As diagnoses
feitas pelo Sínodo são a sua vitória
Francisco fez
uma longa análise sobre o Sínodo, pedindo que se dê atenção ao conjunto do que
foi feito e não que se perca em "miudezas".
Bianca
Fraccalvieri - Cidade do Vaticano - Depois de
participar ativamente das três semanas de trabalhos sinodais, o Papa Francisco
tomou a palavra no final da tarde deste sábado para se dirigir a todos os
participantes e encerrar as sessões.
Como é seu
estilo, falou a partir de sua experiência, compartilhando sua perspectiva e
revelando algumas decisões.
Antes de tudo,
agradeceu a todos pelo testemunho de “trabalho, escuta e busca” por colocar em
prática o “espírito sinodal”. “Estamos percebendo sempre mais o que é este
caminhar juntos e estamos entendendo o que significa discernir, o que significa
escutar, o que significa incorporar a rica tradição da Igreja nos momentos
conjunturais”.
Exortação
pós-sinodal
Francisco citou
o compositor austríaco Gustav Mahler, que dizia que a tradição é a salvaguarda
do futuro e não a custódia das cinzas. E confidenciou que ainda não tomou
uma decisão sobre o tema do próximo Sínodo, que pode ser justamente o da
sinodalidade, já que foi um dos três temas que recebeu votação majoritária.
Sobre a
Exortação pós-sinodal, o Papa recordou que não é obrigatória, que o mais
simples seria dizer: “Eis aqui o documento, vejam vocês”. “Em todo caso, uma
palavra do Papa sobre o que se viveu no Sínodo pode ser uma boa coisa e
gostaria de fazê-lo antes do final do ano, de modo que não passe muito tempo.”
As quatro dimensões
O Pontífice
falou na sequência sobre as quatro dimensões tratadas no Sínodo Amazônico:
cultural, ecológica, social e pastoral.
Quanto à
primeira, foram abordados temas como a inculturação, a valorização das culturas
e a tradição. Sobre a segunda, o Papa manifestou sua admiração pelo Patriarca
Bartolomeu de Constantinopla, um dos pioneiros na conscientização do problema
ecológico e da exploração compulsiva, da qual a Amazônia é um dos alvos
principais.
Já a dimensão
social chama em causa a exploração das pessoas e a destruição da identidade
cultural. A quarta dimensão – a pastoral – é “a principal”. “O anúncio do
Evangelho é urgente, urgente. Porém, que seja entendido, assimilado e
compreendido por essas culturas.” Para Francisco, uma das expressões fundamentais
é “criatividade nos novos ministérios”, inspirados em “Ministeria Quaedam” de
Paulo VI.
O Papa assumiu o
compromisso de reforçar a Comissão para o estudo do diaconato permanente.
“Vocês sabem que se chegou a um acordo entre todos que não era claro. (…)
Recolho o desafio que foi lançado: “que sejamos ouvidas”… recolho este
desafio”, disse Francisco em meio aos aplausos.
Outro tema
mencionado pelo Pontífice foi “reforma”: para a formação sacerdotal, para o
zelo apostólico e para a redistribuição do clero, inclusive entre continentes.
A este ponto, fez um agradecimento aos verdadeiros sacerdotes “fidei donum” que
“não se apaixonam pelo Primeiro Mundo”.
Mulheres,
reformas e ritos
Francisco falou
também da mulher: “Nós não nos damos conta do que significa a mulher na
Igreja.” O seu papel vai muito além da “parte funcional”, afirmou mais uma vez
entre aplausos.
A Rede Eclesial
Pan-amazônica (Repam) também foi mencionada como modelo a seguir para uma
“semi-conferência episcopal” para a região ou um “Celam amazônico” (Conselho
Episcopal Latino-americano). Outra sugestão, desta vez dentro da Cúria Romana,
seria criar uma seção amazônica no Dicastério para a Promoção Humana Integral.
Quanto à
abertura a novos ritos, Francisco disse que este aspecto cabe à Congregação
para o Culto Divino e se pode fazer seguindo certos critérios e “eu sei que se
pode fazer muito bem e fazer as propostas necessárias para a inculturação”.
Elite católica
Por fim, os
agradecimentos a quem trabalhou “escondido” nas secretarias e também aos meios
de comunicação. Aos profissionais da imprensa, um conselho: do Documento final,
ressaltar sobretudo a parte da “diagnose” feita, porque “é realmente a parte em
que o Sínodo mais se expressou: diagnose cultural, social, pastoral, ecológica,
porque a sociedade deve assumir a sua responsabilidade.
Mais importante
do que saber o que foi decidido sobre um aspecto particular, disciplinar, ou
“qual partido venceu”, é saber que “todos vencemos com as diagnoses feitas e
com o que foi avante nas questões pastorais e intereclesiásticas”.
Francisco falou
de grupos da elite cristã, sobretudo católica, que se preocupam com “miudezas”
e se esquecem das grandes coisas. A propósito, citou uma frase do escritor
francês Charles Péguy: “Porque não têm a coragem de estar com o mundo, creem
estar com Deus. Porque não têm a coragem de comprometer-se nas opções de
vida do homem, creem lutar por Deus. Porque não amam ninguém, creem amar a
Deus”.
Ao se desculpar
pela “petulância”, o Papa concluiu de maneira “tradicional”: pedindo que rezem
por ele.
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Fonte: vaticannews.va
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