a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja
Introdução
Caminhando para
a conclusão do mês da Bíblia, quero propor-lhe, uma leitura ou releitura da
Exortação Apostólica “Verbum Domini”, do Papa Bento XVI sobre a Palavra de Deus
na vida e na missão da Igreja (setembro de 2010). A partir do Concílio Vaticano
II intensificou-se na Igreja os estímulos para que os católicos conheçam a
Palavra de Deus e dela se alimentem cotidianamente. A XII
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que aconteceu no Vaticano de 5
a 26 de Outubro de 2008, teve como tema A Palavra de Deus na vida e na
missão da Igreja.
No ano 2010, o
Papa Bento XVI presenteou a Igreja com uma linda Exortação Apostólica. Nela
manifestou seu desejo de indicar “linhas fundamentais para uma
redescoberta, na vida da Igreja, da Palavra divina, fonte de constante
renovação, com a esperança de que a mesma se torne cada vez mais o coração de
toda a atividade eclesial” (N.1).
O documento é
composto por uma introdução, três partes e uma conclusão. Neste artigo pretendo
ressaltar alguns aspectos significativos desse bonito documento, estimulando,
sobretudo os leigos católicos, a tomarem conhecimento do mesmo, usufruindo da
sua riqueza e de seu estimulante conteúdo.
Encontro pessoal
com a Palavra
Na introdução
(N. 1-5), o Papa deseja que a Exortação estimule a redescoberta da Palavra
divina como fonte de constante renovação da vida da Igreja e espera que, cada
vez mais, a Palavra de Deus se torne o coração de toda a atividade eclesial. A
Palavra do Senhor permanece eternamente. A Palavra que a Igreja anuncia é o
próprio Filho de Deus, que desde o princípio está junto de Deus, fez-Se carne e
veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14; 1Jo 1,2-3).
Além disso, o
papa desejou estimular os fiéis católicos a serem anunciadores da Palavra para
que o dom da vida divina seja conhecido em todo o mundo. É preciso renovar o
sentimento de alegria que deriva do encontro com a Pessoa de Cristo, Palavra de
Deus presente no meio de nós e confessarmos como Pedro que só Ele tem «palavras
de vida eterna» (Jo 6,68).
A Palavra de
Deus se comunica
Na I Parte do
referido documento (cf. N. 6-49) o papa Bento insiste no dinamismo da Palavra
de Deus; Deus se Comunica entrando em diálogo conosco. A novidade da revelação
bíblica consiste no fato de que Deus se dá a conhecer no diálogo que deseja ter
conosco. Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como a amigos,
convive com eles e os convidar à comunhão com Ele. O Filho unigênito, gerado
pelo Pai antes de todos os séculos tem a mesma natureza do Pai (é
consubstancial a Ele). Por isso, Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, é
realmente o Verbo de Deus que se fez consubstancial (igual em natureza) a nós.
Veneramos
extremamente as Sagradas Escrituras, apesar da fé cristã não ser uma «religião
do Livro»: o cristianismo é a «religião da Palavra de Deus». A Sagrada
Escritura deve ser proclamada, escutada, lida, acolhida e vivida como Palavra
de Deus, no sulco da Tradição Apostólica de que é inseparável.
A Palavra de
Deus tem múltiplas dimensões: cósmica, porque tudo começou a existir
por meio d’Ela, e, sem Ela, nada foi criado (cf. Gn 1; Jo 1,3) por isso, ela
nos convida a conhecer o Criador; tem uma dimensão ecológica pois nos
revela plenamente o significado de cada criatura; tem uma dimensão
cristológica, pois nela podemos contemplar o rosto de Jesus de Nazaré; a
Palavra de Deus também tem uma dimensão escatológica pois Jesus
Cristo nos deu a conhecer o sentido definitivo da criação e da história. Todo
esse dinamismo da Palavra e seu sentido só podem ser entendidos através do
Espírito Santo (cf. N.15-20). A Palavra de Deus está em íntima relação com o
Espírito. Não é possível uma compreensão autêntica da revelação cristã fora da
ação do Espírito Santo.
A Palavra de
Deus também tem uma profunda relação com a Tradição (cf. N. 117-18). Ela foi
pronunciada no tempo, deu-Se e «entregou-Se» à Igreja definitivamente para que
o anúncio da Salvação possa ser eficazmente comunicado em todos os tempos e
lugares. O próprio Jesus Cristo mandou aos Apóstolos que pregassem a
todos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes.
A Palavra de
Deus e a Igreja
Na segunda parte
dessa Carta do papa Bento XVI, a Palavra de Deus é apresentada como o alimento
que nutre a Igreja desde os seus primórdios (cf. N. 50). Dela a Igreja se
alimentou no passado e se nutre no presente; a relação entre Cristo e a Igreja
não pode ser compreendida como acontecimento do passado, mas trata-se de uma
relação vital no presente. Assim prometeu Jesus, a Palavra de Deus: «Eu estarei
sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
A Palavra de
Deus permeia a vida da Igreja: na liturgia (cf. N. 52-57), nas homilias (cf. N.
58-60) e nos mais variados momentos da vida da Igreja como nas peregrinações,
festas particulares, missões populares, retiros espirituais e dias especiais de
penitência, reparação e perdão (cf. N. 64-73). Mas é necessário educar o Povo
de Deus para redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja
que significa também redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade
interior.
A palavra de
Deus anima e sustenta a pastoral. Com particular sensibilidade pastoral o papa
estimula a darmos atenção aos cegos e aos surdos que, por causa da própria
condição, sentem dificuldade em participar ativamente na liturgia (cf.
N.71-76).
A Palavra de
Deus no Mundo
Na terceira
parte o papa Bento XVI fala da necessidade do anúncio da Palavra de Deus ao
mundo. A Igreja anuncia ao mundo a Palavra da Esperança (cf. 1Pd 3,15); o homem
precisa da «grande Esperança» para poder viver o seu próprio presente (cf. N.
91-94). A primeira comunidade cristã difundia a Palavra por meio da pregação e
do testemunho (cf. At 6,7). Paulo testemunhava: «já não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim» (Gl 220); «Ai de mim se não evangelizar!» (1 Cor 9,16).
A Palavra de
Deus gera o compromisso de promoção da justiça na sociedade (cf. N. 100-101),
por isso deve ser anunciada aos jovens (cf. N. 104), migrantes (cf. N. 105),
doentes (cf. N. 106), pobres (cf. N. 107); a Palavra de Deus nos estimula a
cuidar do meio ambiente (cf. N. 108), ilumina as culturas (cf. N. 109), escolas
e universidades (cf. N. 111); a Palavra de Deus também deve ser anunciada ao
mundo das Artes (cf. N. 112), da comunicação social (cf. N. 113-114) e
estimular o diálogo entre as Religiões (cf. N. 117-119).
Concluindo o
documento o Papa Bento XVI adverte os fieis a não esquecerem que, na base de
toda a espiritualidade cristã autêntica e viva, está a Palavra de Deus
anunciada, acolhida, celebrada e meditada na Igreja. A Igreja animada pelo
Espírito vive a tensão missionária do anúncio da Palavra de Deus que cura e
liberta todo o homem; por isso, é nosso dever cada vez mais, viver o tempo de
uma nova escuta da Palavra de Deus e de uma nova evangelização (cf. N.121-124).
PARA REFLEXÃO
PESSOAL:
1. Você já leu esse
documento?
2. O que significa
para você “encontro com a Palavra de Deus”?
3. Por que São
Paulo afirmava: «Ai de mim se não evangelizar!» (1 Cor 9,16)?
Dom Antonio de
Assis Ribeiro - Bispo Auxiliar de Belém do Pará
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