Fazer da Bíblia alimento diário do diálogo com o Senhor
Francisco
assinou nesta quarta-feira (3) a Carta Apostólica “Sacrae Scripturae affectus”,
por ocasião do 16º centenário da morte de São Jerônimo. Durante a Audiência
Geral, o exemplo do Padroeiro dos Biblistas foi motivado pelo Papa em
diferentes momentos, como na saudação aos peregrinos de língua portuguesa: “de
bom grado, façam da Bíblia o alimento diário do diálogo de vocês com o Senhor,
assim irão se tornar colaboradores sempre mais disponíveis para trabalhar pelo
Reino que Jesus inaugurou neste mundo.”
Andressa Collet - Vatican News - Nesta quarta-feira (30), Dia da Bíblia, a Igreja celebra o legado de São Jerônimo, de quem é conhecida a célebre frase: “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”. Estudou latim, grego e hebraico para melhor compreender as Escrituras e fazer traduções de muitos textos bíblicos, como a “Vulgata”, a primeira tradução da Bíblia para o latim; ele também era um enciclopédico, filósofo, teólogo, retórico e dialético. Neste 16º centenário da morte de São Jerônimo – que faleceu no ano de 420 com, praticamente, 80 anos de idade – o Papa Francisco assinou a Carta Apostólica “Sacrae Scripturae affectus”:
“Que o exemplo
deste grande doutor e pai da Igreja, que colocou a Bíblia no centro da sua
vida, desperte em todos um amor renovado pela Sagrada Escritura e o desejo de
viver em diálogo pessoal com a Palavra de Deus.”
A Bíblia como
alimento diário
Ainda na
Audiência Geral desta quarta-feira (30), o Papa voltou a lembrar do Padroeiro
dos Biblistas em diferentes momentos. Ao saudar os peregrinos de língua
portuguesa, encorajou a se alimentar diariamente da Palavra de Deus:
“Hoje celebramos
a memória de São Jerônimo que nos recorda que a ignorância das Escrituras é
ignorância de Cristo. Queridos amigos, de bom grado, façam da Bíblia o alimento
diário do diálogo de vocês com o Senhor, assim irão se tornar colaboradores
sempre mais disponíveis para trabalhar pelo Reino que Jesus inaugurou neste
mundo.”
Aos fiéis de
língua espanhola, o Papa Francisco saudou, de modo especial, um grupo de
sacerdotes do Pontifício Colégio Mexicano que estava no Pátio São Dâmaso, no
Vaticano. Eles estão seguindo o caminho de São Jerônimo, ao buscar a formação
integral permanente em Roma “para se conciliar cada dia mais a Cristo, Bom
Pastor”:
“Hoje nos
lembramos de São Jerônimo, um apaixonado estudante da Sagrada Escritura, que
fez dela o motor e o alimento da sua vida. Que seu exemplo também nos ajude a
ler e a conhecer a Palavra de Deus, ‘porque ignorar as Escrituras é ignorar
Cristo’.”
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Carta Apostólica do Papa dedicada a São Jerônimo:
a “Biblioteca de Cristo”
“Verdadeiramente
Jerônimo é a ‘Biblioteca de Cristo’, uma biblioteca perene que, passados
dezesseis séculos, continua a ensinar-nos o que significa o amor de Cristo, um
amor inseparável do encontro com a sua Palavra. Palavras do Papa Francisco, na
Carta Apostólica “Scripturæ Sacræ Affectus”, uma homenagem São Jerônimo no XVI
centenário da sua morte.
Jane Nogara –
Vatican News - Foi publicada uma Carta Apostólica do Papa Francisco, na memória
litúrgica de São Jerônimo “Scripturæ Sacræ Affectus”, uma homenagem ao santo no
XVI centenário da sua morte. Francisco inicia a Carta recordando o grande amor
do santo pela Sagrada Escritura: “O afeto à Sagrada Escritura, um terno e vivo
amor à Palavra de Deus escrita é a herança que São Jerônimo, com a sua vida e
as suas obras, deixou à Igreja. Tais expressões, tiradas da memória litúrgica
do Santo, dão-nos uma chave de leitura indispensável para conhecermos, no
XVI centenário da morte, a sua figura saliente na história da Igreja e o seu
grande amor a Cristo”.
Visão na
Quaresma de 375
Na Introdução do
documento o Papa recorda a vida do santo, seu percurso, seus estudos que
iniciaram a partir da visão, talvez na Quaresma de 375: “Aquele episódio da sua
vida concorre para a decisão de se dedicar inteiramente a Cristo e à sua
Palavra, consagrando a sua existência a tornar as palavras divinas cada vez
mais acessíveis aos outros, com o seu trabalho incansável de tradutor e
comentador”. E afirma: “Colocando-se à escuta na Sagrada Escritura, Jerônimo
encontra-se a si mesmo, encontra o rosto de Deus e o dos irmãos, e apura a sua
predileção pela vida comunitária”.
A chave
sapiencial do seu retrato
“Para uma plena
compreensão da personalidade de São Jerônimo – explica o Papa - é necessário
combinar duas dimensões caraterísticas da sua existência de crente: por um
lado, a consagração absoluta e rigorosa a Deus, renunciando a qualquer
satisfação humana, por amor de Cristo crucificado (cf. 1 Cor 2, 2; Flp 3, 8.10);
por outro, o empenho assíduo no estudo, visando exclusivamente uma compreensão
cada vez maior do mistério do Senhor. É precisamente este duplo testemunho,
admiravelmente oferecido por São Jerônimo, que se propõe como modelo, antes de
tudo, para os monges, a fim de encorajar quem vive de ascese e oração a
dedicar-se ao labor assíduo da pesquisa e do pensamento; e, depois, para os
estudiosos a fim de se recordarem que o conhecimento só é válido religiosamente
se estiver fundado no amor exclusivo a Deus, no despojamento de toda a ambição
humana e de toda a aspiração mundana”.
“A ignorância
das Escrituras é ignorância de Cristo”
Recordando o
amor do santo pela Sagrada Escritura o Pontífice destaca que “nos últimos
tempos, os exegetas descobriram a genialidade narrativa e poética da Bíblia,
exaltada precisamente pela sua qualidade expressiva; Jerônimo, ao contrário,
destacava mais, na Escritura, o caráter humilde com que Deus Se revelou
expressando-se na natureza áspera e quase primitiva da língua hebraica, quando
comparada com o primor do latim ciceroniano. Portanto, não é por um gosto
estético que ele se dedica à Sagrada Escritura, mas apenas – como é bem sabido
– porque ela o leva a conhecer Cristo, pois a ignorância das Escrituras é
ignorância de Cristo”.
Obediência
“O amor
apaixonado de São Jerônimo às divinas Escrituras está imbuído de obediência:
antes de tudo, obediência a Deus, que Se comunicou em palavras que exigem
escuta reverente e, consequentemente, obediência também a quantos na
Igreja representam a tradição interpretativa viva da mensagem revelada”.
A Vulgata
“Mas – lê-se na
Carta - para os leitores de língua latina, não existia uma versão completa da
Bíblia na sua língua; havia apenas algumas traduções, parciais e incompletas,
feitas a partir do grego. Cabe a Jerônimo – e, depois dele, aos seus
continuadores – o mérito de ter empreendido uma revisão e uma nova tradução de
toda a Escritura. Tendo começado em Roma, com o encorajamento do Papa Dâmaso, a
revisão dos Evangelhos e dos Salmos, depois, já no seu retiro em Belém,
lançou-se à tradução de todos os livros veterotestamentários diretamente do
hebraico; uma obra, que se prolongou por vários anos”.
A tradução como
inculturação
“Com esta sua
tradução, Jerônimo conseguiu ‘inculturar’ a Bíblia na língua e cultura latinas,
tornando-se esta operação um paradigma permanente para a ação missionária da
Igreja” . Na verdade, ‘quando uma comunidade acolhe o anúncio da salvação, o
Espírito Santo fecunda a sua cultura com a força transformadora do Evangelho’,
estabelecendo-se assim uma espécie de circularidade: se a tradução de Jerônimo
é devedora à língua e à cultura dos clássicos latinos, cujos vestígios são bem
visíveis, por sua vez ela, com a sua linguagem e o seu conteúdo simbólico e
rico de imagens, tornou-se um elemento criador de cultura”.
Biblioteca de
Cristo
Por fim, o Papa
faz um apelo: “Entre muitos elogios feitos a São Jerônimo pelos seus vindouros,
encontra-se este: não foi considerado simplesmente um dos maiores cultores da
‘biblioteca’ de que se nutre o cristianismo ao longo dos tempos, a começar pelo
tesouro da Sagrada Escritura, mas aplica-se-lhe aquilo que ele mesmo escreveu
sobre Nepociano: ‘Com a leitura assídua e a meditação constante, fizera do seu
coração uma biblioteca de Cristo’. Recordando que “Jerônimo não poupou esforços
para enriquecer a sua biblioteca, vendo nela um laboratório indispensável para
a compreensão da fé e para a vida espiritual; e, nisto, constitui um exemplo
admirável também para o presente”.
“Verdadeiramente
Jerônimo é a ‘Biblioteca de Cristo’, uma biblioteca perene que, passados
dezesseis séculos, continua a ensinar-nos o que significa o amor de Cristo, um
amor inseparável do encontro com a sua Palavra”.
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