"A Igreja não é nossa, mas é de Deus"
Medellín (RV) –
O terceiro dia do Papa Francisco na Colômbia é dedicado inteiramente a
Medellín, considerada a ‘cidade da eterna primavera’ pelo seu clima ameno. É a
capital do departamento de Antioquia; desde o século V a.C., aquela área, do
Vale de Aburrá, foi habitada por indígenas. A partir do início do século XX,
tornou-se o principal centro cultural do país, graças a importantes indústrias
de produção têxtil. É ali também que são cultivadas orquídeas, existe uma
grande atividade cultural e científica e o reconhecimento de ‘cidade
universitária’.
O Papa presidiu
a missa no aeroporto Enrique Olaya Herrera, na área metropolitana de
Medellín. Cerca de 800 mil pessoas participaram da cerimônia, muitas das quais
passaram a noite no local, debaixo de uma fina chuva. Sua homilia começou inspirando-se no tema escolhido para
este dia. “A vida cristã como discipulado”.
Francisco
indicou três atitudes que devemos plasmar na nossa vida de discípulos:
A
primeira: ir ao essencial.
Isto significa
caminhar em profundidade rumo ao que conta e tem valor para a vida. O nosso
discipulado deve partir de uma experiência viva de Deus e do seu amor, é
aprendizagem permanente através da escuta da sua Palavra:
“E esta Palavra,
como ouvimos, impõe-nos cuidar das necessidades concretas dos nossos irmãos:
pode ser a fome de quem vive ao nosso lado ou a doença”, explicou.
A segunda
palavra: renovar-se.
A renovação não
nos deve meter medo, mas implica sacrifício e coragem, não para nos
considerarmos melhores ou impecáveis, mas para respondermos melhor à chamada do
Senhor:
“E na Colômbia,
há tantas situações que reclamam, dos discípulos, o estilo de vida de Jesus,
particularmente o amor traduzido em atos de não-violência, de reconciliação e
de paz”.
A terceira
palavra: envolver-se.
Envolver-se,
ainda que para alguns isso pareça sujar-se, manchar-se. Também hoje nos é
pedido que cresçamos em ousadia, numa coragem evangélica que brota de saber que
são muitos os que têm fome, fome de Deus, fome de dignidade, porque dela foram
despojados.
“Não podemos ser cristãos
que levantam continuamente a bandeira de «Passagem Proibida» |
“Não podemos ser
cristãos que levantam continuamente a bandeira de «Passagem Proibida», nem
considerar que esta parcela é minha, apoderando-me de algo que absolutamente
não é meu. A Igreja não é nossa, é de Deus”, completou.
Francisco
lembrou que São Pedro Claver, que celebramos hoje na Liturgia, bem
compreendeu isto. «Escravo dos negros para sempre»: foi o seu lema de vida,
porque compreendeu, como discípulo de Jesus, que não podia ficar indiferente
perante o sofrimento dos mais abandonados e ultrajados do seu tempo, mas tinha
de fazer algo para o aliviar.
Terminando a
reflexão, o Papa exortou a Igreja na Colômbia a comprometer-se, com mais
ousadia, na formação de discípulos missionários, como foi indicado pelos Bispos
reunidos em Aparecida no ano de 2007:
“Discípulos que
saibam ver, julgar e agir, como propunha aquele documento latino-americano que
nasceu nestas terras (cf. Medellín, 1968). Discípulos missionários que
sabem ver sem miopias hereditárias; que examinam a realidade com os olhos e o
coração de Jesus, e julgam a partir daí. E que arriscam, atuam,
comprometem-se”. (cm)
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Papa Francisco:
"Jesus não abandona as crianças, quer estar perto delas!"
Medellín (RV) –
Após celebrar a missa no Aeroporto Enrique Herrera e almoçar no Seminário
conciliar de Medellín, o Papa Francisco se dirigiu ao Lar San José, uma
casa-família administrada pela diocese para crianças vítimas de violência e
abandono. O instituto oferece assistência médica e psicológica e formação
escolar para que superem as dificuldades e os traumas sofridos.
A Casa faz parte
da Fundação criada pela Companhia de Jesus na Espanha em 1941, após o
conflito armado naquele país, para ajudar órfãos de guerra e se alastrou a
outros países da América Latina.
O Papa foi
recebido por uma centena de crianças, duas das quais lhe ofereceram flores e o
acompanharam até o pátio central, aonde o Pontífice as depôs, aos pés da
estátua de São José.
"Jesus não abandona as crianças mas quer estar perto delas" |
Depois de ouvir
as palavras do Diretor da Fundação e o testemunho da menina Cláudia Yesenia, e
assistir a uma breve apresentação de cantos, o Papa fez o seu discurso.
Francisco
refletiu sobre o sofrimento injusto de tantos meninos e meninas em todo o mundo
que foram e continuam a ser vítimas inocentes da maldade de alguns e disse:
“Também o Menino
Jesus foi vítima do ódio e da perseguição; também Ele teve que fugir com a sua
família, deixar a sua terra e a sua casa para escapar da morte. Ver as crianças
sofrer faz doer a alma, porque as crianças são os prediletos de Jesus. Não
podemos aceitar que sejam maltratadas, que sejam privadas do direito de viver a
sua infância com serenidade e alegria, que lhes seja negado um futuro de
esperança”.
Consolando-as, o
Papa assegurou que “Jesus não abandona ninguém que sofre, e muito menos os
meninos e meninas, que são os seus preferidos”.
“Esta casa –
prosseguiu – é uma prova do amor que Jesus tem por vocês e de seu desejo de
estar muito perto de vocês. Esta casa é um Lar e aqui existe o calor deuma
família, vocês são amados, protegidos, aceitos, cuidados e acompanhados”.
O Papa lembrou,
irmãos e irmãs, religiosos e leigos, que neste e nos outros Lares acolhem e
cuidam de crianças que desde pequenas experimentaram o sofrimento e a amargura, duas
realidades que nunca devem faltar, porque fazem parte da identidade cristã: o
amor que sabe ver Jesus presente nos mais pequeninos e frágeis, e o dever
sagrado de levar as crianças a Jesus.
“Que Jesus e
Maria, juntamente com São José, os acompanhem e protejam, os encham de ternura,
alegria e fortaleza”, disse, por fim, comprometendo-se a rezar para que,
neste ambiente de carinho familiar, cresçam em amor, paz e felicidade, podendo
assim ir curando as feridas do corpo e do coração
Antes de deixar
a Instituição, Francisco deixou como lembrança uma escultura da Sagrada Família
realizada artesanalmente em madeira, entalhada com uma manufatura de tradição
secular. (cm)
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Assista:
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Papa ao clero:
Cobiça pelo poder e corrupção distorcem as vocações da Igreja
Medellín (RV) –
No último compromisso deste sábado (9), em Medellín, o Papa Francisco encontrou
sacerdotes, consagrados, seminaristas e seus familiares na Praça dos Touros de
“La Macarena”.
Para um público
formado pelo clero, o Papa Francisco começou seu pronunciamento fazendo referência ao Evangelho de João, no
contexto da Última Ceia de Jesus. Era noite “eucarística”, de amor, mas também
de tensão, e o Pontífice sugeriu que aquele momento fosse repetido ali, em
Medellín, depois de ouvir os testemunhos da história viva de Jesus, em
“vocações genuínas”, através dos 14 anos de vida consagrada da carmelita
contemplativa, Ir. Leidy de São José; de María Isabel Arboleda Pérez, da
Associação de Mães e Sacerdotes e Seminaristas, ativa há 24 anos; e do Pe. Juan
Felipe Escobar, da Arquidiocese de Medellín, que trabalha nas periferias da
cidade, anunciando o Evangelho.
“Como diz o
Documento de Aparecida, ‘conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa
pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e
fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria’ (n. 29). [...] Por
natureza, os jovens são ricos de aspirações e, apesar de assistirmos a uma
crise do compromisso e dos laços comunitários, são muitos os jovens que, à
vista dos males do mundo, se mobilizam conjuntamente e se dedicam a diferentes
formas de militância e voluntariado. Quando o fazem por amor de Jesus,
sentindo-se parte da comunidade, tornam-se «caminheiros da fé», felizes por
levar Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra (cf.
Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 107).”
Papa no encontro com a vida consagrada colombiana em Medellín |
O Papa Francisco
lembrou, assim, da videira mencionada por Jesus no texto proclamado no
encontro, que é a videira do “povo da aliança”: às vezes expressa uma alegria,
outras, uma desilusão, mas jamais o desinteresse. O Pontífice, então,
questionou:
“Como é a terra,
o alimento, o suporte onde cresce esta videira na Colômbia? Em que contextos
são gerados os frutos das vocações de especial consagração? Certamente em
ambientes cheios de contradições, de luzes e sombras, de situações relacionais
complexas. Gostaríamos de contar com um mundo de famílias e vínculos mais
serenos, mas somos parte desta crise cultural; e é no meio dela, contando com
ela, que Deus continua a chamar. [...] Desde o início, foi assim: Deus
manifesta a sua proximidade e a sua eleição; Ele muda o curso dos
acontecimentos, chamando homens e mulheres na fragilidade da história pessoal e
comunitária. Não tenhamos medo! Nesta terra complexa, Deus sempre fez o milagre
de gerar cachos bons, como as torradas para o café da manhã. Que não faltem
vocações em nenhuma comunidade, em nenhuma família de Medellín!”
A videira, disse
o Papa, tem a caraterística de ser verdadeira. “Ora, a verdade não é algo que
recebemos, como o pão ou a luz, mas brota de dentro. Somos povo eleito para a
verdade, e a nossa vocação deve acontecer na verdade”, prosseguiu.
Mas os percursos
podem ser manifestados pela “secura e pela morte”, impedindo o fluxo da seiva
que alimenta e dá vida. Por isso, o Papa recomenda atenção para que a condição
religiosa não seja aproveitada para se obter benefícios próprios e materiais.
“As vocações de
especial consagração morrem quando querem nutrir-se de honrarias, quando são
impelidas pela busca de tranquilidade pessoal e promoção social, quando a
motivação é ‘subir de categoria’, apegar-se a interesses materiais chegando
mesmo ao erro da avidez de lucro. Como já disse noutras ocasiões, o diabo entra
pela carteira. Isto não diz respeito apenas ao início, todos nós devemos estar
atentos porque a corrupção nos homens e mulheres que estão na Igreja começa
assim, pouco a pouco. [...] O veneno da mentira, da dissimulação, da
manipulação e do abuso do povo de Deus, dos mais frágeis e especialmente dos
idosos e das crianças não pode ter lugar na nossa comunidade; são ramos que
decidiram secar e que Deus nos manda cortar.”
Os bons exemplos
colombianos foram citados pelo Papa Francisco, como o da Santa Laura Montoya,
uma obra missionária a favor dos indígenas, e do Beato Mariano de Jesús Euse
Hoyos, um dos primeiros alunos do Seminário de Medellín.
O Santo Padre
convidou, então, a cortar todos os fatores que distorcem a vocação e a
“permanecer em Jesus”, o que não é uma “atitude meramente passiva”, mas pode
ser efetiva de três maneiras: 1. Tocando a humanidade de Cristo; 2.
Contemplando a sua divindade; 3. Vivendo na alegria.
Tocar a
humanidade, “com o olhar e os sentimentos de Jesus, que contempla a realidade
não como juiz, mas como bom samaritano”, e também com “os gestos e palavras de
Jesus, que expressam amor aos vizinhos e a busca dos afastados”.
Contemplar a
divindade de Cristo, “suscitando e cultivando a estima pelo estudo, que aumenta
o conhecimento de Cristo” e, assim, privilegiando “o encontro com a Sagrada
Escritura”: “gastemos tempo numa leitura oral da Palavra, ouvindo nela o que
Deus quer para nós e para o nosso povo”. Para contemplar a divindade, o Papa
também sugere “fazer da oração a parte fundamental da nossa vida e do nosso
serviço apostólico”.
“A oração nos
liberta das escórias do mundanismo, ensina-nos a viver com alegria, a escolher
a fuga do superficial, num exercício de liberdade autêntica. Arranca-nos da
tendência a nos concentrar sobre nós mesmos, fechados numa experiência
religiosa vazia e leva a nos colocar docilmente nas mãos de Deus para cumprir a
sua vontade e corresponder ao seu plano de salvação. E, na oração, adorar.
Aprender a adorar em silêncio.”
E, finalmente, permanecer
em Cristo para viver na alegria, porque, segundo o Papa, “a nossa alegria
contagiante deve ser o primeiro testemunho da proximidade e do amor de Deus”.
(AC)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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