A globalização da indiferença
"Para se vencer a indiferença é urgente fomentar uma cultura de solidariedade e misericórdia"
No entanto, como
disse o Papa Bento XVI, “a sociedade sempre mais globalizada torna-nos
vizinhos, mas não nos torna irmãos” (Caritas in veritate, 19). Esse alerta tem
a força de nos interpelar: existem, atualmente, inúmeras possibilidades de
contatos e de encontros entre as pessoas. Todavia, o que ocorre, já que tal
proximidade não resulta em maior fraternidade? Há que se pensar. Esse mundo
virtual tem o avesso perverso das notícias falsas, as fake news. Por outro
lado, cada vez mais os olhos se habituam a procurar incessantemente novas
imagens, sem se deter na atitude saudável da contemplação. A insaciabilidade
humana é despertada qual ferida que se alarga e adoece mais o corpo. O
Instagram parece acionar a iconofagia com uma voracidade que inibe qualquer desejo
místico de “fechar os olhos”.
As maravilhas da
inventividade humana têm ambivalências. Hoje pode-se ver, assistir, ler, saber
mais e seguir artistas, pensadores, figuras públicas... Sabe-se, no entanto,
que não necessariamente cresce o benquerer entre as pessoas. Há repúdios e
tentativa de controle sobre conteúdos de violência e de desrespeito à dignidade
humana e aos bens da criação. Mas a globalização da indiferença parece campear
sempre mais. Alerta-nos o Papa Francisco: “A primeira forma de indiferença na
sociedade humana é a indiferença para com Deus, da qual deriva também a
indiferença para com o próximo e a criação. Trata-se de um dos graves efeitos
dum falso humanismo e do materialismo prático, combinados com um pensamento
relativista e niilista. O homem pensa que é o autor de si mesmo, da sua vida e
da sociedade; sente-se autossuficiente e visa não só ocupar o lugar de Deus,
mas prescindir completamente d’Ele; consequentemente, pensa que não deve nada a
ninguém, exceto a si mesmo, e pretende ter apenas direitos” (Mensagem para o
XLIX Dia Mundial da Paz, 01.01.2016).
Para se vencer a
indiferença é urgente fomentar uma cultura de solidariedade e misericórdia.
Isso começa em sua família, desde o modo como você educa o uso crítico dos
meios de comunicação, como se atende quem bate à porta de sua casa, como seus
olhos e seu coração se sensibilizam com quem demanda a sua atenção.
Dom João Justino
de Medeiros Silva - Arcebispo Metropolitano de Montes Claros - MG
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