A presidência da CNBB divulgou, nesta segunda-feira, 5 de outubro, uma
nota sobre a terceira encíclica lançada pelo Papa Francisco no último dia 4 de
outubro: Fratelli Tutti. No documento, os bispos afirmam que a
Encíclica é um convite ao diálogo generoso a ser acolhido por todas as pessoas,
como possibilidade para encontrar novos itinerários, a partir das indicações do
Santo Padre para investimentos na dimensão universal da doutrina do amor e na
melhor política – fundamentada na caridade social.
A presidência da CNBB afirma que a Igreja no Brasil acompanhou com muita atenção e alegria a assinatura e a publicação da Encíclica Fratelli Tutti. A nota também enaltece a coragem do Papa Francisco que, com sua voz profética, aponta para o esvaziamento das palavras que consolidaram o ideário de um mundo moderno – liberdade, justiça, democracia e unidade. “O Santo Padre também adverte a respeito do atual sistema econômico: não gera vida. Ao contrário disso, aprofunda desigualdades sociais”, diz um trecho do documento.
Leia a nota na íntegra:
Encíclica Fratelli Tutti
A Igreja no Brasil acompanhou com muita atenção e
alegria a assinatura e a publicação da Encíclica Fratelli Tutti. A apresentação
da Encíclica, em cerimônia simples, mas muito significativa, ocorreu no túmulo
de São Francisco de Assis, inspiração para o magistério do Papa Francisco.
O Santo Padre, que já havia indicado a necessidade
de a Igreja sair rumo às periferias existenciais, agora nos pede para vencer as
sombras de um mundo fechado. Um caminho que exige investimentos na dimensão
universal da doutrina do amor e na melhor política – fundamentada na caridade
social.
A Encíclica é publicada em contexto oportuno,
quando se percebe que muitas sociedades, com seus líderes e projetos, ao invés
de promoverem o bem comum, geram mais divisão e polarizações, criando abismos
entre grupos. Uma divisão que se reflete e é ampliada nas plataformas e redes
sociais.
Fratelli Tutti é um convite ao diálogo generoso a
ser acolhido por todas as pessoas. Eis a possibilidade para encontrar novos
itinerários, a partir das indicações do Santo Padre. Louvado seja Deus pela
coragem do Papa Francisco que, com sua voz profética, aponta para o
esvaziamento das palavras que consolidaram o ideário de um mundo moderno –
liberdade, justiça, democracia e unidade. O Santo Padre também adverte a
respeito do atual sistema econômico: não gera vida. Ao contrário disso,
aprofunda desigualdades sociais.
A Encíclica é um convite a cada pessoa para
efetivamente participar na reabilitação de uma sociedade que precisa curar as
suas feridas. O texto do Papa Francisco estimula a reflexão e as ações
concretas ante aqueles que permanecem caídos e feridos, nossos irmãos. Uma
pergunta interpelante: seguiremos o exemplo do Bom Samaritano ou permaneceremos
indiferentes à dor de nosso semelhante?
A Igreja no Brasil vai se dedicar à Encíclica e,
inspirada em suas reflexões, trilhará novos percursos para ajudar na construção
da Fraternidade Universal. Um compromisso com a promoção do bem comum, dos
valores universais e da nossa fé.
Brasília-DF, 5 de outubro de 2020
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente
Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral
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Sobre Encíclica:
"Fratelli tutti", forte documento para
a renovação moral da política e da economia, dizem bispos
EUA
A Encíclica
“desafia-nos a superar o individualismo da nossa cultura e a servir o próximo
com amor, vendo Jesus Cristo em cada pessoa e buscando uma sociedade de justiça
e misericórdia, compaixão e interesse recíproco", afirma o presidente da
Conferência Episcopal dos Estados Unidos.
Vatican News - A Encíclica "Fratelli tutti” sobre a fraternidade e a amizade social oferece "uma visão poderosa e urgente para a renovação moral da política e da economia, do nível local ao global, chamando-nos a construir um futuro comum que realmente sirva ao bem da pessoa humana”.
É o que afirma em
uma nota o arcebispo de Los Angeles e presidente da Conferência Episcopal dos
Estados Unidos, Dom José H. Gomez, ao saudar a terceira Encíclica do Papa Francisco,
divulgada no domingo, 4 de outubro. Um documento que representa “uma importante
contribuição à Doutrina Social da Igreja - escreve o prelado - e que oferece
“um ensinamento profundo e belo: Deus nosso Pai criou cada ser humano com igual
santidade e dignidade, com iguais direitos e deveres, e nosso Criador nos chama
a formar uma única família humana na qual vivemos como irmãos e irmãs”.
A Encíclica - frisa
Dom Gomez - “desafia-nos a superar o individualismo da nossa cultura e a servir
o próximo com amor, vendo Jesus Cristo em cada pessoa e buscando uma sociedade
de justiça e misericórdia, compaixão e interesse recíproco".
Por fim, do bispo
estadunidense, os votos de que “os católicos e todas as pessoas de boa vontade
reflitam” sobre o documento pontifício e assumam “um novo compromisso na busca
da unidade da família humana”.
Vatican News
Service – IP
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“Fratelli tutti”:
com
Francisco uma Encíclica à procura da fraternidade
O Papa assinou em
Assis uma nova Encíclica. O jornalista e vaticanista português Octávio Carmo
oferece-nos um primeiro comentário sobre este texto papal.
Rui Saraiva – Porto - Francisco de
Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do
futuro propondo um caminho de fraternidade. O Papa assinou em Assis neste
sábado dia 3 de outubro a Encíclica “Fratelli Tutti”, “Todos Irmãos”. Um
documento sobre “a fraternidade e a amizade social”.
O desafio da fraternidade
Desde o primeiro
dia do seu pontificado, que o Papa Francisco se apresentou ao mundo com a
palavra “irmãos”. Logo ali na noite da sua eleição, em Roma, a 13 de março de
2013: “Irmãos e irmãs, boa noite!” – disse.
E lançou um
desafio: “Comecemos este caminho, bispo e povo, um caminho de fraternidade e de
confiança entre nós.”
Depois da Encíclica
“Lumen Fidei”, em 2013 e da “Laudato Si”, em 2015, Francisco dirige-nos um
grande desafio. O desafio da fraternidade proposta por Jesus: amar o próximo
como a mim mesmo.
O jornalista e
vaticanista da Agência Ecclesia, Octávio Carmo, fez para o Vatican News um
primeiro comentário sobre a Encíclica do Papa.
“Fratelli tutti?”
“De Lampedusa a
Assis, passando por Paris e Abu Dhabi. ‘Fratelli Tutti’ deve ser a encíclica menos
romana de que tenho memória, em quase 20 anos de profissão e outros mais de
estudo, nesta área.
Tal como a Laudato
Si', em 2015, procurou responder com o conceito de ecologia integral aos
desafios das alterações climáticas, em pleno debate que levaria ao Acordo de
Paris, a encíclica sobre a fraternidade e a amizade social quer propor valores
fundamentais num mundo marcado pela pandemia. E oferecer uma resposta à questão
inicial de todo o edifício ético ocidental, vinda do próprio Deus: Onde está o
teu irmão?
Como vimos com a
trágica crise dos últimos meses, acima da dignidade humana têm estado valores
económicos, jogos políticos e interesses partidários. Mas a vida nunca é
relativa.
A este respeito,
recordo as perguntas que surgem no primeiro livro da Bíblia, o Génesis, que me
parecem fundadoras da ética ocidental: “Onde está o teu irmão?” e “Que [lhe]
fizeste?”.
O “interrogatório”
de Deus a Caim, após a morte do seu irmão Abel, condensa o apelo fundamental
que viria a ser sintetizado no ensinamento de Jesus Cristo: amar o próximo como
a si mesmo.
Outro momento
central do pontificado parece evidente na escolha do tema da nova encíclica: a
fraternidade humana. Na histórica viagem a Abu Dhabi, a 4 de fevereiro de 2019,
onde assinou com o imã de Al-Azhar uma declaração que condena a violência em
nome da religião, o Papa deixou uma frase que define a sua visão do diálogo
entre religiões e destas com a sociedade: “Hoje também nós, em nome de
Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única
família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca da
fraternidade”.
A pandemia
devolveu-nos a perceção de limite. Não estávamos prontos para isso, no frenesim
de 2020. Temos diante de nós o desafio de retirar consequências éticas e
antropológicas da passagem por esta situação: o que somos, quando chega o fim?
A transformação dos
mais vulneráveis em sujeitos dispensáveis é uma das marcas mais negativas (e
temo que seja permanente) deste tempo. Caímos na globalização da indiferença,
que o Papa denunciava na sua primeira viagem, carregada de simbolismo, em 2013,
à ilha de Lampedusa.
Habituamo-nos ao
sofrimento do outro. Uma crítica terrível, de Francisco, que nos convida agora
a redescobrir a amizade social, um conceito que une sujeitos e instituições na
construção de uma nova sociedade, marcada pela fraternidade. Fratelli Tutti,
como pedia São Francisco de Assis, irmão de todos.”
Octávio Carmo,
jornalista e vaticanista da Agência Ecclesia, com uma primeira leitura, sobre a
Encíclica do Papa Francisco dedicada ao tema da fraternidade.
Porque somos “todos
irmãos”.
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