A ciência e a fé em diálogo intenso pela conversão ecológica
“A Igreja não tem
soluções prontas para propor”, mas quer agir concretamente pela proteção da
Casa Comum. O Papa Francisco, ao receber nesta quinta-feira (3) um grupo de
franceses leigos que atuam pela causa, ainda afirmou - em discurso entregue aos
presentes - que a Igreja “quer formar consciências a fim de promover uma
profunda e duradoura conversão ecológica”. Junto com a ciência, o diálogo pode
ser “intenso e frutífero” para mitigar as atuais condições do planeta que
parecem “catastróficas” e até “irreversíveis”.
Andressa Collet -
Vatican News - A Igreja vive um ano especial de aniversário ao recordar os 5
anos da publicação da Laudato si’, do Papa Francisco, num momento propício
parar rever as atitudes “dominantes, consumistas e exploradoras” diante do meio
ambiente e para começar a falar, como afirma o Pontífice na encíclica, “a
língua da fraternidade e da beleza da nossa relação com o mundo”. Como fez um
grupo de leigos franceses empenhados pela causa da ecologia, que viajaram de
Paris a Roma de ônibus, e foram recebidos pelo Papa nesta quinta-feira (3).
A delegação
francesa
Entre os membros
da delegação estava a atriz Juliette Binoche, vencedora de Oscar e prêmios de
prestígio no cinema. Segundo o jornal francês Le Figaro, ela teria inclusive oferecido
mudas da espécie Artemisia Annua, conhecida como “uma planta muito promissora
para prevenir e tratar a malária”, disse a artista, muito comprometida com a
luta contra o aquecimento global. Além dela, estavam presentes no grupo de 15
pessoas, líderes políticos e pesquisadores que se uniram a dom Éric de
Moulins-Beaufort, presidente dos bispos franceses, “um ciclista urbano
convicto”, descreveu Le Figaro.
O comprometimento
concreto da Igreja
No seu discurso,
preparado para a ocasião e entregue aos presentes, Francisco lembrou da
motivação do encontro, no Vaticano, que acontece depois das reflexões que a
Conferência Episcopal da França promoveu sobre a Laudato si’. Os leigos, que
participaram da audiência, são especialistas no tema e colaboram com os bispos
do país – o que deixou o Papa satisfeito pela sensibilização à “urgente” e
“inquietante degradação” da Casa Comum, sobretudo diante da crise sanitária.
Iniciativas que estão acontecendo em diferentes partes e de várias formas para
influenciar, inclusive, “as escolhas políticas e econômicas”, já que ainda se
vê muita “lentidão, inclusive passos para trás” e “há muito a ser feito”.
“Da sua parte, a
Igreja Católica pretende participar plenamente do compromisso pela proteção da
Casa Comum. Ela não tem soluções prontas para propor e não ignora as
dificuldades das questões técnicas, econômicas e políticas em jogo, nem de
todos os esforços que esse compromisso implica. Mas a Igreja quer agir
concretamente onde isso é possível e, sobretudo, quer formar consciências a fim
de promover uma profunda e duradoura conversão ecológica, que sozinha é capaz
de responder aos importantes desafios que devemos enfrentar.”
A conversão
ecológica
Embora as
condições no planeta “possam parecer catastróficas e, em certas situações, até
mesmo irreversíveis”, os cristãos não devem perder a esperança. O Pontífice,
então, explicou ao grupo de franceses como “as convicções de fé oferecem aos
cristãos grande motivação para proteger a natureza” e os irmãos mais frágeis.
“Estou certo de que a ciência e a fé”, acrescentou o Papa citando a Laudato
si’, “podem desenvolver um diálogo intenso e frutífero” para mitigar as graves
consequências, “não somente ambientais, mas também sociais e humanas” ao
maltratar o meio ambiente.
Parafraseando João
Paulo II, Francisco teceu importantes ensinamentos sobre a terra e o homem
criados por Deus, sobre a conexão e o respeito à estrutura natural e moral. Por
isso, afirmou o Pontífice, o cristão deve respeitar a obra do Pai como “um
jardim para ser cultivado e protegido”. O ser humano deve viver “em harmonia na
justiça, na paz e na fraternidade, ideal evangélico proposto por Jesus”, e não
considerar a natureza “unicamente como objeto de lucro e de interesses” que
geram graves desigualdades e sofrimentos.
“Portanto, tudo
está conectado. É a mesma indiferença, o mesmo egoísmo, a mesma ganância, o
mesmo orgulho, a mesma pretensão de ser o dono e o déspota do mundo que levam o
ser humano, por um lado, a destruir espécies e a saquear os recursos naturais;
por outro lado, a explorar a miséria, abusar do trabalho de mulheres e
crianças, a derrubar as leis da célula familiar, a não respeitar mais o direito
à vida humana desde a concepção até o fim natural.”
O Papa, finalizou
o discurso, indicando novamente, como já feito na Laudato si’, que a crise da
modernidade, das relações humanas fundamentais, precisa ser resolvida para dar
fôlego à atual situação vivida pela nossa Casa Comum:
“Não haverá nova
relação com a natureza sem um ser humano novo, e é curando o coração do homem
que se pode esperar curar o mundo das suas desordens, tanto sociais como
ambientais.”
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Fonte: vaticannews.va
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