“Tudo com missão, nada sem missão”
“Impulsionados
pela Santíssima Trindade, viveremos esta nossa vocação na sinodalidade e na
comunhão, comprometidos com a Igreja em saída que promove o encontro e anuncia
a alegria do Evangelho a todos”, diz um dos trechos da mensagem.
Organizado pelas
Pontifícias Obras Missionárias (POM), em parceria com a Comissão Episcopal
Pastoral para Animação Missionária da CNBB e a arquidiocese de Olinda e Recife,
o Congresso teve início na quinta-feira, 7, em Recife (PE), e reuniu 700
pessoas de todo o Brasil. Leia, abaixo, a íntegra da mensagem.
MENSAGEM DO 4º
CONGRESSO MISSIONÁRIO NACIONAL
ÀS COMUNIDADES ECLESIAIS DO BRASIL
Vocês serão
minhas testemunhas até os confins da terra (cf. At 1,8).
Reunidos no 4º
Congresso Missionário Nacional, de 7 a 10 de setembro de 2017, no Colégio
Damas, em Recife (PE), nós, os 700 missionários e missionárias, vindos de todas
as regiões do Brasil, fomos fortemente desafiados a testemunhar “A alegria do
Evangelho para uma Igreja em saída”. A Arquidiocese de Olinda e Recife, com
calorosa e fraterna acolhida, levou nosso Congresso para as ruas, antes mesmo
de ele ser aberto, com a realização da Semana Missionária, nos seus oito
vicariatos, atitude pioneira que enriqueceu nosso encontro. Seremos sempre
agradecidos a esta Arquidiocese pela generosidade e disponibilidade que nos
dispensou, nesses dias, no autêntico espírito de serviço amoroso e gratuito.
Aprendemos com o
Papa Francisco que “a alegria é o bilhete de identidade do cristão”. Essa
alegria foi o espírito que marcou os quatro dias em que estivemos juntos. Ela
nasce do Evangelho que liberta e salva; expressa-se na sinodalidade e na
comunhão que impulsionam a vida e a missão da Igreja; anima o testemunho e o profetismo
que, a partir da cruz de Cristo, apontam para o nosso compromisso de discípulos
missionários e missionárias.
Contemplar a
realidade com o olhar de discípulo missionário
O exemplo dos
mártires e profetas, como Dom Helder Câmara, ajudou-nos a olhar para o Brasil,
mergulhado numa profunda crise que fere, no coração e na alma, a nós e a tantos
irmãos e irmãs empobrecidos, excluídos e descartados.
Como se
estivesse anestesiada, a população brasileira assiste ao fortalecimento de
políticas neoliberais que retiram direitos e agravam a situação dos
trabalhadores/as, dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores e
dos que vivem em outras periferias geográficas e existenciais. As reformas
trabalhista, previdenciária, política e da educação, bem como a retomada das
privatizações mostram que o governo e o Congresso Nacional viraram as costas ao
povo. A corrupção e a falta de ética, que atingem tanto a classe política,
quanto empresarial e outros setores da sociedade, têm levado o desencanto e a
desesperança aos brasileiros e brasileiras.
Causam-nos
indignação a devastação da Amazônia, a degradação da natureza e a violência que
ceifa a vida de lideranças, como o assassinato do casal Terezinha Rios Pedrosa
e Aloísio da Silva Lara, ocorrido no Mato Grosso nesta semana, e o massacre de
indígenas, em agosto deste ano, no Vale do Javari, Amazonas, divulgado enquanto
acontecia o Congresso. O decreto do governo que extingue a Reserva Nacional do
Cobre e Associados (Renca) é um duro golpe nos direitos dos povos indígenas e
no bioma amazônico.
Essa realidade,
longe de nos desanimar, cobra-nos uma ação missionária vigorosa,
transformadora, libertadora. Revigorados pelo espírito da Conferência de
Medellín que, há 50 anos, deu à Igreja Latino-americana o rosto de uma Igreja
em saída, pobre, missionária e pascal, somos motivados a vencer a tentação da
indiferença, do comodismo, do desencanto, do desânimo e do clericalismo
presentes em muitas de nossas comunidades. Somos guiados pela fé e pela
esperança cristãs capazes de reacender, no coração de todos, a chama do amor
pela vida, pela justiça e pela paz.
Discernir os
caminhos da missão que gera alegria
A palavra de
Deus é luz, sabedoria e força que nos tornam discípulos missionários e
missionárias ousados e criativos, mais capazes de colaborar com a transformação
de estruturas caducas e a construção de uma nova sociedade, que seja sinal do
Reino de Deus em nosso meio. Os documentos da Igreja são também fonte salutar
que nos ajudam a compreender melhor a natureza missionária da Igreja. Nesse
particular, destacamos as palavras e gestos do Papa Francisco, base do conteúdo
deste Congresso. É surpreendente como ele se coloca à nossa frente, a passos
largos e rápidos. Ele é, verdadeiramente, um profeta missionário que nos anima na
caminhada.
A missão
constitui verdadeiro kairòs, tempo propício de salvação na história. Somos
provocados a sair de nós mesmos, deixar nossa terra, tirar as sandálias para
“pisar” o solo sagrado do outro, como hóspedes, aqui e além-fronteiras. A
proximidade e a reciprocidade levam ao encontro com o outro que faz contemplar
o horizonte escatológico do Reino de Deus.
Na missão,
animam-nos o testemunho e o profetismo de tantas mulheres e homens que
encontraram sua alegria no Evangelho e a partilharam com os prediletos de Deus
na radicalidade da doação de sua vida. Os profetas e mártires são exemplo de
coragem e de fidelidade a Cristo e ao Evangelho até o extremo de entregar a
própria vida: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus
amigos” (Jo 15, 13). Sustentados pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, os
missionários e missionárias têm, hoje e sempre, a responsabilidade de não
deixar morrer a profecia, lembrando que “o sangue dos mártires é semente de
novos cristãos”.
Na missão,
Aquele que chama e envia, bem como a mensagem enviada e seu destinatário são
maiores que o enviado, isto é, o missionário. Sem este, no entanto, não há quem
seja enviado e a mensagem do amor de Deus não chega a seus destinatários. O
missionário, porém, só cumpre autenticamente a missão se caminhar junto com
outros missionários, vencendo a tentação do monopólio da Boa Nova, reconhecendo
a riqueza da unidade na diversidade e ultrapassando os estreitos limites da
Igreja particular para lançar-se ao mundo. No cumprimento da missão, os
evangelizadores se lembrem de que sua alegria não está nos prodígios que possam
realizar, no sucesso que venham a alcançar, mas em saber que seus nomes estarão
inscritos na “memória afetiva de Deus” por terem sido fieis mensageiros do Evangelho
(cf. Lc 10,17-20).
Comprometer-se
com Jesus Cristo e o Reino de Deus para uma Igreja em saída
O 4º Congresso
Missionário Nacional foi o encontro de irmãs e irmãos que partilharam sua fé,
suas lutas, suas angústias, seus sonhos, suas esperanças. Durante todo o tempo,
sentimos agir em nós o Espírito Santo, protagonista da missão, reforçando nossa
convicção de que ser missionário é uma graça e uma responsabilidade. Por isso,
renovamos nosso compromisso com a Infância e Adolescência Missionária e com a
Juventude Missionária, em união com as demais expressões juvenis, a fim de que
crianças, adolescentes e jovens sejam protagonistas da missão onde quer que
estejam.
Reafirmamos a
vocação dos cristãos leigos e leigas como sujeitos na missão. Confirmamos o
testemunho das consagradas e consagrados, dos seminaristas, dos ministros
ordenados – diáconos, padres e bispos – que cada vez mais assumem a missão como
resposta ao chamado de Deus. Impulsionados pela Santíssima Trindade, viveremos
esta nossa vocação na sinodalidade e na comunhão, comprometidos com a Igreja em
saída que promove o encontro e anuncia a alegria do Evangelho a todos.
Assumimos a tarefa de apostar, cada vez mais, nos espaços que nos ajudam a ser
uma Igreja sinodal, fortalecendo os organismos e conselhos missionários em
todas as instâncias.
Para a vivência
da missionariedade é imprescindível a atitude da escuta. Contribui para isso a
formação missionária contínua que alimenta nossa espiritualidade, cria a
cultura da missão e contribui para que todos os batizados assumam sua vocação
missionária. Assim, onde estivermos iremos ecoar o refrão que ficou gravado em
nossos corações: “Tudo com missão, nada sem missão”.
Deixemos arder
em nosso peito o apelo do Papa Francisco: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos
a vida de Jesus Cristo! (…) Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova
o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas
normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos
sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus
repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mc 6, 37)” (EG, 49).
Maria, Mãe
Aparecida, comunicadora da alegria do Evangelho, caminhe conosco!
Recife, 10 de
setembro de 2017
Participantes do
4º Congresso Missionário Nacional.
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Fonte: cnbb.net.br
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