“O
direito a vida é o mais fundamental de todos os direitos”
Desde que foi
nomeado como bispo para a diocese de Rio Grande (RS) em 17 de fevereiro de
2016, dom Ricardo Hoepers elegeu a inspiração bíblica: “Escolhe, pois a vida”
(Dt 30, 19) como seu lema episcopal. Não se trata de uma escolha aleatória. Sua
trajetória como religioso e bispo da Igreja Católica vem sendo marcada por essa
escolha. Com formação acadêmica voltada para a área da Teologia Moral e
Bioética e doutorado na faculdade Alfonsiana, em Roma, ele integra o esforço
que o Regional Sul 3 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem
fazendo na Promoção e Defesa da Vida, na articulação de um Observatório de
Bioética junto as Universidades Católicas e outras instituições de ensino
superior.
Dom Hoepers é
autor do livro “Teologia moral no Brasil: um perfil histórico” e possui uma
atuação na área da saúde, em Curitiba (PR), desde quando atuava como padre, na
área hospitalar e participado dos Comitês de Ética em Pesquisa com seres
Humanos e Comitês de Bioética. Estes fatos o credenciaram a representar a CNBB
em seminário promovido pela Câmara dos Deputados sobre a Arguição de Preceito
Fundamental (ADPF) nº 442 sobre a “Descriminalização do Aborto”, em maio deste
ano. E agora novamente, por 10 minutos, o religioso representará a entidade no
dia 6 de agosto, na segunda parte da audiência pública sobre o mesmo tema
promovida pelo Supremo Tribunal Federal. O ponto central de sua defesa, como
informou ao Portal da CNBB, é o argumento defendido pela Igreja Católica no
Brasil em nota da CNBB, de 11 de abril de 2017: “defender a vida na sua
integralidade, inviolabilidade e dignidade, desde a concepção até a morte
natural”. Na ocasião, o religioso representará a Comissão Episcopal Pastoral
para a Vida e a Família da CNBB.
Acompanhe
abaixo como o religioso está se preparando para este momento para representar a
Igreja no Brasil no STF.
Qual vai ser o
centro da sua estratégia de argumentação oral na defesa do ponto de vista da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na audiência pública no dia 6 de
agosto?
Dom Hoepers: Terei 10 minutos
para explicitar as razões pelas quais somos contra a descriminalização do
aborto. O ponto central está na Nota da CNBB de 11 de abril de 2017, “Pela
vida, contra o aborto”, onde estão presentes os fundamentos de nossa posição:
“defender a vida na sua integralidade, inviolabilidade e dignidade, desde a
concepção até a morte natural”.
O direito a vida
é o mais fundamental de todos os direitos e, por isso, em primeiro lugar, não
se trata de um discurso religioso ou fundamentalista por parte da Igreja. Mas,
se trata de uma verdade científica, que reconhece e comprova o início da vida
na concepção. Quando falamos em 12 semanas, significa a 12ª semana do
desenvolvimento de uma vida humana, com um coração batendo, rins, estômago,
fígado funcionando. É uma vida frágil, vulnerável que não tem como se defender.
Aborto, do
latim, ab ortus (privação do nascer), é um atentado contra à vida e, segundo o
Papa São João Paulo II, “o aborto direto, isto é, desejado como fim e como
meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de
um ser humano inocente”(EV 62), um crime hediondo, assim como serão hediondos
todos os outros crimes contra a vida humana nas diferentes fases ou situações
de vulnerabilidade como o embrião, o feto, a criança, o jovem, o idoso, a
pessoa com deficiência, etc. Nossa posição é da vida plena, do cuidado, do
direito à dignidade, não pelas nossas qualidades, mas pela sacralidade da nossa
vida: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
A maior parte
dos expositores, pelas informações já disponibilizadas, representa grupos
ligados à defesa da legalização do aborto. Isto não cria uma assimetria na
defesa dos argumentos?
Dom Hoepers: É difícil
compreender esse processo e os critérios que definiram a escolha
desproporcional das posições que representam a sociedade brasileira. É difícil
aceitar que instituições de interesse internacional tenham prioridade sobre as
nossas instituições e sobre a nossa legislação. É difícil compreender que um
assunto de tamanha relevância se limite a dois dias de argumentações.
Lembramos que o
tema não deveria estar sendo discutido no âmbito do Judiciário e sim no
Legislativo. Nós temos todo um histórico de debate sobre o aborto na Câmara dos
Deputados que foram legitimamente escolhidos para nos representar na definição
das leis e de suas prerrogativas. Mas a condução do tema da descriminalização
do aborto tomou um rumo estranho ao caminho democrático de modo que, o Supremo
Tribunal Federal, desprezando e desconsiderando o papel bicameral do nosso
Legislativo, tomou para si essa responsabilidade.
Como bispo
católico qual o caminho o senhor indicaria às mulheres que estão vivendo o
processo de gravidez e, por algum motivo, já pensaram ou pensam abortar? O que
a Igreja pode fazer por mulheres que enfrentam esta situação concreta?
Dom Hoepers: O aborto não é
uma conquista, mas é um drama social que corrói as mesmas raízes da convivência
humana: isso deve ser prevenido com meios adequados. Por isso é importante
políticas públicas protetivas à mulher, dando à ela segurança e acompanhamento
necessários. O Papa São João Paulo II na Encíclica Evangelium Vitae deu sua
mensagem às mulheres, de modo que pede que não caiam no desânimo e não abandonem
a esperança. As mulheres podem ser as artífices de um novo olhar sobre a vida
humana (EV, 99): “Um pensamento especial quereria reservá-lo para vós,
mulheres, que recorrestes ao aborto. A Igreja está a par dos numerosos
condicionalismos que poderiam ter influído sobre a vossa decisão, e não duvida
que, em muitos casos, se tratou de uma decisão difícil, talvez dramática.
Provavelmente a ferida no vosso espírito ainda não está sarada. Na realidade,
aquilo que aconteceu, foi e permanece profundamente injusto. Mas não vos
deixeis cair no desânimo, nem percais a esperança. Sabei, antes, compreender o
que se verificou e interpretai-o em toda a sua verdade. Se não o fizestes
ainda, abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a
misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no
sacramento da Reconciliação. A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis com
esperança confiar o vosso menino. Ajudadas pelo conselho e pela solidariedade
de pessoas amigas e competentes, podereis contar-vos, com o vosso doloroso
testemunho, entre os mais eloquentes defensores do direito de todos à vida.
Através do vosso compromisso a favor da vida, coroado eventualmente com o
nascimento de novos filhos e exercido através do acolhimento e atenção a quem
está mais carecido de solidariedade, sereis artífices de um novo modo de olhar
a vida do homem.”
Pelo Brasil, a
cada dia, crescem as iniciativas pró-vida com casas de acolhida. Essas
iniciativas já estão demonstrando que é muito mais eficaz e salutar à mãe
(mulher), salvaguardar a criança (nascituro), do que dar a essas mulheres um
trauma e um drama pelo resto de suas vidas. Destaco algumas delas: Casa
Pró-vida Mãe Imaculada, em Curitiba (PR), Casa Luz, em Fortaleza (CE), Casa
mater Rainha da Paz, Canoinhas (SC), Associação Guadalupe, em São José dos
Campos (SP), Casa da Gestante Pró-Vida São Frei Galvão, em Nilópolis (RJ),
Pró-Vida de Anápolis, em Anápolis (GO) e Comunidade Santos Inocentes, em
Brasília (DF). Que sejamos capazes de acolher, cuidar, promover e
defender a vida, pois, acima de tudo, o nosso Deus se fez criança e quis nascer
de uma mulher. Que Nossa Senhora Aparecida proteja as mães e as crianças que
estão por nascer. Amém.
Confira as
últimas notas da CNBB sobe o aborto:
Consep – 22 de setembro de 2016
Presidência – 1º de dezembro de 2016
Presidência – 11 de abril de 2017
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Fonte: cnbb.org.br
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