Lupa da Igreja está apontada ao esquecido e excluído
Cidade do
Vaticano (RV) – “Se quiseres encontrar Deus, procura-o onde Ele está escondido:
nos mais necessitados, nos doentes, nos famintos, nos presos", disse o
Papa Francisco, ao presidir este domingo na Basílica de São Pedro, a Missa por
ocasião do Jubileu dos Socialmente Excluídos.
Em sua homilia, o Santo Padre recordou que “neste mundo quase tudo
passa, como a corrente da água”, e as riquezas que permanecem, “seguramente são
duas: o Senhor e o próximo”, os bens maiores que devemos amar”. Neste sentido,
observou, "a lupa da Igreja está apontada ao irmão esquecido e
excluído".
"Quais são as riquezas que não desaparecem?Seguramente duas:
o Senhor e o próximo. Estes são os bens maiores, que havemos de amar"
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As leituras do
dia nos remetem – disse Francisco - precisamente “àqueles que têm confiança no
Senhor, que depõem a sua esperança n’Ele, escolhendo-O como bem supremo da vida
e recusando-se a viver só para si mesmos e seus interesses. Para eles, pobres
de si mas ricos de Deus, brilhará o sol da sua justiça: são os pobres em
espírito, a quem Jesus promete o reino dos céus e dos quais Deus, pela boca do
profeta Malaquias, declara: «são meus»”.
As leituras do
dia – explica o Papa – contrapõe os que colocam a sua esperança no Senhor e os
soberbos, “aqueles que puseram na sua autossuficiência e nos bens do mundo a
segurança da vida”. E nos interpelam sobre o sentido último da existência:
“Onde busco a
minha segurança? No Senhor ou noutras seguranças que não são do agrado de Deus?
Qual é a direção da minha vida, para onde olha o meu coração? Para o Senhor da
vida ou para as coisas que passam e não saciam?”.
Da mesma forma o
Evangelho de Lucas fala de “conflitos, carestias, convulsões na terra e no
céu”. Mas “Jesus não quer assustar – é o alerta de Francisco - mas dizer-nos
que tudo aquilo que vemos passa inexoravelmente. Mesmo os reinos mais
poderosos, os edifícios mais sagrados e as realidades mais firmes do mundo não
duram para sempre; mais cedo ou mais tarde, caem”.
Diante das
palavras de Jesus sobre o final do tempos, as pessoas ficam curiosas em saber
”Quando sucederá isto? E qual será o sinal?”:
“Sempre somos
impelidos pela curiosidade: quer-se saber quando e receber sinais. Esta
curiosidade, porém, não agrada a Jesus. Pelo contrário, exorta a não nos
deixarmos enganar pelos pregadores apocalíticos. Quem segue Jesus não presta
ouvidos aos profetas da desgraça, à futilidade dos horóscopos, às previsões que
amedrontam, distraindo daquilo que conta. O Senhor convida a distinguir, dentre
as muitas vozes que se ouvem, aquilo que vem d’Ele e o que vem do falso espírito.
É importante distinguir entre o sábio convite que Deus nos dirige cada dia e o
clamor de quem se serve do nome de Deus para assustar, sustentando divisões e
medos”.
Diante dos
“cataclismas de cada época” – explica o Santo Padre - Jesus nos pede para
sermos firmes e perseverantes no bem, “com plena confiança em Deus que não
desilude”.
Hoje, no
entanto, somos interpelados sobre o sentido de nossa existência. As leituras do
dia – disse o Papa – se apresentam “como uma peneira no meio do fluxo de nossa
vida”:
“Elas
lembram-nos que, neste mundo, quase tudo passa, como a corrente da água; mas há
realidades preciosas que permanecem, como uma pedra preciosa numa peneira. E o
que é que resta? O que é que tem valor na vida? Quais são as riquezas que não
desaparecem? Seguramente duas: o Senhor e o próximo. Estes são os bens maiores,
que havemos de amar. Tudo o resto – o céu, a terra, as coisas mais belas, mesmo
esta Basílica – passa; mas não devemos excluir da vida Deus e os outros”.
“E todavia neste
dia jubilar que nos fala de exclusão – sublinhou - imediatamente vêm à
mente pessoas concretas; não coisas inúteis, mas pessoas preciosas”:
“A pessoa
humana, colocada por Deus no cume da criação, muitas vezes é descartada, porque
se prefere as coisas que passam. Isto é inaceitável, porque o ser humano é o
bem mais precioso aos olhos de Deus. E é grave que nos habituemos a este
descarte; é preciso preocupar-se quando se anestesia a consciência, já não
fazendo caso do irmão que sofre ao nosso lado nem dos problemas sérios do
mundo, que se reduzem a um refrão já ouvido nos sumários dos telejornais”.
Dirigindo-se aos
“socialmente excluídos”, o Papa recorda que Deus não se detém nas aparências,
mas fixa o seu olhar nos humildes de coração contrito, em tantos pobres Lázaros
de hoje. “Como nos faz mal fingir que não nos damos conta do Lázaro que é
excluído e descartado!”, adverte:
“Temos um
sintoma de esclerose espiritual, quando o interesse se concentra nas coisas a
produzir, em vez de ser nas pessoas a amar. Assim nasce a dramática contradição
dos nossos tempos: quanto mais crescem o progresso e as possibilidades – e isto
é bom – tanto maior é o número daqueles que não lhes podem chegar. É uma grande
injustiça que nos deve preocupar muito mais do que saber quando e como será o fim
do mundo. Com efeito, não se pode estar tranquilo em casa, enquanto Lázaro
jazer à porta; não há paz em casa de quem está bem, quando falta justiça na
casa de todos”.
Ao recordar que
este domingo são fechadas as portas da Misericórdia em Catedrais e Santuários
em todo o mundo, Francisco exorta para pedirmos “a graça de não fechar os olhos
perante Deus que nos olha e o próximo que nos interpela”:
“Abramos os
olhos a Deus, purificando a visão do coração das representações enganadoras e
pavorosas, do deus da força e dos castigos, projeção da soberba e dos medos
humanos. Olhemos com confiança para o Deus da misericórdia, com a certeza de
que «o amor jamais passará». Renovemos a esperança da vida verdadeira a que
somos chamados, aquela que não passará e que nos espera em comunhão com o
Senhor e com os outros, numa alegria que durará para sempre, sem fim. E abramos
os olhos ao próximo, sobretudo ao irmão esquecido e excluído. Para ele está
apontada a lupa da Igreja; que o Senhor nos livre de a voltarmos para nós.
Afaste-nos das quimeras que nos distraem, dos interesses e dos privilégios, do
apego ao poder e à glória, da sedução do espírito do mundo”.
De modo
particular a nossa Mãe Igreja «olha para toda a humanidade que sofre e chora,
pois ela sabe que esta lhe pertence, por direito evangélico», disse o
Papa ao concluir, citando Paulo VI. E completou:
“Por direito e
também por dever evangélico, porque é nossa tarefa cuidar da verdadeira riqueza
que são os pobres, como bem no-lo recorda uma antiga tradição referente ao
mártir romano São Lourenço. Este, antes de suportar um martírio atroz por amor
do Senhor, distribuiu os bens da comunidade aos pobres, por ele designados como
verdadeiros tesouros da Igreja”. Que o Senhor nos conceda a graça de olhar sem
medo para aquilo que conta, dirigir o coração para Ele e para os nossos
verdadeiros tesouros. (JE)
Assista:
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Francisco:
Manter firme a esperança na eternidade
Após presidir na Basílica de São Pedro a Missa pelo Jubileu dos
Socialmente Excluídos, o Papa Francisco assomou à janela do apartamento
pontifício para a Oração mariana do Angelus.
Eis a íntegra de
sua reflexão:
“Queridos irmãos
e irmãs, bom dia!
A passagem
evangélica do dia (Lc 21,5-19) contém a primeira parte do discurso de Jesus
sobre os últimos tempos, na redação de São Lucas. Jesus o pronuncia enquanto se
encontra diante do templo de Jerusalém e se inspira nas expressões de admiração
das pessoas diante da beleza do santuário e de suas decorações. Então Jesus
diz: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”.
Podemos imaginar
o efeito destas palavras sobre os discípulos de Jesus! Ele, porém, não quer
ofender o templo, mas fazer entender a eles, e também a nós hoje, que as
construções humanas, mesmo as mais sagradas, são passageiras e não é preciso
colocar nelas a nossa segurança. Quantas presumíveis certezas na nossa vida que
pensávamos serem definitivas e depois, revelaram-se efêmeras! Por outro lado,
quantos problemas nos pareciam sem saída e depois, foram superados!
"Sob o olhar misericordioso do Senhor se desenvolve a história
no seu fluir incerto e no seu entrecruzar do bem e do mal"
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Jesus sabe que
sempre tem alguém que especula sobre a necessidade de segurança. Por isto
disse: “Cuidado para não serdes enganados”. E alerta para os tantos falsos
messias que se apresentariam. Ainda hoje existem. E acrescenta para não se
deixarem aterrorizar e desorientar pelas guerras, revoluções e calamidades,
porque também isto faz parte da realidade deste mundo. A história da Igreja é
rica de exemplos de pessoas que suportaram tribulações e sofrimentos terríveis
com serenidade, porque tinham a consciência de estarem firmes nas mãos de Deus.
Ele é um Pai fiel e cuidadoso, que nunca abandona os seus filhos. Deus não nos abandona
nunca. Nunca. Esta certeza devemos ter no coração. Deus não nos abandona
nunca”.
Permanecer
firmes no Senhor, caminhar na esperança, trabalhar para construir um mundo
melhor, não obstante as dificuldades e os acontecimentos tristes que marcam a
existência pessoal e coletiva, é isto que realmente conta; é isto que a
comunidade cristã é chamada a fazer para ir de encontro ao “dia do Senhor”.
Precisamente
nesta perspectiva, queremos colocar o compromisso que nasce destes meses em que
vivemos com fé o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que hoje se conclui
nas Dioceses de todo o mundo com o fechamento das Portas Santas nas igrejas
catedrais.
O Ano Santo nos
solicitou, por um lado, manter fixo o olhar no cumprimento do Reino de Deus e,
por outro, a construir o futuro nesta terra, trabalhando para evangelizar o
presente, de forma a fazer dele um tempo de salvação para todos.
Jesus no
Evangelho nos exorta a ter bem firme na mente e no coração, a certeza de que
Deus conduz a nossa história e conhece o fim último das coisas e dos eventos.
Sob o olhar misericordioso do Senhor se desenvolve a história no seu fluir
incerto e no seu entrecruzar de bem e de mal. Mas tudo o que acontece é
conservado nele; a nossa vida não pode se perder, porque está em suas mãos.
Rezemos a Virgem
Maria, para que nos ajude, em meio a acontecimentos alegres e tristes deste
mundo, a manter firme a esperança na eternidade e no Reino de Deus. Deus nunca
nos abandona”. (JE)
Assista:
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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