”. A questão, efetivamente, é se os discípulos
“têm ao menos um pingo de fé”.
De resto, concluiu
convidando à leitura do Salmo 121, “a oração não é simples recitação, não
consiste na formalidade dos lábios: se o coração não adere ao mistério de Deus
a oração é vã. Porém, uma oração mesmo fraca, sincera e humilde, se é apelo
àquela força divina que pode existir somente no Senhor, é a arma poderosa que
nos é dada para colaborar para o advento do Reino”.
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Retiro espiritual,
Bovati:
O pastor vele sempre quem é mais frágil
Na oitava
meditação dos Exercícios espirituais da Quaresma em Ariccia, que o Papa
Francisco acompanha do Vaticano, o pregador padre Pietro Bovati se deteve, na
tarde de quinta-feira (05/03), sobre o tema "A intercessão". Na sua
oração, afirmou, o intercessor alcança a misericórdia de Deus e a transmite.
Aquele que tem responsabilidade na Igreja é chamado a "defender, promover
e edificar os pequenos".
Giada Aquilina,
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano - Quanto mais há
pecado, mais se multiplica a misericórdia de Deus. Foi a reflexão do secretário
da Pontifícia Comissão Bíblica, padre Pietro Bovati, na tarde de quinta-feira
(05/03), na oitava meditação dos Exercícios espirituais em Ariccia para a Cúria
Romana, que o Papa Francisco acompanha da Casa Santa Marta, no Vaticano.
À luz do Livro do
Êxodo, do Evangelho de Mateus e da oração dos Salmos, o jesuíta se deteve sobre
o tema “A intercessão”, entendida como “aquela intervenção amorosa” que é
exercida em favor daquelas pessoas que “precisam de perdão e de reconciliação
com Deus”.
O serviço da
misericórdia
Trata-se,
explicou, do “ministério mais espiritual”, seja por que tem por objeto uma
necessidade e uma finalidade que “tocam o coração”, “o secreto da pessoa”, seja
porque “mais do que qualquer outra”, pressupõe uma “verdadeira familiaridade
com Deus”, dado que se dirige a quem se encontra “espiritualmente em
dificuldade porque está no pecado”.
Os sacerdotes,
recordou padre Bovati, são chamados ao “ministério da reconciliação”,
exercitando-o no Sacramento, que deve ser vivido com “empenho”, “dedicação” e
“amor”. O serviço da misericórdia, precisou o religioso, investe também “a
existência de uma comunidade inteira”, “de quem quer que seja na Igreja em
oração” se torne “disponível ao exercício profético da reconciliação”.
O padre jesuíta
convidou a examinar o capítulo 32 do Êxodo, versículos 7-14, reiterando que o
pecado “só é conhecido verdadeiramente na oração, no encontro face a face com o
Senhor”: é “olhando a face de Deus”, é “ouvindo a sua voz” que se compreende “a
gravidade do pecado”, como ato “contra Deus” e contra os “outros”.
O pecador, aliás,
“não se dá conta daquilo que fez”, por ignorância, por superficialidade ou “por
uma terrível dependência do mal”, quando se é “prisioneiros de vícios
compulsivos” que impedem “decisões sensatas”.
A oração de
intercessão
Quem reza,
propriamente intuindo a “periculosidade” do pecado, percebe “olhando e ouvindo
Deus a necessidade que Deus mesmo tem de “ser misericordioso”. É olhando o
Senhor que se sente “chamados a um amor pelo pecador visto com os olhos” de
Deus.
O orante,
“justamente porque olha a face” do Senhor, é levado “a identificar-se” com o
pecador, acabando por “assumir sobre si o mal dos outros”, a exemplo de Cristo.
“A oração que leva a compreender a gravidade do pecado” e o “dever urgente” de
socorrer tal pecado “introduz, impele e promove” uma “oração especial ao
Senhor”, a oração de “intercessão”.
Oferecer a Deus a
nossa miséria
Nos textos
bíblicos, explicou o teólogo, “a oração que o intercessor dirige a Deus é um
“pedido”, uma “súplica” a fim de que o Senhor perdoe. Olhando bem, acrescentou,
todo pedido a Deus se mostra “impróprio”, como se Deus tivesse que fazer
“aquilo que o orante pede”, o “impertinente” porque parece “sugerir que o
Senhor não se recorde o bem que tem a fazer”.
Porém, observou o
pregador, a Escritura ensina que “Deus cumpre antes que o pedido chegue aos
lábios. Ele sabe aquilo de que precisamos”. Mesmo assim devemos pedir, exortou,
“porque assim nos conscientizamos das nossas necessidades”, “experimentamos a
necessidade”, apresentamos a Ele “as nossas feridas”, nossos sofrimentos, de modo
que nos é dado sentir Sua compaixão”, “saborear” o Seu amor “que ouve e
realiza”.
Da ira à
misericórdia
A intercessão, por
conseguinte, “olha a face de Deus” e assiste a uma “mudança”: a passagem “da
ira à misericórdia”, à “ternura”, de modo que se opere uma “mudança radical” no
próprio coração. A oração de intercessão expressa uma “progressiva docilidade
do mediador no acolher a infinita bondade de Deus” e, acolhendo-a em si,
torna-se “testemunha e instrumento daquela misericórdia”, evidenciou padre
Bovati.
A intercessão, em
suma, vê “o emergir de um desejo de Deus de salvar o homem”, a fim de que no
mundo “todos possam ser atraídos pela luz da misericórdia se beneficiando do
mesmo perdão”.
Uma transmissão de
misericórdia
Na sua oração o
intercessor alcança a misericórdia de Deus: daí leva a cabo uma série de
“ações”, “modalidades”, “atitudes” e “operações” que são necessárias “para
fazer de modo que os pecadores tenham acesso ao dom da divina misericórdia”.
Para ilustrar o
processo “concreto” do exercício da divina misericórdia “mediada por seu
ministro” e “realizado com o perdão”, o pregador propôs o discurso de Jesus no
capítulo 18 do Evangelho de Mateus.
Parte da atenção
“ao pequeno”, ou seja, a pessoa vulnerável, frágil, fraca que não deve ser
desprezada. “Aquele que tem responsabilidade na Igreja” é chamado a ter uma
“atitude paterna”, com atenção a “quem é mais pequenino”.
Nestes dias, em
que “a problemática dos abusos contra menores”, contra pessoas “frágeis é mais
do que nunca atual”, a solicitude “dos grandes” se faz “mais incisiva e
necessária”, chamados que são a “defender, a promover e edificar os pequenos”,
refletiu padre Bovati.
Mas também na
parábola da ovelha perdida, prosseguiu, Jesus indica “a falha da ativa
responsabilidade do pastor, do grande que deveria tomar conta do pequeno”.
Faltou “vigilância”, “cuidado pessoal”, “solícita” atenção.
A “fragilidade do
pequeno se conjuga com a negligência do pastor”, mas isso “não determina o
êxito infeliz da parábola, aliás, é propriamente a ocasião para ativar a
iniciativa do pastor que sai para procurar a ovelha perdida”. Isto é, “fazer o
pecador retornar”.
Os mediadores
O pregador
esclareceu que o procurar a ovelha perdida se explica na mesma passagem
evangélica, quando Pedro pergunta ao Senhor quantas vezes deve perdoar o irmão
em caso de pecado contra ele.
Jesus, recordou o
teólogo, faz emergir a responsabilidade tanto do pecador quanto da pessoa
ofendida. “O procurar o irmão que se perdeu se realiza segundo esse texto de
Mateus com o exercício do diálogo”, do falar, do iniciar um “processo gradual”
que convença o pecador passando do “colóquio pessoal” ao “envolvimento de
testemunhas”, de “mediadores que corroborem o desejo de reconciliação e o
favoreçam”, até o envolvimento “de toda a comunidade”.
A finalidade
alcançada pela missão reconciliadora, ressaltou o religioso jesuíta, se “torna
visível” na oração comunitária. O Salvador realiza a sua missão propriamente
porque os pastores são “mediadores”, “unem” a comunidade.
Artífices de
perdão
Quando o apóstolo
Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar o meu irmão?”, Jesus encoraja “a
não cansar-se”, tornando, portanto, num certo sentido “permanente” o
“ministério da reconciliação”.
O número 70 vezes
7 é compreendido como “multiplicação”, quase que a todo limite se deva
contrapor uma “superação inimaginável, “quanto mais há pecado, mais a
misericórdia se multiplica”.
Na Igreja Pedro é
a testemunha desta misericórdia. De fato, se recorda d’ele o pecado da
“renegação”, se recorda o seu pranto, o seu arrependimento “de modo que a sua
experiência se torne o emblema da Igreja e de todo cristão que perdoado se
torna artífice de perdão”.
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Fonte: vaticannews.va
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