Quando o poema desperta
Faz alguns anos,
por razões várias, eu andava desalentado com meus trabalhos e projetos. Tinha a
sensação de que tudo era muito custoso e difícil. Deparava-me com críticas que
entendia muito estreitas. Considerava que não conseguia dar as razões dos
procedimentos que defendia como necessários na missão a mim confiada. Isso já
tinha ocorrido em outros momentos de minha vida. E se hoje escrevo sobre isso,
é porque vejo que o mesmo ocorre com grande número de pessoas.
Eu escutei esse
poema apenas uma vez naquela viagem. Mas suas palavras foram de uma
contundência inacreditável. Provocaram em mim um misto de consolo e de ânimo,
de curiosidade e apelo para escutá-lo novamente. Desse modo, pedi ajudas para
procurar o texto. Um amigo consultou o programa da rádio, encontrou o poema e me
enviou. Reli-o várias vezes. Falei dele com pessoas próximas. O poema
despertava em mim uma coragem nova. Aquela que se chama perseverança. Em mim, o
desânimo era vencido pela energia nova que brotava de meu interior. Convencido
estava que nada é fácil. Antes, tudo pede trabalho. Até mesmo para o poeta a
escrita é um ofício.
Vi em mim o
próprio cortador de pedras, insistente, incansável, perseverante a martelar a
própria vida. É preciso energia e determinação, como atitudes ascéticas para o
duro exercício de martelar. Pensei que eu mesmo poderia ser a pedra, resistente
a me abrir ao novo, a aceitar as surpresas da vida, a acolher as novidades
desconcertantes. Lembrei-me do processo cheio de detalhes da lapidação de
pedras preciosas. Na meditação imaginei Deus, que não desiste de nenhum de nós.
Tudo concorre para o êxito da graça.
Desde então
tenho sempre à vista esse poema e já o distribuí para centenas de pessoas, a
maioria delas participantes de retiros orientados por mim. Já passei por outros
momentos desanimadores, mas com a diferença de me relembrar sempre do cortador
de pedras. Nesse tempo de pandemia, quando avançam os meses de isolamento
social, quando permanecemos sob os protocolos dos cuidados sanitários e do
distanciamento, recordo-me desse poema que desperta em mim, mais uma vez, o
apelo para não desanimar em relação a nada. E o compartilho com você, que lê
esse pequeno artigo, na esperança de que as palavras desse poema despertem em
você a coragem de continuar, não obstante os desafios desse tempo, porque
haverá o momento de a pedra se abrir. A alegria de vê-la aberta alimentará o
desejo de continuar a tarefa de cortar outras pedras. E de prosseguir.
Dom João Justino
de Medeiros Silva - Arcebispo de Montes Claros
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