Serpente e Cruz
Superamos os
venenos das serpentes dos ódios e da falta de amor, com o olhar cheio de
esperança para aquele que se deixou crucificar para que também nós nos
despojemos de toda maldade e todo o egoísmo.
Na travessia do
deserto para a terra prometida os judeus foram surpreendidos pela picada de
serpentes. Eles recorreram a Moisés para superarem a morte devido ao veneno
daqueles répteis. Deus mandou que se fizesse uma serpente de bronze hasteada ao
alto. Quem olhasse para ela ficaria curado. Da mesma forma Jesus foi elevado ao
alto da cruz e ali morreu. Na comparação da serpente e da morte do Filho de
Deus vemos a superação da morte pela ação divina. No entanto, no caso da cobra,
a vida física foi salva. Com Jesus se deu a libertação de abrangência total.
Ele veio regenerar o ser humano de todas as gerações. Seu sacrifício foi
redentor. Ele se deixou sacrificar para demonstrar que o amor não tem limites.
É doação total. Nele nós temos a oblação da humanidade inteira aceita por Deus.
Olhando-o, pendente da cruz, ou seja, aceitando suas coordenadas de amor,
estamos salvos, pois, nossa vida, e a de toda a humanidade só tem sentido e
salvação quando vivida na doação total do amor.
Na cruz de Jesus
está o segredo da vida de doação. Assumida com a interajuda de uns com os
outros, temos a chave da revelação do tesouro escondido dentro de nós para
solucionarmos os problemas da caminhada. Ajudando a carregar o peso dos
problemas e dificuldades do semelhante encontramos a razão de ser de
nosso relacionamento de irmãos e irmãs. Jesus mostra isso sobejamente. Sua
vida, feito um de nós, foi somente doação, ajuda ao erguimento dos caídos em
seus sofrimentos e dificuldades.
Esse período
quaresmal desemboca na realidade da ressurreição do Senhor. Caminhando com Ele,
imitando-o e realizando o que nos ensina, temos a certeza de que não caminhamos
em vão com nossa solidariedade em relação a quem precisa de nossa ajuda.
Afinal, nossas renúncias de conforto exagerado e a doação de nosso tempo para
servirmos quem não tem nenhum apoio para viver dignamente, serão recompensadas
já na terra e, um dia, plenamente na eternidade. Se continuarmos a viver como
pagãos, só buscando nossos interesses, fazemos guerras, injustiças ,
deterioração do meio ambiente e todo tipo de insanidade, com desvantagem para
todos.
Superamos os
venenos das serpentes dos ódios e da falta de amor, com o olhar cheio de
esperança para aquele que se deixou crucificar para que também nós nos
despojemos de toda maldade e todo o egoísmo. Superamos todo tipo de violência e
injustiça.
O evangelista
lembra: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto assim é
necessário que o Filho do homem seja levantado” (João3,14). Todos os que nele
colocarem fé alcançarão a vida plena. Nossa fé nele vem corroborada justamente
na sua superação da morte, através da qual Ele nos prova suficientemente sua
natureza divina. Ele nos mostra que somente somos divinizados quando vivemos de
forma profundamente humana com o semelhante.
Dom José Alberto
Moura - Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
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Fonte: www.cnbbleste2.org.br Ilustração: radiorainhadapaz.com.br
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