Maria, cuida com carinho deste mundo ferido
Através de um tuíte, o Papa Francisco confia a Nossa Senhora "este mundo ferido", no dia em que a Igreja celebra a Natividade de Maria.
“Maria, a mãe que cuidou de Jesus, cuida com carinho e preocupação materna também deste mundo ferido.”
Com uma mensagem no Twitter, o Papa Francisco recorda hoje a Natividade de Nossa Senhora.
A festa da Natividade de Maria projeta a sua luz sobre nós, disse o Pontífice numa homilia de 8 de setembro de 2017.
“Maria é o primeiro esplendor que anuncia o fim da noite e, sobretudo, a proximidade do dia. O seu nascimento faz-nos intuir a iniciativa amorosa, terna e compassiva do amor com que Deus Se inclina sobre nós e nos chama para uma aliança maravilhosa com Ele, que nada e ninguém poderá romper.
Maria soube ser transparência da luz de Deus e refletiu os fulgores desta luz na sua casa, que partilhou com José e Jesus, e também no seu povo, na sua nação e na casa comum de toda a humanidade que é a criação.
No Evangelho, ouvimos a genealogia de Jesus (cf. Mt 1, 1-17), que não é uma mera lista de nomes, mas história viva, história dum povo com o qual Deus caminhou e, ao fazer-Se um de nós, quis anunciar que, no seu sangue, corre a história de justos e pecadores, que a nossa salvação não é uma salvação assética, de laboratório, mas concreta, uma salvação de vida que caminha.
Esta longa lista diz-nos que somos uma pequena parte duma longa história e ajuda-nos a não pretender protagonismos excessivos, ajuda-nos a fugir da tentação de espiritualismos evasivos, a não abstrair das coordenadas históricas concretas em que nos cabe viver. E também integra, na nossa história de salvação, aquelas páginas mais obscuras ou tristes, os momentos de desolação e abandono comparáveis ao exílio.”
Os momentos de desolação que hoje ferem o mundo são inúmeros, como denuncia o Pontífice. A pandemia acirrou as consequências das desigualdades sociais, somando-se aos problemas já existentes, como migração forçada, desnutrição, analfabetismo, conflitos, guerras e destruição do meio ambiente.
Maria, com o seu «sim» generoso, permitiu que Deus cuidasse desta história. E hoje pedimos a Nossa Senhora que cuide “deste mundo ferido”.
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A Natividade de
Maria
A Natividade de
Nossa Senhora é celebrada nove meses depois da celebração da solenidade da
Imaculada Conceição (8 de dezembro). É toda a Igreja que faz o convite: “Vinde,
todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as
condições: com alegria celebremos a natividade da alegria! (...)
No dia 8 de
setembro, seguindo uma tradição dos primeiros séculos da Igreja, celebramos a
festa da Natividade de Nossa Senhora. Não há, nos textos evangélicos,
referência alguma ao nascimento de Maria, por uma razão muito simples: o
objetivo que os evangelistas tinham ao escrever o Evangelho era o de nos
apresentar Jesus Cristo. Só há referências à Virgem Maria ou a qualquer outra
pessoa quando se trata de ressaltar algum fato que diga respeito ao Salvador. É
verdade que a Palavra de Deus nos mostra, mesmo que deforma discreta, a
presença de Maria Santíssima nos momentos centrais da História da Salvação,
como a encarnação, a inauguração do ministério de Cristo, a crucifixão, o
nascimento da Igreja com a vinda do Espírito Santo etc. Mas os Evangelhos não
nos dão informações a respeito da família de Maria, de sua infância, de sua
formação, de seu temperamento, de seu aspecto físico etc.
Encontramos dados
sobre o nascimento de Maria nos chamados “Evangelhos Apócrifos”, que não são
textos inspirados, mas escritos para recolher tradições orais que circulavam
entre o povo. Ao lado de (poucos) fatos históricos verdadeiros, tais textos
traziam (muitas) histórias fantasiosas e edificantes, para comover os fiéis.
Para dar maior autoridade a tais textos, escritos a partir do segundo século da
era cristã, eles eram divulgados como sendo de autoria de algum apóstolo.
Segundo os Evangelhos Apócrifos, Nossa Senhora teria nascido na cidade de
Nazaré, na Galileia, e seus pais se chamavam Joaquim e Ana.
A Igreja
católica não costuma celebrar o dia de nascimento dos santos, mas sim o de sua
morte – isto é, quando entraram para a glória eterna. Há, contudo, três
celebrações de nascimento: de Jesus Cristo (Natal); de São João Batista (ainda
no ventre de Isabel, manifestou-se diante da proximidade de Maria, que esperava
Jesus, e que fora visitar sua parente); e o da própria Virgem Santíssima.
A Natividade
de Nossa Senhora é celebrada nove meses depois da celebração da solenidade da
Imaculada Conceição (8 de dezembro). É toda a Igreja que faz o convite: “Vinde,
todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as
condições: com alegria celebremos a natividade da alegria! (...) Que a criação
inteira se alegre, festeje e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela
gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o
Criador mudou toda a natureza humana em um estado melhor!” (S. João Damasceno –
século VIII).
Mais tarde,
em um famoso sermão feito na festa da Natividade, Padre Antônio Vieira (século
XVII) perguntou: “Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser
festejado o Nascimento de Maria?” Ele mesmo respondeu: “Vede para que nasceu:
nasceu para que dela nascesse Deus. (…) Perguntai aos enfermos para que nasce
esta celestial Menina: dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai
aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos
desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos
desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos
tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados,
dirão que nasce para Senhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para
Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para
Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para
Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom
Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua
fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da
Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos,
para Senhora da Glória. E se todas estas vozes se unirem em uma só voz, dirão
que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus.”
A Virgem Maria foi
escolhida por Deus, antes de todos os séculos, para ser a Mãe do Messias, a Mãe
do Filho de Deus, a Mãe do Salvador, “a estrela que precede o Sol”. Com o seu
nascimento, a vinda do Emanuel, do “Deus-conosco”, começava a se concretizar.
Por isso, na festa de seu nascimento, a Igreja pede: “Exulte, ó Deus, a vossa
Igreja (...), pois nos alegramos pelo nascimento de Maria, que foi para o mundo
inteiro esperança e aurora da salvação” (Missa – Oração depois da Comunhão).
Dom Murilo S.R. Krieger, scj - Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia
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TerraFutura: diálogo do Papa
sobre ecologia integral com o fundador do “Slow Food”
Foram três
encontros. Francisco conta ao gastrônomo-escritor Carlo Petrini a sua
“conversão ecológica”: do ‘cansaço’ como cardeal em Aparecida em 2007 pela
insistência dos bispos brasileiros em defesa da Amazônia até a preparação da
encíclica Laudato si’. E explica: “É preciso mudar rapidamente nossos
paradigmas se quisermos ter um futuro”.
Alessandro Di
Bussolo – Vatican News - Um Papa, como
Francisco, que como cardeal argentino sentiu "cansaço" pela
"insistência com que os bispos brasileiros falavam dos grandes problemas
da Amazônia" na conferência de Aparecida e como bispo não entendia qual
era o seu papel em relação à "saúde do pulmão verde do mundo". E um
agnóstico, ex-comunista e gastrônomo, como Carlo Petrini, fundador do
"Slow food", a quem o Pontífice chama de "piedoso" porque
"tem piedade da natureza, uma atitude nobre" e "coerente consigo
mesmo". Unidos pelas raízes piemontesas comuns".
As raízes
piemontesas e a amizade do bispo Pompilli
Do encontro, ou
melhor, dos três encontros em dois anos, de maio de 2018 a julho de 2020,
nasceu "TerraFutura. Diálogos com Papa Francisco sobre ecologia integral",
livro a ser publicado em 9 de setembro que Petrini, também promotor da rede
internacional de ecologistas "Terra Madre", publica com a Editora
Giunti-Slow Food. O Papa de 83 anos, com antepassados da região de Asti e o
gastrônomo de 71 anos e escritor de Cuneo, da região Piemonte. O primeiro
encontro foi realizado com a presença do Bispo de Rieti Domenico Pompili, com
quem Petrini tem grande amizade por terem criado juntos as Comunidades
"Laudato si'" para "dar vida" ao que Francisco propôs em
sua encíclica.
Petrini
impressionado pela primeira viagem em Lampedusa
O Bispo, que
escreveu o prefácio, lembra que Francisco e Carlin, como ele é mais conhecido,
nos diálogos identificam-se por "F" e "C", "e são
dedicados à Terra e ao seu futuro" e que deste confronto surgem caminhos
"para uma ecologia que deixe de ser uma bandeira e se torne uma
escolha". O ponto de partida é o pensamento do Papa Francisco, que
impressiona o agnóstico Petrini desde a escolha de fazer a primeira viagem como
Pontífice a Lampedusa, "como sinal de solidariedade com os migrantes",
que investiga, e escreve na "Laudato si", "o que está
acontecendo com a nossa casa".
O primeiro
diálogo: a gênese da Laudato si’
No primeiro
diálogo, em 30 de maio de 2018, três anos após a publicação da encíclica, que
Carlo Petrini define como "poder extraordinário", que "mudou o
cenário do discurso ecológico e social", Francisco fala da gênese da
‘Laudato si’". Recorda que é fruto do trabalho de muitas pessoas,
cientistas, teólogos e filósofos, que "me ajudaram muito a
esclarecer", e com o material deles, trabalhou "na composição final
do texto".
O interesse da
ministra francesa Ségolené pela encíclica
E explica que a
primeira vez que se deu conta da “centralidade" do documento e "sua
importância pelas questões abordadas", foi no final de novembro de 2014,
ao se encontrar com a então Ministra francesa do Meio Ambiente Ségòlene Royal
em sua visita ao Parlamento Europeu em Estrasburgo. A Ministra, relata o Papa,
mostrava "muito interesse" pelo texto, do qual se conhecia apenas a
referência "aos temas da casa comum e da justiça social". "É
muito importante", disse a Ministra ao Pontífice, e previu que seria
"de grande impacto, estamos todos aguardando".
Esperava-se uma
voz forte, hoje penso que tenha sido aceita
Até então,
confessa o Papa Francisco a Petrini, “não sabia que teria causado tanto clamor”
“Lá percebi que a
expectativa crescia e que se esperava uma voz forte nesta direção. Depois,
correu tudo bem: após seu lançamento, vi que a maioria das pessoas, os que se
preocupam com o bem da humanidade, leram e apreciaram, usaram-na,
comentaram-na, citaram-na. Acho que foi quase universalmente aceita”
O percurso: de
Aparecida a Laudato si’
Ao responder a
Petrini que lhe pede a confirmação de que sua atenção às questões ambientais
"amadureceram com o tempo", Francisco confidencia que "foi um
longo percurso", iniciado em 2007 em Aparecida, no Brasil, onde como
cardeal arcebispo de Buenos Aires foi presidente da Comissão para a elaboração
do documento final da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e
do Caribe. Recorda bem "de ter sentido cansaço" com a atitude dos
bispos brasileiros que em todas as ocasiões "falavam dos grandes problemas
da Amazônia", de suas "implicações ambientais e sociais", e
"não entendia esta urgência e insistência". E também havia solicitações
incessantes de colombianos e equatorianos, para incluir estas questões no
documento final.
A “conversão
ecológica” de Jorge Mario Bergoglio
Desde então,
comenta o Pontífice, "passou muito tempo e eu mudei completamente a
percepção do problema ambiental".
“No início eu
também não entendia estes temas. Depois, quando comecei a estudar, tomei
consciência, abriu-me um mundo. Creio que seja correto dar tempo a todos para
entenderem. Porém, ao mesmo tempo, devemos nos apressar para mudar nossos
paradigmas se quisermos ter um futuro”
Uma encíclica para
todos, não só para os crentes
Se Petrini aponta
que ainda acha difícil construir pontes de diálogo entre o mundo
"crente" e o mundo "secular", o Papa Francisco enfatiza que
"a Laudato si' é um ponto comum de ambos os lados, porque foi escrita para
todos". O diálogo, diz o gastrônomo-escritor, "não é uma opção
moral", mas "um método real". E o Papa acrescenta que "é um
método acima de tudo humano". Não se trata, reitera, "de aplanar as
diferenças e os conflitos, mas ao contrário de exaltá-los e ao mesmo tempo
superá-los para o bem maior".
A mudança começa
por nós, basta de despesas mundanas
Ao ler a
encíclica, o fundador do "Slow Food" ficou fascinado com o valor dado
às "boas práticas individuais" na "geração de mudanças
virtuosas". A mudança começa por nós, confirma Francisco, lembrando que
"o dever do pároco é apagar a luz, sempre", porque ele deve
"guardar as ofertas para usá-las para a caridade". Enquanto isso,
observa, o terceiro item de despesa das famílias no mundo, depois dos alimentos
e vestiário, é o cuidado do corpo, da beleza e a cirurgia estética, e o quarto
é o animal de estimação. "A educação não aparece", lamenta, e assim
"é difícil falar de uma nova abordagem ecológica e de uma nova harmonia
com o meio ambiente".
Não ao egoísmo de
pedir demais à Terra
A fim de encorajar
as pessoas a agirem pessoalmente para a mudança, o Pontífice procura as
palavras certas:
“O egoísmo deve
ser combatido, o pensamento de que eu exploro a Mãe Terra porque a Mãe Terra é grande
e deve me dar o que eu quero, deve acabar. É um pensamento completamente
doentio, só pode nos levar ao colapso”
Não é uma
encíclica ambientalista, mas social
Neste ponto o Papa
Francisco retorna ao conceito de ecologia integral, para explicar que a "Laudato
si’" não é uma encíclica verde, não é um texto ambientalista. É antes de
tudo uma encíclica social". Porque nós, homens, "somos os primeiros a
fazer parte da ecologia", o homem e o meio ambiente não são separáveis.
Biodiversidade é
rezar a Deus com a própria cultura
Carlo Petrini
lembra também do grande valor que a encíclica dá à biodiversidade, e o Papa
esclarece que "é a herança que nos permite viver neste planeta", uma
riqueza inestimável, "mas nós, com nosso modelo produtivo e econômico, a
destruímos como se não nos interessasse". A Amazônia é um depósito de
biodiversidade: a Petrini que lhe recordou do discurso feito em Puerto
Maldonado e do reconhecimento do valor da espiritualidade e da cultura dos
povos indígenas, Francisco fala de "inculturação".
“Todos podemos
rezar da mesma maneira, mas isso destrói a biodiversidade humana, que é
principalmente cultural. Não! Todos rezam de acordo com sua própria cultura! E
celebram os sacramentos de acordo com sua própria cultura: na Igreja existem
mais de vinte e cinco ritos litúrgicos diferentes, que nasceram em diferentes
culturas”
Levar o Evangelho
no mundo significa inculturá-lo
O Pontífice
recorda das críticas recebidas pela sua declaração "precisamos de uma
Igreja Amazônica" recordando também as críticas escandalizadas dos
teólogos romanos a Matteo Ricci, o missionário jesuíta que queria
"inculturar" o Evangelho na China, "aceitando também alguns
rituais chineses". "A Igreja não o entendeu – explica Francisco com
decepção – fechando de fato as portas para o Evangelho na China".
“Bento XVI, um
revolucionário”
O primeiro diálogo
se conclui com Carlo Petrini que elogia os missionários da Consolata e seu
testemunho do Evangelho através de um hospital para os índios Yanomani, na
Amazônia brasileira, sem proselitismo. Enquanto que o Papa Francisco recorda
que foi Bento XVI, em Aparecida, que afirmou que "a Igreja cresce não pelo
proselitismo, mas pela atração, ou seja, pelo testemunho", condenando
assim o proselitismo.
“Por isso me
irrito quando dizem que Bento é um conservador, Bento foi um revolucionário! Em
tantas coisas que ele fez, em tantas coisas que ele disse, ele foi um
revolucionário”
O segundo diálogo:
rumo ao Sínodo Pan-amazônico
O segundo encontro
ocorreu em 2 de julho de 2019, três meses antes do Sínodo dos Bispos para a
Amazônia. O gastrônomo fundador do "Slow food", que nessa ocasião
receberia um convite para participar da assembleia como auditor, pergunta ao
Papa o que ele espera do Sínodo, e Francisco responde: "que tenha um
impacto clamoroso". Porque "há necessidade de criar discussões
férteis e profícuas", "para colocar energias e ideias em
circulação". Ele nega que seja organizado o consentimento que
"permitiria aos padres amazônicos se casarem".
Não ao celibato,
mas os grandes temas de hoje
O Papa explica que
Bispos e especialistas do mundo inteiro, e representantes da Amazônia
discutirão sobre "os grandes temas de nossos dias": "meio
ambiente, biodiversidade, inculturação, relações sociais, migração, equidade e
igualdade". O Pontífice revela que também quis "convidar alguns
padres e bispos um pouco conservadores" porque "se não houver
opiniões diferentes o debate é estéril e há o risco de não dar nenhum passo
adiante". Há necessidade, explica ele, "do pensamento e dos recursos
de todos".
Só o ambientalismo
não é suficiente, é preciso justiça social
Os grandes temas a
serem discutidos, lembra o Papa Francisco, são todos abordados no "Laudato
si’".
“Não se trata de
ambientalismo, que por mais nobre que seja, não é suficiente. Aqui estamos
falando de qual modelo de convivência e futuro temos e como construí-lo: está
em jogo a enorme questão da justiça social que, ainda hoje, no mundo
interligado e aparentemente próspero em que vivemos, está longe de ser alcançada”
Greta e a
mobilização dos jovens “também pelo presente”
Petrini, promotor
do "Terra Madre", uma rede ecológica "de agricultores,
pescadores, artesãos, cozinheiros, pesquisadores, nativos, pastores",
pergunta ao Papa como ele vê o movimento dos jovens nascido da menina sueca
Greta Thunberg. Francisco aprova, e cita os slogans dos jovens, pois "o
futuro é nosso e não seu". Ele não se interessa em saber se Greta é
"empurrada por outros": se seu ativismo permite que milhões de jovens
se mobilizem "só se deve se alegrar". "Estou interessado na
reação dos jovens - esclarece – além do futuro, eles devem tomar o presente
para si".
“Os jovens estão
cientes de que esta civilização e este modelo estão deixando apenas as migalhas
e que se não agirem agora pessoalmente, correm o risco de se encontrar em
dificuldades”
Não ao populismo,
que usa os instintos dos que estão em dificuldade
O diálogo se
transfere para acusações de "bonomia excessiva" feitas contra o Papa
Francisco pelo seu compromisso com a acolhida e a integração dos migrantes. O
Papa cita Dom Quixote de Cervantes e explica que "não se deve responder
nem ser intimidado, porque os ataques são o sinal de que está sendo feita a
coisa certa". Aos que dizem que "estou perdendo minha rota porque
recebi os ciganos no Vaticano", pergunta: "mas aonde este fechamento
nos leva, o que nos espera? Vivemos em uma Europa que não tem mais filhos, que
se fecha violentamente à imigração e esquece sua história de séculos de
migração".
“Nestes tempos o
populismo está recebendo muita atenção, que é a forma mais conveniente de
evitar o surgimento do popularismo, a verdadeira alma do povo. O populismo não
tem nada a ver com o povo, ao contrário, oprime sua alma, enjaula seu espírito
mais positivo e nobre. (...) O populismo trabalha sobre o povo, mas sem o povo,
usa os instintos das pessoas em dificuldades para indicar um inimigo a ser
combatido exclusivamente pelo poder”
O egoísmo
anti-migrante rejeitado com caridade e gentileza
Então de onde vem,
pergunta Petrini, esta nova onda de racismo também em relação aos jovens
atletas, filhos de migrantes, com insultos e desconfiança. Não somos mais
capazes de empatia e proximidade? Para o Papa Bergoglio é uma tendência
temporária, mas de qualquer modo preocupante...
“Uma corrente de
egoísmo que dói e deve ser rejeitada com caridade e gentileza. (...) Hoje as
prioridades mudaram. Primeiro queremos viajar, queremos comprar uma casa, temos
que fazer outras coisas que na cultura de hoje são mais importantes e têm
precedência. (...) O que nos espera no futuro? Sem filhos e migrações, o que
nos espera?”
A boa globalização
é multifacetada e salva as identidades
No entanto,
continua o Pontífice, na Itália muitas vezes são as mulheres estrangeiras,
babás e cuidadoras, "as que transmitem a fé e a mantêm viva" com o
exemplo. Uma diversidade que deve ser mantida. O Papa Francisco reitera sua
oposição ao que ele chama de "globalização esférica".
“A globalização é
boa se for multifacetada, ou seja, se cada povo for único e mantiver sua
própria identidade. Aplanar as diferenças só faz mal e é inútil, é uma perda
gigantesca para todos”
A comida,
construtor de pontes e amizades
O gastrônomo Carlo
desloca a atenção para os alimentos "um instrumento para construir
pontes", e Francesco lembra que para criar uma relação de amizade "é
preciso comer juntos muitas vezes", porque comer, sem espetacularizar o
ato e sem colocar no centro a comida em si, mas a relação entre as pessoas,
"atua como um meio de valores e culturas". Segue uma saborosa troca
de comentários sobre a união entre a cozinha piemontesa e argentina na família
Bergoglio nos anos 40 e 50, com o adolescente Jorge Mario, que misturava “cappelletti”
e “asado”, e depois “bagna cauda” e muita polenta.
Igreja e prazer:
um bem que vem de Deus
Em favor do prazer
da comida que "não é abundância, mas sobriedade", o convidado
agnóstico provoca o Pontífice, afirmando que "a Igreja Católica sempre
mortificou um pouco o prazer, como se fosse algo a ser evitado". O Papa
Francisco não concorda e lembra que a Igreja condenou o "prazer desumano,
vulgar", mas aceitou o prazer "humano, sóbrio".
“O prazer vem
diretamente de Deus, não é católico ou cristão ou qualquer outra coisa, é
simplesmente divino. O prazer de comer serve para nos manter saudáveis através
da alimentação, assim como o prazer sexual é feito para tornar o amor mais belo
e garantir a continuidade da espécie”
Da comida ao
cinema: A festa de Babette
Da comida ao
cinema, o "trait d’union" é "A festa de Babette", um filme
que ambos adoram. "É um dos mais belos que já vi" confirma o Papa,
"um hino à caridade cristã, ao amor", que "consegue fazer com
que se perceba aquele prazer divino por muito tempo foi sufocado
erroneamente". "Sou apaixonado pelo cinema", confessa, e lembra
que quando criança cresceu com o neorealismo italiano, três filmes de cada vez
vistos com sua família.
O terceiro
diálogo: reflexões sobre a pandemia
O último encontro
na Casa Santa Marta entre o Papa Francisco e Carlo Petrini foi no dia 9 de
julho de 2020, e do Sínodo Pan-amazônico passamos à pandemia da Covid-19. O
gastrônomo fala de sua participação na assembleia dos bispos como "uma
experiência extraordinária". "Vi uma Igreja diferente do que
imaginei: uma Igreja com os pés no chão, muito viva". Mas uma humanidade
prostrada por esta emergência sanitária, acrescentou ele, precisa agora de
palavras de esperança. E o Papa lembra que a humanidade é "pisoteada por
este vírus e por tantos vírus que fizemos crescer", "vírus injustos:
uma economia de mercado selvagem, uma injustiça social violenta".
Uma nova economia,
novo protagonismo dos povos
Para encontrar
esperança, para sair melhor desta crise, olhemos para as periferias, é o seu
convite, "onde o futuro está em jogo". Descentralizando. Para
Francisco agora precisa...
“Uma política que
diga jamais a uma economia de mercado selvagem, jamais à mística das finanças
às quais não se pode apegar porque são virtuais. Uma nova forma de entender a economia,
um novo protagonismo do povo”
Aumentou a
consciência da Laudato si’
Volta-se a falar
do "Laudato si’", com Petrini convencido de que com este
"tumulto" a encíclica "é mais atual do que nunca". Sim,
confirma o Pontífice, "a consciência da Laudato si’ aumentou". Os
pescadores de San Benedetto del Tronto que no ano passado "me
disseram" que haviam recolhido "seis toneladas de plástico em um
único barco", recorda, "tomaram consciência e entenderam que deveriam
limpar o mar". E aos petroleiros recebidos em 2019 que lhe explicaram que
se o petróleo for deixado de lado agora "haverá uma segunda crise"
como nos anos Trinta, ele responde que é verdade, mas "é preciso sabedoria
para fazer as coisas devagar, sem tirar o trabalho. Porque o trabalho é como o
ar em nossa cultura, sem trabalho, o homem é reduzido...”.
Tempo de mudar com
a descentralização
Petrini recorda
que se todos "desejam uma mudança", após a pandemia, infelizmente, há
também uma tendência a retornar "aos mesmos valores de antes".
“É verdade que
algumas pessoas estão trabalhando para este retorno. Mas nós devemos preparar
algo a mais! A alternativa! E vencer com esta alternativa. (...) Sim, porque
muitas pessoas estão se preparando com algumas pinceladas de tinta para depois
dizer "Ah, tudo mudou!", mas, ao contrário, nada mudou. Deve-se mudar
com a descentralização”
O Concílio a ser
aceito e a Teologia da Prosperidade
O fundador do
"Slow food" muda a atenção para os grandes profetas italianos do
século passado, de Don Milani para Don Mazzolari, de Don Tonino Bello a Arturo
Paoli, que "agora, felizmente - comenta o Papa Francisco - estão
recuperados", também graças ao Concílio Vaticano II. E o Papa lamenta, “um
Concílio que ainda não foi aceito, depois de cinquenta anos, por muitas pessoas
que tentam voltar atrás". Estamos a meio caminho, as reações mais fortes,
explica, vêm "de uma concepção do liberalismo econômico", semelhante
à "do Cristianismo da Teologia da Prosperidade". Este não é o caminho
certo. Na verdade, o caminho certo é o da Teologia da Pobreza"!
Populismos que
semeiam medo no povo
O Papa, portanto,
volta a criticar os populismos, que "agarram-se ao povo usando uma ideia,
semeando medo", por exemplo a dos migrantes, e "alguns discursos de
certos líderes políticos" realmente vão "na direção de um populismo
perigoso", próximo ao de 1932-33 na Alemanha.
Querida Amazônia e
os índios assediados e descartados
O diálogo termina
com uma referência ao Sínodo, ao documento "Querida Amazônia" e aos
índios "molestados pela tecnologia e pelas multinacionais".
Descartados porque são povos "que não nos dão algo, que não
produzem". Descartados como "os idosos que são a sabedoria de um povo
Idosos com jovens,
os pais de hoje são fracos...
Francisco
justifica sua insistência no "diálogo entre idosos e jovens" com o
fato de que "a geração atual de pais", "com esta cultura de
bem-estar, perdeu a memória de suas raízes, mas os idosos ainda a têm". Se
esses pais estão enfraquecidos pelo "bem-estar e consumismo", a
escola e a universidade têm a tarefa de "retomar as três linguagens
humanas: a da mente, a do coração e a das mãos". Mas em harmonia!".
Caso contrário "formará técnicos que talvez com o desenvolvimento serão substituídos
pela inteligência artificial que não tem coração e não pode acariciar".
O homem maduro é o
que brinca com seus filhos...
A conclusão ainda
é dedicada à educação. O Pontífice lembra de um "grande professor de
filosofia" que dizia "se um homem não sabe brincar com as crianças,
ainda não está maduro". E que ele, como confessor, sempre perguntava aos
pais: "Mas o senhor brinca com seus filhos?".
“Essa é a
verdadeira poesia! Se um pai não é um poeta, ele não poderá educar bem seu
filho, mas com esta poesia de gratuidade, sim”
A segunda parte:
cinco temas da Laudato si’
Na segunda parte
do livro, Carlo Petrini desenvolve e comenta os cinco grandes temas que ele
distinguiu na "Laudato si'", integrando-os com discursos e documentos
do Papa Francisco. Da biodiversidade, com os capítulos II e IV de "Querida
Amazônia", passa à economia, com um trecho de "Evangelii
Gaudium" e a carta do Papa aos movimentos populares de abril de 2020.
Depois fala sobre migrações, com a mensagem de Francisco para o Dia do Migrante
de 2019, de educação, com dois discursos do Pontífice, um dirigido em 2017 aos
estudantes e ao mundo acadêmico, o outro a mensagem de 2019 para o lançamento
do Pacto Educacional, e por fim, de comunidade, com o discurso à Comece em 2017
e a mensagem para as Comunidades Laudato si’ de 2019.
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Fonte: vaticannews.va
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