que se preocupam com quem está em dificuldade
Na Missa na Casa
Santa Marta esta sexta-feira (27/03), Francisco dirigiu novamente seu
pensamento aos doentes, aos anciãos sós, às famílias que não têm do que viver,
e expressou gratidão aos que se preocupam com eles. Na homilia, afirmou que
contra o acirramento destrutivo suscitado pelo diabo é preciso a coragem do
silêncio. Assim fez Jesus e assim é preciso fazer diante dos pequenos
acirramentos, como os mexericos.
Vaticana News - Na
Missa ao vivo em streaming da Capela da Casa Santa Marta, na manhã desta sexta-feira
(27/03), Francisco expressou sua gratidão àqueles que pensam nos outros, neste
difícil período caracterizado pela pandemia do coronavírus. Estas, as suas
palavras na introdução da Missa:
Nestes dias
chegaram notícias de que muita gente começa a preocupar-se num modo mais geral
com os outros e pensam nas famílias que não têm o suficiente para viver, nos
anciãos sós, nos doentes no hospital e rezam e buscam fazer chegar alguma
ajuda… Esse é um bom sinal. Agradecemos ao Senhor por suscitar esses sentimentos
no coração de seus fiéis.
Na homilia,
comentando as leituras do dia, extraídas do Livro da Sabedoria (Sab
2,1.a.12-22) e do Evangelho de João (Jo 7,1-2.10.25-30), ressaltou que o
acirramento daqueles que queriam matar Jesus era suscitado pelo diabo, porque
por trás de todo acirramento destrutivo se encontra o demônio. Não se pode
discutir com quem se acirra, se pode somente calar-se, como fez Jesus que
escolheu o silêncio e a Paixão. É o estilo que é preciso seguir também com os
pequenos acirramentos cotidianos, os mexericos.
A seguir, o texto
da homilia transcrita pelo Vatican News:
A primeira Leitura
é quase uma crônica (antecipada) daquilo que acontecerá com Jesus. É uma crônica
antecipada, é uma profecia. Parece uma descrição histórica daquilo que
aconteceu depois. O que dizem os ímpios? “Cerquemos o justo, porque ele nos
incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a lei e nos
acusa de contrariar a nossa educação. Ele se gaba de conhecer a Deus, e se
chama a si mesmo filho do Senhor! Sua existência é uma censura às nossas
ideias; basta sua vista para nos importunar. Sua vida, com efeito, não se
parece com as outras, e os seus caminhos são muito diferentes. Ele nos tem por
uma moeda de mau quilate, e afasta-se de nossos caminhos como de manchas. Julga
feliz a morte do justo, e gloria-se de ter Deus por pai. Vejamos, pois, se suas
palavras são verdadeiras, e experimentemos o que acontecerá quando da sua morte,
porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos dos
seus adversários.” Pensemos naquilo que diziam a Jesus na Cruz: “Se és o Filho
de Deus, desce; vem salvar-nos”. E depois o plano de ação: provemo-lo “por
ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e estarmos cientes de sua
paciência. Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve
intervir”. É propriamente uma profecia daquilo que aconteceu. E os judeus
procuravam matá-lo, diz o Evangelho. Então, queriam prendê-lo – nos diz o
Evangelho – “mas ninguém pôs a mão nele, porque ainda não tinha chegado a sua
hora”.
Esta profecia é
demasiadamente detalhada; o plano de ação deste povo malvado é detalhe por
detalhe, não poupar nada, coloquemo-lo à prova com violência e tormentos, para
ver a sua serenidade e provar a sua paciência... armemos ciladas (para ver) se
cai... Essa não é uma simples odiosidade, não há um plano de ação mau –
certamente – de um partido contra o outro: esta é outra coisa. Isso se chama acirramento:
quando o demônio, que está por trás, sempre, de todo acirramento, busca
destruir e não poupa os meios. Pensemos no início do Livro de Jó, que é
profético sobre isso: Deus está satisfeito com o modo de viver de Jó, e o diabo
lhe diz: “Sim, porque tem tudo, não passa provações! Coloca-o à prova!” E
primeiro o diabo lhe tira seus bens, depois lhe tira a saúde e Jó jamais,
jamais se afastou de Deus. Mas o diabo, aquilo que faz: o acirramento. Sempre.
Por trás do acirramento está o diabo, para destruir a obra de Deus. Por trás de
uma discussão ou uma inimizade, pode ser que esteja o demônio, mas de longe,
com as tentações normais. Mas quando há acirramento, não duvidemos: há a
presença do demônio. E o acirramento é sutil sutil. Pensemos como o demônio se
acirrou não somente contra Jesus, mas também nas perseguições aos cristãos;
como buscou os meios mais sofisticados para levá-los à apostasia, a
distanciar-se de Deus. Isso é, como dizemos na linguagem do dia a dia, isso é
diabólico: sim; inteligência diabólica.
Contavam-me alguns
bispos de um dos países que sofreram a ditadura de um regime ateu, que
chegavam, na perseguição, até detalhes como este: na segunda-feira após a
Páscoa as professoras perguntavam às crianças: “O que vocês comeram ontem? E as
crianças diziam o que tinha no almoço. E algumas diziam: “Ovos”, e aquelas que
diziam “ovos” eram depois perseguidas para ver se eram cristãos porque naquele
país se comiam ovos no Domingo de Páscoa. Até este ponto, ver, espionar, onde
há um cristão para matá-lo. Isso é acirramento na perseguição e esse é o
demônio.
E o que se faz, no
momento do acirramento? Somente duas coisas podem ser feitas: não é possível
discutir com esse povo, porque têm suas ideias, ideias fixas, ideias que o
diabo semeou no coração. Ouvimos qual é o plano de ação deles. O que se pode
fazer? Aquilo que Jesus fez: calar-se. Impressiona quando lemos no Evangelho
que diante de todas essas acusações, de todas essas coisas, Jesus se calava.
Diante do espírito de acirramento, somente o silêncio, jamais a justificação.
Jamais. Jesus falou, explicou. Quando entendeu que não havia palavras, o
silêncio. E no silêncio fez a sua Paixão. É o do justo diante do acirramento. E
isso é válido também para – digamos assim – os pequenos acirramentos cotidianos,
quando alguém de nós sente que há um mexerico ali, contra ele, e se se dizem
coisas e depois não se sabe nada... estar calado... Silêncio. E sofrer e
tolerar o acirramento do mexerico. O mexerico é também um acirramento, um
acirramento social: na sociedade, no bairro, no lugar de trabalho, mas sempre
contra ele. É um acirramento não tão forte como este, mas é um acirramento,
para destruir o outro porque se vê que o outro incomoda, perturba.
Peçamos ao Senhor
a graça de lutar contra o mau espírito, de discutir quando devemos discutir;
mas diante do espírito de acirramento, ter a coragem e deixar que os outros
falem. O mesmo diante deste acirramento cotidiano que é o mexerico: deixa-lo
falar. Em silêncio, diante de Deus.
Por fim, o Santo
Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a
fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu
creio que estais presente no Santíssimo Sacramento. Amo-vos sobre todas as
coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no
Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração.
Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente.
Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Antes de deixar a
Capela dedicada ao Espírito Santo, foi entoada a antiga antífona mariana Ave
Regina Caelorum (”Ave Rainha dos Céus”).
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Vídeo integral da
Missa
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Fonte: vaticannews.va
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