Chega dos
abusos que nos desafiam
à firmeza e decisão na busca da verdade e justiça
No Angelus, o
Papa pediu a intercessão de Maria "pela cura de todas as pessoas que
sofreram abusos de qualquer tipo" e para que confirmasse "cada membro
da família cristã no decidido propósito de nunca mais permitir que se
verifiquem tais situações", assegurando também sua “estima e proximidade
na oração” à população da Irlanda do Norte.
Cidade do
Vaticano - “Esta chaga aberta nos desafia a sermos firmes e decididos na busca
da verdade e da justiça. Imploro o perdão do Senhor para estes pecados, para o
escândalo e a traição sentidos por muitos na família de Deus”.
No Angelus no
Santuário mariano em Knock, o Papa Francisco voltou a deplorar o escândalo dos
abusos ocorridos na Irlanda e agradeceu pelos “progressos ecumênicos e pelo
significativo crescimento de amizade e colaboração entre as comunidades
cristãs” no país.
Chovia e fazia
12ºC neste domingo, 26, em Knock, distante 178 km de Dublin. Apesar da curta
distância, por questões de segurança descartou-se o deslocamento do Papa em
helicóptero. Assim, após 40 minuto de voo a bordo de um A321 da Aer Lingus,
o Santo Padre chegou ao aeroporto da cidade no Condado de Mayo.
O Santuário
Após as
aparições no século XIX, Knock tonou-se um dos maiores santuários marianos da
Europa, ao lado de Fátima e Lourdes. A cada ano atrai cerca de um milhão e meio
de peregrinos. Em 1979, São João Paulo II visitou o local para comemorar o
centenário das aparições. Em 1993, também Santa Madre Teresa de Calcutá rezou
no Santuário.
Próximo à
cidadezinha está um lugar sagrado para os irlandeses, o monte Croagh Patrick,
local onde São Patrício expulsou todas as serpentes da ilha e jejuou, no ano
441, durante os 40 dias da Quaresma. No último domingo de julho, no “Reek
Sunday”, milhares de fiéis peregrinam ao local, muitos descalços.
Antes de chegar
ao Santuário, o Papa Francisco trocou de veículo e passou de papamóvel entre os
fiéis, sendo então acolhido pelo arcebispo de Tuam, Dom Neary, por 4 bispos da
Província Eclesiástica e por autoridades. Estavam presentes algumas crianças.
Ao chegar à
Capela das Aparições, onde estavam reunidos 200 fiéis, o Papa foi recebido pelo
Reitor do Santuário, Padre Gibbons. Francisco saudou alguns fiéis, depositou
flores ao pés da imagem da Virgem e acendeu uma vela. Então, um momento de
oração silenciosa. O Papa ofereceu um Terço de ouro no local, abençoou alguns
doentes, transferindo-se então à Esplanada do Santuário para rezar os Angelus.
Tradição do
terço em família
"Good
morning!", começou o Papa saudando os fiéis em inglês. "Estou feliz
de estar aqui com vocês, na Casa da Mãe!"
“Na Capela da
Aparição, confiei à amorosa intercessão de Nossa Senhora todas as famílias do
mundo e, de modo especial, as vossas famílias, as famílias irlandesas”, disse
Francisco, acrescentando:
“Como recordação
da minha visita, trouxe o dom dum terço de ouro. Sei como é importante, neste
país, a tradição do terço em família. Não abandonem esta tradição. Quantos
corações de pais, mães e filhos, no decorrer dos anos, tiraram consolação e
força da meditação sobre a participação de Nossa Senhora nos mistérios gozosos,
luminosos, dolorosos e gloriosos da vida de Cristo!”
O Papa pediu,
que por intercessão de Maria, as famílias sejam, “no meio dos ventos e
tempestades que enfuriam nos nossos tempos, baluartes de fé e bondade que,
segundo as melhores tradições da nação, resistem a tudo o que pretenda diminuir
a dignidade do homem e da mulher, criados à imagem de Deus e chamados ao
destino sublime da vida eterna”.
“Que Nossa
Senhora olhe com misericórdia para todos os membros atribulados na família do
seu Filho”
Nunca mais
abusos
Ao rezar diante
da imagem na capelinha das aparições – explicou Francisco - apresentei a
Maria “de modo particular todos os sobreviventes, vítimas de abusos por membros
da Igreja na Irlanda”:
“Nenhum de nós
pode deixar de se comover perante as histórias de menores que sofreram abusos,
foram despojados da sua inocência ou que foram afastados das mães e abandonados
à deformação de dolorosas recordações. Esta chaga aberta nos desafia a sermos
firmes e decididos na busca da verdade e da justiça. Imploro o perdão do Senhor
para estes pecados, para o escândalo e a traição sentidos por muitos na família
de Deus. Peço à nossa Bem-aventurada Mãe que interceda por todas as pessoas
sobrevividas aos abusos de qualquer tipo e confirme cada membro da família
cristã no decidido propósito de nunca mais permitir que se verifiquem tais
situações. E também de interceder por todos nós, para que possamos proceder
sempre com justiça e reparar, no que depender de nós, tanta violência”
Irlanda do Norte
Assegurando sua
“estima e proximidade na oração” à população da Irlanda do Norte - que não
esteve incluída nesta viagem visto o objetivo ser a participação no Encontro
Mundial das Famílias – o Pontífice pediu a Nossa Senhora “que sustente todos os
membros da família irlandesa para que perseverem, como irmãos e irmãs, na obra
de reconciliação”.
Francisco também
agradeceu pelos “progressos ecumênicos e pelo significativo crescimento de
amizade e colaboração entre as comunidades cristãs”.
“Rezo para que
todos os discípulos de Cristo continuem com perseverança os esforços por fazer
avançar o processo de paz e construir uma sociedade harmoniosa e justa para os
filhos de hoje, sejam cristãos, sejam muçulmano, sejam judeus, sejam de
qualquer fé: filhos da Irlanda".
Depois de
recitar o Angelus, o Papa dirigiu uma saudação especial “aos homens e
mulheres reclusos neste país", e de modo particular, agradeceu a quantos
escreveram a ele ao saberem de sua ida à Irlanda.
“A vós e aos
vossos familiares, asseguro a minha proximidade e a minha oração. Que Maria,
Mãe de Misericórdia, vele por vós e vos fortaleça na fé e na esperança”.
O Papa foi
presenteado ao final com um quadro com uma imagem de Nossa Senhora de Knock e
deixou um Cálice para as celebrações no Santuário. Após, retornou para Dublin.
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Assista:
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Papa na missa de encerramento:
Família,
promessa de um novo Pentecostes.
Roma próxima sede em 2021
O Papa Francisco
encerrou o Encontro Mundial das Famílias de Dublin e fez um novo pedido de
perdão pelos abusos cometidos na Igreja irlandesa.
Cidade do
Vaticano - A missa no Phoenix Park de Dublin encerrou o Encontro Mundial das
Famílias, motivo da visita do Papa Francisco à Irlanda.
No ato
penitencial, o Papa Francisco voltou a pedir perdão por todos os tipos de
abusos cometidos por “membros qualificados” da Igreja em instituições
administradas por religiosos e religiosas e por membros da hierarquia que
permaneceram em silêncio. O pedido é fruto do encontro que o Pontífice realizou
no sábado com oito vítimas irlandesas.
O Papa citou os
menores e adultos vulneráveis vítimas de moléstias, crianças e adolescentes
explorados para fins laborais e mulheres que tiveram seus filhos subtraídos por
autoridades eclesiásticas porque solteiras. Maternidade negada por se tratar de
“pecado mortal”. “Isso não é pecado mortal, é o quarto mandamento [honrar pai e
mãe, ndr]!”, disse Francisco.
”Que o Senhor
mantenha e faça crescer este estado de vergonha e arrependimento e nos dê a
força para nos comprometer a trabalhar para que nunca mais aconteçam e se faça
justiça.”
Espírito e vida
Já a homilia foi
inspirada no Evangelho deste domingo: «Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6,
68).
Os discípulos
estavam perplexos, confusos e até irados, hesitando se aceitar ou não as suas
«palavras duras», tão contrárias à sabedoria deste mundo. Em resposta, o Senhor
lhes diz: “As palavras que vos disse são espírito e são vida”.
Novo Pentecostes
“Cada dia novo
na vida das nossas famílias e cada nova geração trazem consigo a promessa de um
novo Pentecostes, um Pentecostes doméstico”, disse o Papa, fazendo votos de que
as famílias se tornem fonte de encorajamento para os outros, para partilhar “as
palavras de vida eterna” de Jesus.
O Filho de Deus,
afirmou ainda Francisco, se encarnou neste mundo por meio de uma família, e em
cada geração, através do testemunho das famílias cristãs, tem o poder de romper
todas as barreiras para reconciliar o mundo com Deus e fazer de nós aquilo que
desde sempre estamos destinados a ser: uma única família humana.
Perdão difícil
Todavia,
reconheceu o Pontífice, a tarefa de dar testemunho desta Boa Nova não é fácil e
sempre haverá pessoas que se oporão à ela.
Mas podemos
seguir o exemplo de São Columbano e de seus companheiros irlandeses e jamais
nos deixar “influenciar ou desanimar pelo olhar gelado da indiferença ou pelos
ventos borrascosos da hostilidade”.
“Como permanece
difícil perdoar àqueles que nos magoam! Que grande desafio continua a ser o
acolhimento do migrante e do estrangeiro! Como é doloroso suportar a desilusão,
a rejeição ou a traição! Como é incómodo proteger os direitos dos mais frágeis,
dos nascituros ou dos mais idosos, que parecem estorvar o nosso sentido de
liberdade!”
Vocação
missionária
Missão árdua,
mas possível, pois podemos contar com a força do Espírito e a presença do
Senhor sempre ao nosso lado.
Ressaltando a
natureza missionária do cristão, Francisco recorda que a Igreja é chamada a
"sair" para levar as palavras de vida eterna às periferias do mundo.
“Que a nossa
celebração de hoje confirme cada um de vocês – pais e avós, crianças e jovens,
homens e mulheres, frades e freiras, contemplativos e missionários, diáconos e
sacerdotes – na partilha da alegria do Evangelho! Possam partilhar o Evangelho
da família como alegria para o mundo.”
Orações
No final da
Celebração Eucarística, o Pontífice fez um agradecimento a todos os que
contribuíram para a realização da viagem.
“Um ‘obrigado’
muito sentido quero ainda expressar a todas as pessoas que rezaram por este
Encontro: idosos, crianças, religiosos e religiosas, doentes, reclusos... Estou
certo de que o sucesso da iniciativa se deve às orações, simples e
perseverantes, de todos eles. Obrigado a todos. Que o Senhor os recompense!”
Roma 2021
O Prefeito do
Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Card. Kevin Farrell, anunciou no
final da missa que a cidade de Roma será sede do próximo Encontro Mundial da
Família em 2021.
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Assista:
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Papa exorta
bispos
a perseverarem nestes "momentos tão desafiadores"
"Como São
João da Cruz nos ensina, é na noite escura que a luz da fé brilha mais pura nos
nossos corações. E essa luz mostrará o caminho para a renovação da vida cristã
na Irlanda nos anos futuros", recordou o Papa aos prelados.
Cidade do Vaticano - O último
compromisso do Papa Francisco em terras irlandesas foi o encontro com o episcopado
no Convento das Irmãs Dominicanas. O Pontífice presenteou as religiosas com um
quadro com uma cerâmica retratando a “Madonna com il Bambino”.
Estavam
presentes os bispos das quatro Arquidioceses Metropolitanas e 22 Dioceses do
Eire e da Irlanda do Norte, e seus quatro auxiliares. O atual presidente é Dom
Eamon Martin, arcebispo de Armagh e Primaz de toda a Irlanda.
“Todos nós, como
bispos, estamos cientes da nossa responsabilidade de ser pais para o santo povo
fiel de Deus” disse Francisco, retomando o diálogo iniciado na visita ad limina
Apostolorum, “no espírito do Encontro Mundial das Famílias”:
“Como bons
pais, pretendemos encorajar e inspirar, reconciliar e unir, e sobretudo
preservar todo o bem transmitido de geração em geração nesta grande família que
é a Igreja na Irlanda”
Neste sentido,
como mesmo diz, sua intenção é encorajar os esforços dos bispos “em momentos
tão desafiadores", de perseverar no ministério "de arautos do
Evangelho e pastores do rebanho de Cristo”.
O Papa agradece
a solicitude dos bispos pelos pobres, excluídos e necessitados, assim como a
ajuda aos sacerdotes, “cuja tristeza e desânimo por causa dos recentes
escândalos são muitas vezes ignorados”.
“A necessidade
que tem a Igreja de reconhecer e remediar, com honestidade evangélica e
coragem, os erros do passado relativos à proteção das crianças e adultos
vulneráveis”, foi um tema presente nesta viagem, sublinhou o Santo Padre,
reconhecendo que nos últimos anos, como “corpo episcopal”, foram seguidos
“percursos de purificação e reconciliação com as vítimas dos abusos”, mas
também fixando, “com a ajuda do National Board para a tutela das
crianças na Igreja na Irlanda, um conjunto rigoroso de normas tendentes a
garantir a segurança dos jovens”:
“Nestes anos,
todos nós tivemos de abrir os olhos para a gravidade e a extensão do abuso
sexual em diferentes contextos sociais. Na Irlanda, como noutros lugares, a
honestidade e a integridade com que a Igreja decide enfrentar este capítulo
doloroso da sua história pode oferecer um exemplo e um apelo a toda a
sociedade”.
O Papa recorda
que a rápida evolução da sociedade representa um significativo desafio para
“a transmissão da fé na sua integridade e beleza”. Neste sentido, “o
Encontro Mundial das Famílias deu-nos grande esperança e encorajamento sobre o
fato de que as famílias se vão tornando cada vez mais conscientes do seu papel
insubstituível na transmissão da fé”.
“Ao mesmo
tempo, as escolas católicas e os programas de instrução religiosa continuam a
desempenhar uma função indispensável para se criar uma cultura de fé e um
sentido de discipulado missionário”
Este fato
“representa motivo de cuidado pastoral para todos vós”, pois “a formação
religiosa genuína requer professores fiéis e alegres, capazes de formar não só
as mentes, mas também os corações para o amor de Cristo e a prática da oração”.
Para tal
objetivo, “a preparação de tais professores e a divulgação de programas da
formação permanente são essenciais para o futuro da comunidade cristã, na qual
um laicado comprometido se sinta cada vez mais chamado a levar a sabedoria e os
valores da sua fé aos diversos setores do seu empenho na vida social, política
e cultural do país”.
Francisco
recorda que por um lado “os transtornos dos últimos anos puseram à prova a fé
tradicionalmente forte do povo irlandês”, mas por outro “proporcionaram também
a oportunidade para uma renovação interior da Igreja neste país e indicaram
novas formas de imaginar a sua vida e missão”.
Que vocês possam
com humildade e confiança na graça de Deus – foi sua exortação – “empreender
novos caminhos para estes tempos novos”, o que poderá ser feito também
inspirando-se no “forte sentido missionário enraizado na alma do vosso povo”.
Isso permitirá descobrir caminhos criativos “para testemunhar a verdade do
Evangelho e fazer crescer a comunidade dos crentes no amor de Cristo e no zelo
pelo crescimento do seu Reino”.
“Sempre
que vós e o vosso povo, vos sentirdes um pequeno rebanho exposto à
desafios e dificuldades, não desanimeis”, disse Francisco, recordando o ensinamento
de São João da Cruz de que “é na noite escura que a luz da fé brilha mais
pura nos nossos corações. E essa luz mostrará o caminho para a renovação da
vida cristã na Irlanda nos anos futuros”.
O Papa por fim,
pede que o episcopado continue a “fomentar unidade e fraternidade entre vós e,
juntamente com os líderes doutras comunidades cristãs, a trabalhar e rezar
fervorosamente pela reconciliação e a paz entre todos os membros da família
irlandesa”.
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Papa Francisco
despede-se da Irlanda
Papa despediu-se
da Irlanda no final da tarde deste domingo, após presidir a Missa conclusiva do
IX Encontro Mundial das Famílias e encontrar os bispos irlandeses.
Cidade do
Vaticano - No final da
tarde deste domingo, o Papa Francisco despediu-se da Irlanda, concluindo a 24ª
Viagem Apostólica de seu Pontificado. O voo A321 da Aer Lingus (St Aidan)
decolou do Aeroporto Internacional de Dublin às 18h46, devendo aterrissar no
Aeroporto Ciampino, em Roma às 23 horas, horário italiano. Não houve discursos
ou cerimônias oficiais no aeroporto, estando presente no entanto o primeiro
ministro irlandês Leo Varadkar e esposa, além de autoridades religiosas.
O último
compromisso de Francisco foi o encontro com o episcopado irlandês no Convento
das Irmãs Dominicanas, após presidir a Missa conclusiva do IX Encontro Mundial
das Famílias no Phoenix Park, quando foi anunciado o local do próximo encontro:
Roma, em 2021.
O Papa chegou à
Irlanda na manhã de sábado, sendo o segundo Pontífice a visitar a “Ilha de
Esmeralda”. O último foi São João Paulo II em 1979. Francisco fez cinco
discursos, em uma viagem marcada pela complexidade da questão dos abusos
cometidos no país contra menores por sacerdotes e religiosos em décadas
passadas, assim como a trágica questão da separação dos filhos das jovens
mães, internas em institutos religiosos.
Estes temas
delicados e dolorosos foram abordados por Francisco em praticamente todos os
pronunciamentos. Não faltaram pedidos de perdão e a garantia do compromisso em
não medir esforços para curar as feridas e evitar que estes males nunca mais
ocorram.
Os irlandeses
apreciaram a sinceridade e a clareza do Papa, sobretudo a sua vontade e
disponibilidade em encontrar um grupo de vítimas na Nunciatura Apostólica em
Dublin.
O Santo Padre,
por outro lado, lançou uma mensagem de esperança, encorajando o clero e os
leigos irlandeses a comprometerem-se na renovação da sua fé e no compromisso
com o Evangelho.
Durante o
voo de volta, o Papa encontra os jornalistas para a tradicional coletiva de
imprensa.
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Papa aos
jornalistas:
A fé dos irlandeses mais forte do que a chaga dos abusos
Francisco
encontra jornalistas no voo papal de retorno a Roma: responde a sete perguntas.
Cidade do
Vaticano - O espaço para
dizer o que neste momento carrega no coração - oferecer um pensamento sobre a
viagem que acaba de terminar - Francisco tira para si mesmo no final, depois de
mais de 40 minutos dedicados a temas ditados pela crônica do dia e pelo
interesse de seus interlocutores. A sua não é uma verdadeira resposta, porque
tecnicamente não havia dúvida, mas é todavia a convicção que o Papa traz
consigo depois de dois dias intensos. "Eu encontrei muita fé na
Irlanda", disse aos jornalistas no voo de Dublin a Roma. Os irlandeses
sofreram muito por causa dos escândalos, mas sabem distinguir, disse, "a
verdade das meias-verdades", como lhe disse algumas horas antes um bispo.
E se no "processo de cura em andamento" há coisas que parecem afastar
da fé, essa fé permanece sólida.
"Não direi
uma palavra"
As sete
perguntas que precedem a resposta não solicitada de Francisco são como planetas
que giram em torno do sol trágico dos abusos. O que chama a atenção dos ouvidos
e faz escrever mais freneticamente no teclado do computador é a resposta que o
Papa dá ao caso do dia. O segundo dia em Dublin começou com o documento do
ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, o arcebispo Carlo Maria Viganò, que
chama em causa o Papa no episódio do Card. McCarrick, acusado de assédio sexual
contra jovens seminaristas. Francisco é breve e convida os jornalistas a
tirarem suas próprias conclusões. "Eu sinceramente digo isto: leiam com
cuidado e façam o seu próprio julgamento. Não vou dizer uma palavra sobre isso.
Creio que o documento fala por si ".
Um júri para
cada caso
Em vez disso,
fala e explica outros aspectos delicados e complexos, como a modalidade de
levar ao tribunal um bispo acusado de abuso. Rejeita com delicadeza o desejo de
Marie Collins - ex-membro da Pontifícia Comissão instituída para combater o
fenômeno e vítima ela mesma de violências por um padre irlandês - de criar um
tribunal especial, conforme indicado no Motu proprio "Como uma mãe
amorosa". Na realidade, temos visto, disse Francisco, que mais do que um
júri, é mais eficaz a criação de um colégio “ad hoc” para cada caso.
"Funciona melhor assim", assegura o Papa, que recorda como o último a
ser submetido ao tribunal foi o arcebispo de Guam e que outro procedimento está
em andamento.
Falar
imediatamente, nunca julgamentos sumários
Uma pergunta
sobre o que "o povo de Deus" pode e deve fazer diante de atos tão
perversos praticados pelos sacerdotes. Também aqui o Papa suprime a reticência
e indica nas famílias feridas o primeiro obstáculo, muitas vezes, à
transparência. "Quando se vê algo – afirma com força – é preciso falar
imediatamente". Muitas vezes são os pais a encobrirem o abuso de um padre
porque não acreditam no filho ou na filha". Por outro lado, no entanto,
critica as ações dos meios de comunicação que iniciam julgamentos de rua antes
que uma responsabilidade seja apurada. Francisco cita o caso do grupo de
sacerdotes de Granada, cerca de dez, acusado de pedofilia por um jovem
empregado em um colégio, que escrevera ao Papa que tinha sido vítima de
violências. Bem, o cadafalso da humilhação sofrido por alguns desses padres se
revelou a injustiça mais cruel porque depois a justiça comum os considerou inocentes.
Assim, é o convite do Papa aos jornalistas, "seu trabalho é
delicado", vocês devem dizer as coisas "mas sempre com a presunção de
inocência e não com a presunção de culpa".
Quem ignora não
é um verdadeiro pai
Palavras de
grande estima Francisco reserva à ministra irlandesa que lhe falou sobre o
dramático caso do orfanato de religiosas irlandesas em Tuam. Objeto de uma
investigação pelas autoridades que configura o orfanato como local de abusos e
horrores repetidos nas décadas passadas, o Papa disse que aguarda o resultado
final da atividade de investigação também para verificar as responsabilidades
da Igreja. De qualquer forma, o apreço do Papa é todo pelo
"equilíbrio" e pela "dignidade" com que a representante do
governo irlandês lhe informou sobre o assunto. Ainda sobre o assunto da
Irlanda, uma pergunta a Francisco sobre o que ele diria a um pai cujos filhos
se confessem ser homossexuais. “Eu diria a ele: rezar, não condenar, dialogar,
entender, abrir espaço ao filho à filha", porque "ignorar é uma falta
de" paternidade e maternidade.
O caso do navio
"Diciotti"
Uma das
primeiras questões a serem abordadas na coletiva de imprensa foi a da
imigração. A pergunta teve início com a feliz conclusão do episódio do navio
italiano " Diciotti", que desembarcou em Messina mais de cem
migrantes após cerca de dez dias sem a possibilidade de atracar. "Há sua
mão neste caso?", pergunta ao Papa o jornalista, e Francisco responde que
não, ele diretamente não, mas é obra do "bom padre Aldo Buonaiuto, da
Fundação João XXIII, mas também da CEI, (Conferência Episcopal Italiana) com o
cardeal Bassetti. Recorda o critério de prudência que deve guiar um país no
acolhimento dos imigrantes, mas acima de tudo Francisco chama a atenção para o
valor da integração. Pode mudar uma vida, disse, como a da estudante que ele
trouxe da ilha de Lesbo e recentemente encontrada na Universidade. Isso
para arrancar dos traficantes o comércio de carne humana e dar dignidade
àqueles que buscam uma nova vida.
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O melhor da
viagem do Papa visto pelas câmeras do Vatican Media
Um breve vídeo
resume os momentos mais significativos da Viagem Apostólica do Papa Francisco
por ocasião do IX Encontro Mundial das Famílias.
Cidade do
Vaticano - Concluiu-se a
24ª Viagem Apostólica do Papa Francisco que o levou à Irlanda. Uma experiência
curta, mas muito intensa, marcada por momentos de festa, mas também de oração,
testemunho e reflexão. Iniciada sábado de manhã com a chegada ao aeroporto de
Dublin, a viagem terminou nesta noite de domingo, quando o Pontífice, após o
encontro com os representantes da Conferência Episcopal Irlandesa e depois da
cerimônia de despedida no aeroporto de Dublin, tomou o avião em direção de
Roma.
Ocasião da
Viagem, o IX Encontro Mundial das Famílias: em primeiro plano, de fato, os
desafios que as famílias enfrentam todos os dias para encarnar um amor fiel,
para transmitir a fé e ser fermento de uma sociedade renovada.
Percorremos a
viagem de Francisco com as imagens mais bonitas e significativas das câmaras do
Vatican Media: da chegada no aeroporto de Dublin à cerimônia de despedida,
passando pela Festa no Croke Park Stadium e a Santa Missa no Phoenix Parque.
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Assista:
Fonte: vaticannews.va
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