14ª
Congregação Geral
Teve início na
manhã desta segunda-feira com a oração da Hora Média, na Sala do Sínodo, no
Vaticano, a última semana de trabalhos dos Sínodo dos Bispos dedicado à região
Pan-amazônica.
Silvonei José -
Cidade do Vaticano - Na presença do Santo Padre realizou-se a 14ª Congregação
Geral, durante a qual o Relator-geral, cardeal Cláudio Hummes, apresentou o
Projeto do Documento final do Sínodo.
Na segunda parte
da manhã e no período da tarde novamente os Círculos Menores.
A reflexão
proposta no início dos trabalhos sinodais nesta manhã de segunda-feira foi
feita pelo arcebispo de Trujillo, Peru, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte.
O arcebispo
peruano iniciou a sua meditação propondo o Salmo 110,22: “Bendigam ao Senhor
todas as suas obras”. O Papa Francisco escolheu como início de sua Encíclica Laudato
Si, a poesia do Cântico do Irmão Sol. O Papa também confiou a São Francisco
este Sínodo, nos jardins do Vaticano, no dia 4 de outubro. É por isso que
convido vocês a percorrer uma parte do caminho espiritual de São Francisco,
disse dom Vidarte.
Francisco
substitui a beleza medieval, reservada apenas aos poderosos, com a beleza
destes últimos, no tocar e beijar o leproso. Esta oração, composta no Monte
Averna, nos diz que o Deus de Francisco não é mais um Deus guerreiro, mas o
Deus sofredor, o Deus que padece e compadece a dor do ser humano, ferido pela
mortalidade. Embriagado pelo encontro com o Deus da ternura, Francisco está
sempre pronto a louvar o Senhor.
Não há nuvens
que possam obscurecer a dignidade da pessoa, prodígio de Deus; não há nuvens
que obscureçam o valor da vida, maravilha de Deus; nem nuvens que ameacem o dom
dos irmãos, que o perdão pode fazer brilhar. Sim, porque para Francisco a
beleza não é uma questão de estética, mas de amor, de fraternidade a todo
custo, de graças a todo custo. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
pelo ar e pelas nuvens, pelo sereno e todo tempo... Tu és beleza! Conhecer o
Sumo Bem, reconhecer seus benefícios e devolver ao Sumo Bem o louvor (conhecer,
reconhecer e retribuir), são os verbos que marcam o ritmo do caminho espiritual
de São Francisco de Assis. O Deus conhecido por Francisco é o todo: meu Deus e
meu tudo. Deus et Omnia é repetido por Francisco no seu louvor ao Deus
Altíssimo, Deus todo em todos. (1º Cor 15,28).
Francisco se
refere ao Salmo 110,22: "Bendizei ao Senhor por todas as suas obras"
e ao Salmo 18,2: "Os céus narram a glória de Deus. Também os
qualificadores: belo, radiante, claro, precioso, expressam as qualidades divinas
que tornam as criaturas aptas a ajudar o homem que, tendo pecado, é incapaz de
um louvor digno.
Os louvores do
Senhor feitos por São Francisco e que começam: "Altíssimo, Todo-Poderoso,
Bom Senhor", o título: Cântico do Irmão Sol, que é a criatura mais bela.
Pela manhã, quando o sol nasce, todo homem deveria louvar a Deus, que criou
aquela estrela, pela qual nossos olhos são iluminados durante o dia. E à tarde,
ao cair da noite, todo homem deveria louvar a Deus por aquela outra criatura: o
irmão Fogo, por quem os nossos olhos são iluminados durante a noite”.
Ele ainda diz:
"Somos todos como cegos e o Senhor ilumina os nossos olhos através destas
duas criaturas. Por elas e por as outras criaturas, que usamos todos os dias,
devemos sempre louvar o Criador glorioso”. São Francisco descobre em Deus o
lugar da Criação, devolve a Criação a Deus, vê Deus em todas as coisas e ousa
chamá-las irmãs. Ele é o irmão universal (cf. LS 11), porque vê em Deus não só
o Pai de todos, mas o Pai de todas as coisas.
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Coletiva Sínodo:
Defesa dos povos indígenas e diaconato permanente
No início da
terceira e última semana de trabalhos sinodais, na Sala de Imprensa da Santa
Sé, o cardeal Schönborn, arcebispo de Viena; o bispo de Rieti, dom Pompili; Pe.
Dario Bossi, provincial dos Missionários Combonianos no Brasil; e a
representante do grupo étnico Sateré Mawé, no Brasil, Marcivana Paiva.
Alessandro Di
Bussolo / Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano - “Com este Sínodo, o Papa
Francisco quer despertar a consciência de toda a Igreja sobre o destino dos
povos indígenas da Amazônia, que há 500 anos vivem sob ameaça de extinção. Os
missionários serviram a essas populações, mas a situação permanece dramática.”
O arcebispo de
Viena, na Áustria, cardeal Christoph Schönborn, na coletiva na Sala de Imprensa
da Santa Sé esta segunda-feira (21/10) sobre o Sínodo para a Amazônia, admitiu
que jamais esteve na região, mas como padre sinodal “aprendeu muito sobre a
coragem dos povos indígenas”.
“Nós como
herdeiros das potências coloniais devemos estar muito atentos e conscientes do
que significa para estes povos encontrar-se em risco de extinção. O Papa nos
pede para prestar atenção a quem não tem voz, aos povos e aos pobres
esquecidos”, ressaltou.
Em Viena 180
diáconos permanentes
O ex-aluno do
teólogo Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, e colaborador de São João
Paulo II, recordou aos jornalistas ter falado na Sala do Sínodo sobre a
experiência da diocese que guia há 21 anos.
“Em Viena temos
180 diáconos permanentes, em sua maioria casados. Uma experiência nascida
graças à intuição de meu predecessor cardeal Koning, que colocou em prática um
das novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II”, destacou.
“Hoje nossos
diáconos permanentes prestam serviço em paróquias, nas comunidades, nas Caritas
e também nos cárceres. O diaconato permanente pode ajudar realmente a pastoral
na Amazônia”, observou o purpurado.
Schönborn: toda
a Igreja é corresponsável pela Amazônia
Para o cardeal
Schönborn, outra ajuda à Igreja na Amazônia pode vir de uma mais equânime
“distribuição do clero”. A Colômbia – foi o exemplo que deu – “tem mais de 1200
padres nos EUA, no Canadá e na Espanha. Se ao menos uma parte pudesse
transferir-se para a Amazônia seria uma grande ajuda”.
A Europa, em
relação aos outros continentes, acrescentou o presidente dos bispos austríacos,
“tem uma superabundância de sacerdotes, mesmo porque, devemos admitir, a
remuneração é melhor do que em zonas pobres”.
Em suma, para o
purpurado, “toda a América Latina, aliás, toda a Igreja católica é
corresponsável pela Amazônia. Se há uma necessidade de ajuda, a Igreja deve
esforçar-se para enviar missionários, como já fez no passado”. E deve fazer
autocrítica: “Tivemos a confiança de buscar, de confiar realmente nas vocações
dos indígenas?”, perguntou-se Schönborn.
“A Amazônia é
decisiva para o clima do mundo – concluiu o cardeal, tocando o tema da ecologia
integral – e nós devemos perguntar-nos qual é a nossa contribuição para
aumentar os perigos para a Amazônia. Por exemplo, usando celulares construídos
com os minerais extraídos da floresta amazônica.”
Pompili: a
questão ecológica é "a questão"
Suas palavras
foram ressoadas nas do bispo da diocese italiana de Rieti, dom Domenico
Pompili: “Agora a questão ecológica é a questão. A Laudato si’ demonstrou
que não há desenvolvimento no médio-longo prazo, se este não é sustentável”.
“Não precisamos
nem dos negacionistas, que negam a evidência do problema, nem dos terroristas
que veem o fim do mundo cada vez mais próximo, mas ninguém hoje pode evitar
refletir seriamente, como nós estamos fazendo no Sínodo”, observou.
Justamente para
ajudar os padres sinodais nesta reflexão, informou o prefeito do Dicastério
para a Comunicação, Paolo Ruffini, o diretor emérito do Instituto Potsdam de
Pesquisa de Impacto Climático, o climatologista alemão Hans J. Schellnhuber
interveio esta segunda-feira na Sala do Sínodo.
A tragédia do
terremoto de 2016 no centro da Índia – foi o testemunho de dom Pompili – “é a
amostra de um difícil e não resolvido problema na relação homem-ambiente. E
hoje a reconstrução, aliás, a ‘regeneração’ deve ser feita seguindo rigorosos
critérios e eco-sustentáveis. Infelizmente, ainda há dezenas de milhares de
deslocados”.
Pe. Bossi: não
ao ouro nas liturgias, extração causa poluição
O superior
provincial dos missionários combonianos no Brasil – que são membros da Repam e
da rede Igreja e Mineração, Pe. Dario Bossi, há 15 anos na Amazônia, falou na
coletiva sobre os danos ao ambiente e às populações da Amazônia provocados
pelas indústrias da extração minerária.
“Seria um sinal
muito forte se a Igreja conseguisse eliminar o uso do ouro em suas liturgias e
sacramentos”, disse respondendo a uma pergunta. Os garimpeiros, denunciou o
comboniano, “para o equivalente a um anel de ouro reviram centenas de quilos de
terras e poluem os rios com mercúrio e cianeto”. Somente 10% do ouro é usado
para processos efetivamente úteis, como a utilização na medicina, o restante é
armazenado ou utilizado para joalheria”.
“Em nosso
território de Piquiá de Baixo, no distrito industrial de Açailândia (MA) –
contou o missionário – encontra-se a maior mineradora a céu aberto de extração
de ferro do mundo, com um processo de exportação ao longo de 900Km, que
atravessa mais de 100 comunidades.”
Os frutos deste
“modelo extrativista predatório”, esclareceu, são o desmatamento e a poluição.
Para não falar das tragédias ocorridas com a ruptura das barragens minerárias,
como as de Mariana em 2015 e de Brumadinho este ano.
A extração
minierária é o mal comum da Amazônia
“A associação
entre governo e grandes empresas é muito perigosa – denunciou o provincial dos
combonianos –, modificam-se as leis e se reduz a fiscalização.” A Igreja
encontra-se ao lado das comunidades atingidas, com a rede ecumênica Igrejas e
Mineração, e uma comissãoad hoc do episcopado brasileiro.
“Ninguém mais
suporta esse sistema”, denunciou Pe. Bossi. A extração minerária é um mal comum
da Amazônia, e em 25% do território amazônico já foram identificados novos
pontos apropriados para a extração.”
Felizmente, as
com unidades indígenas reagem: “há 10 anos a comunidade de Piquiá de Baixo está
se organizado para pedir ressarcimentos integrais 0pelos danos sofridos, e
agora estão conseguindo construir um novo bairro distante das áreas poluídas”.
Paiva: pedido de
apoio a quem se torna "invisível" na cidade
“Para os
indígenas que chegam às cidades o maior perigo é a invisibilidade: quando se é
invisível, não se tem direitos.” Quem explicou isso foi a brasileira Marcivana
Rodrigues Paiva, representante do grupo étnico Sateré Mawé, que falou da
questão da “urbanização”, fenômeno sempre crescente para os povos indígenas,
que obrigados a deixar suas terras migram para os grandes centros urbanos.
Somente em Manaus,
por exemplo, “há 45 populações indígenas, 35 mil habitantes ao todo, que falam
16 línguas”. “Sem território, não têm direito à nossa identidade”, denunciou
Marcivana, lançando um apelo “em favor das populações indígenas que chegam às
cidades” mediante uma “pastoral indígena” endereçada a eles.
Ruffini: o
precesso de escuta no Sínodo não terminou
O prefeito do
Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Paolo Ruffini, informou que o
relator geral do Sínodo, o cardeal Claudio Hummes – arcebispo emérito de São
Paulo e presidente da Repam eclesial pan-amazônica (Repam), apresentou na manhã
desta segunda-feira na Sala do Sínodo o esboço do documento final da Assembleia
especial.
Quatro temas
principais: “O caminho do povo da Amazônia, a conversão integral à plenitude e
à vida, a conversão pastoral, sinodal e missionária, e, por fim, a conversão
cultural e ecológica, portanto, a questão da inculturação”. Mas, concluiu
Ruffini, “o cardeal esclareceu que o processo de escuta não terminou”.
Estátuas
roubadas: "furto que se comenta por si mesmo"
Por fim, o
prefeito Ruffini interveio, respondendo a um jornalista, para comentar o gesto
na manhã desta segunda-feira, praticado por desconhecidos que roubaram da
igreja de Santa Maria in Traspontina – nas adjacências do Vaticano – e jogaram
no rio Tibre as estátuas de madeira representando mulheres indígenas grávidas
utilizadas durante a cerimônia no Vaticano, em 4 de outubro, na presença do
Papa Francisco. O gesto foi filmado pelos autores que depois publicaram em
redes sociais.
“Já dissemos
nesta sede mais vezes que essas estátuas representavam a vida, a fertilidade, a
mãe terra. É um gesto, parece-me, que contradiz o espírito de diálogo que
deveria sempre animar todos. Não sei o que mais poderia dizer a não ser que se
trata de um furto, e que talvez se comente inclusive por si mesmo”, esclareceu
Ruffini.
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#SínodoAmazônico:
Apresentado o projeto do Documento Final
Com a presença do Papa Francisco, foi realizada na manhã desta segunda-feira, 21 de outubro, a 14ª Congregação Geral do Sínodo Especial dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, que se realiza no Vaticano até o dia 27 de outubro. Estavam presentes 184 Padres Sinodais
Vatican News –
Cidade do Vaticano - Foi o Relator
Geral, Cardeal Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e presidente da
Rede Eclesial Pan-amazônica (Repam) a apresentar na Sala do Sínodo o projeto do
documento final da Assembleia especial para a Região Pan-Amazônica. O texto,
que reúne os frutos dos pronunciamentos apresentados durante os trabalhos,
passará agora aos Círculos Menores para a elaboração de um documento geral.
Programa para os
próximos dias
No decorrer dos
trabalhos de quarta e quinta-feira, tais emendamentos serão colocados no
Documento Final pelo Relator Geral e pelos Secretários Especiais, com a ajuda
dos Peritos. Portanto o texto será revisto pela Comissão para a redação para
depois ser lido na Sala sinodal na sexta-feira a tarde, no decorrer da 15ª
Congregação Geral. Sábado a tarde, por fim, na 16ª Congregação Geral será feita
a votação do Documento Final.
Reflexões de Dom
Héctor Cabrejos Vidarte
Na abertura da
Congregação de hoje, foi realizada a oração da Hora Média. A reflexão proposta
foi feita por Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, arcebispo de Trujillo, Peru e
presidente do CELAM, que convidou a olhar o exemplo de São Francisco e ao
“Cântico das Criaturas”. “Para Francisco – evidenciou o bispo – a beleza não é
uma questão estética, mas de amor, de fraternidade a todo custo, de graça a
todo custo”. O Santo de Assis – falou ainda – “abraça todas as criaturas com um
amor e uma devoção nunca vista, falando-lhes do Senhor e convidando-as a
louvá-lo. Neste sentido, Francisco chega a ser o inventor do sentimento
medieval pela natureza”.
Conhecer,
reconhecer e restituir
Conhecer,
reconhecer e restituir – disse ainda o presidente do CELAM – são os verbos que
marcam “o ritmo” do caminho espiritual de São Francisco de Assis, ou seja
conhecer o Sumo Bem, reconhecer os seus benefícios e restituir-Lhe os louvores.
De fato, se para São Francisco o pecado é apropriação “não só da vontade, mas
também dos bens” que o Senhor opera no ser humano, o louvor, ao contrário, significa
restituição. “O ser humano – reforçou ainda Dom Héctor Vidarte – não pode
louvar a Deus como convém, pois o pecado feriu a sua filiação” com o Senhor.
Deus, Pai de
todos e de todas as coisas
Portanto serão
as criaturas, como afirma São Francisco no “Cântico”, a cumprir a obra de
mediação para levar o louvor a Deus. Com efeito, elas preenchem o vazio do ser
humano, desprovido, por causa do pecado, de uma voz digna de louvar o Criador.
“São Francisco descobre em Deus o lugar da Criação – concluiu o bispo – devolve
a Criação a Deus, porque vê em Deus não só o Pai de todos, mas o Pai de todas
as coisas”.
Os trabalhos
desta manhã foram concluídos pelo pronunciamento de um convidado especial que
falou sobre o tema da ecologia integral em relação à mudança climática.
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Fonte: vaticannews.va
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