da reflexão que dom Walmor conduziu hoje no Sínodo
O Sínodo para
Amazônia nesta manhã de terça-feira, dia 15 de outubro, teve início com a
oração da Hora Média, na presença do Papa Francisco, e com uma reflexão
proposta pelo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e
arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Com o título
“Chamados filhos de Deus”, Dom Walmor começou a reflexão com uma pergunta:
“Como pode o amor de Deus permanecer nele?. Esta é a interpelante pergunta
respondida por São João no terceiro capítulo de sua primeira carta. A resposta
à esta pergunta é a questão central na construção da autenticidade no
seguimento de Jesus. O discípulo e a discípula são remetidos a uma verificação
do tecido que configura o núcleo mais íntimo de seu ser. A referência ao
coração, a estação da interioridade, muito além de qualquer possível e
arriscado intimismo, é pôr-se em corajoso exercício de análise e levantamentos
a respeito da constituição misericordiosa de si mesmo”.
O coração do
discípulo, segundo dom Walmor, “é visceralmente constituído dos sentimentos
norteadores da competência de ver o outro e a ele não se fechar, mas sobre ele
debruçar-se, comovendo-se, para atender-lhes demandas à luz do conhecimento de
suas necessidades e carências”.
Falando da
compaixão, afirmou que a mesma “é o selo, único e insubstituível selo de
autenticidade, cujas raízes de exemplaridade se encontram no modo de ser do
Mestre Jesus, aquele que tem compaixão dos seus, ovelhas sem pastor, consciente
de sua missão de ungido e enviado para anunciar a boa nova dos pobres,
anunciar-lhes o ano da graça, em vez de cinzas, o óleo da alegria”.
Ao discípulo é
indicado o caminho da resposta à inquietante interrogação, “como pode o amor de
Deus permanecer nele?” Uma interrogação que há de ser o mais significativo
incômodo existencial no processo diário de qualificação discipular. Põe-se
em questão uma indispensável envergadura, disse o presidente da CNBB, que é
projeto divino em nós. O princípio é lembrado: (1J0 3,1) “Vede que grande
presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos.
Esta é a moldura da interpelação existencial posta pela palavra de Deus agora
proclamada”.
Dom Walmor |
Dom Walmor continuou
afirmando que “um holofote aceso iluminando a consciência humana interpela à
percepção e impacto de sua condição, filho de Deus, considerado o presente
grande dado pelo pai: somos chamados filhos de Deus. E nós o somos”.
Esta condição
gratuita e amorosa se impulsiona pelo princípio do amor cuja lógica há de ser
considerada como condição de fomentar o novo em lugar do velho que corrompe: (1
Jo 4,10-11) “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi
ele que nos amou e enviou o seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos
pecados”.
“Pois esta é a
mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns dos outros.” Só esta é
a escolha possível. Não há outra. A outra opção possível é o pecado. Ora,
aquele que pratica o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o
princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as
obras do diabo”. (1 Jo 3,10-13) “Nisto se revela quem é filho de Deus e quem é
filho do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, como
também não é de Deus quem não ama o seu irmão. Pois esta é a mensagem que
ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que,
sendo do Maligno, matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras
eram más, ao passo que as do seu irmão eram justas”.
Clareia o
horizonte interpelativo diário para nos incomodar e, amparados e fecundados
pela graça de Deus, sublinhou dom Walmor, darmos conta do que nos compete,
exatamente na contramão do “possuir riquezas neste mundo e vê o seu irmão
passar necessidade, mas diante dele fechar o seu coração. Somos desafiados a
uma finesse relacional de modo que não amemos só com palavras e de boca, mas
por ações e na verdade. A verdade de Cristo é sua compaixão, suas entranhas de
misericórdia”.
E sempre
exigente, porque diária e de todo momento, a tarefa de conseguir estar,
existencialmente, dentro do princípio da qualificada filiação divina: não fomos
nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou. Não há outra alternativa senão
amar de verdade, correndo sempre o risco de ser dada por descontada, por
justificações ou comodidades, por incompetência relacional ou entupimentos
humanos afetivos, por estreitezas ou por mesquinhez. Nenhuma condição humana,
com as circunstâncias que a configuram, está isenta do distanciamento do amor
de verdade.
O presidente da
CNBB também recordou o dia em que a Igreja faz memória de Santa Teresa, virgem
e doutora da Igreja. “Parece oportuno reportar-nos ao que ela indica como
exercício vivencial diário, o que constitui a dinâmica da primeira morada do
Castelo Interior/Moradas, uma de suas obras clássicas: Ela descreve a primeira
morada com a indicação de duas dinâmicas sempre e permanentemente fundamentais
na conquista e manutenção da qualificação da condição de filhos e filhas de
Deus, discípulos e discípulas de Jesus, para a competência de amar de verdade:
Conhece-te a ti mesmo e a Humildade”.
Ela lembra que
mesmo tendo alcançado, permanente ou momentaneamente, o matrimônio espiritual,
intimidade fecunda no amor de Deus, por limitação do humano, escorregamos e
caímos no estágio sempre primeiro que requer exercitar a humildade e o
conhecimento de si mesmo. Ninguém pode alimentar a pretensão de ter
ultrapassado o estágio deste exercício espiritual diário sob pena de ilusão,
endurecimento que entope e produz a dureza de coração que prejudica os pobres,
faz sombra à razão, faz gostar de títulos, privilégios e dos primeiros lugares,
se deixando levar pela disputa ou tomado por indiferenças, incapacitando para o
alcance de percepções para gestos concretos de solidariedade, desapego,
simplicidade.
Ao contrário,
alimentando à semelhança do coração dos fariseus um coração duro, o gosto pelas
filactérias, amigos do dinheiro, distanciados também da misericórdia, da
justiça e da verdade. “Santa Madre Teresa – concluiu Dom Walmor – nos indica
este fecundo caminho, como exercício espiritual e existencial permanente,
conhecer-se a si mesmo e a humildade para qualificar nossa cidadania e nos
oportunizar, fecundados pela graça de Deus, a conquistar a envergadura de
verdadeiros filhos e filhas de Deus, dando tecido bom à nossa cidadania, com
força de testemunho transformador e profética atuação no mundo testemunhando o
Reino”.
Manuela Castro –
Cidade do Vaticano - Com informações
do Vatican News.
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Presidente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
encontra-se com o vice-presidente
Mourão em Roma
Na manhã desta
terça-feira, dia 15 de outubro, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) e arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de
Azevedo, encontrou-se com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em
Roma.
Dom Walmor
agradeceu a vinda do vice-presidente à canonização de Irmã Dulce, realizada no
último domingo, dia 13 de outubro. Já o vice-presidente agradeceu pela abertura
cada vez maior de diálogo entre a Igreja e o governo brasileiro. “Saiba que o
canal de comunicação estará sempre aberto à CNBB”, afirmou Mourão. Em resposta,
dom Walmor disse: “estamos próximos na oração, no apoio e no diálogo”.
O presidente da
CNBB também falou sobre o Sínodo para Amazônia, que está sendo realizado até o
fim da próxima semana no Vaticano. “O Sínodo está caminhando de forma muito
positiva. A Igreja pode contribuir bastante na Amazônia por sua capilaridade”.
Mourão afirmou que sua única preocupação é em relação a discussões que
interfiram na soberania do país, mas dom Walmor o tranquilizou de que as
propostas do Sínodo não mexem com essa questão.
O encontro entre
os dois seria no último sábado, dia 12 de outubro, quando a comitiva do governo
brasileiro participou de uma oração realizada no Colégio Pio Brasileiro, em
Roma. Entretanto, dom Walmor esclareceu que devido ao atraso do voo, que o
conduzia de volta à Itália, não foi possível a conversa no fim de semana. O
presidente da CNBB teve que viajar a Belo Horizonte para a Missa com o Rito de
Exéquias do cardeal dom Serafim Fernandes de Araújo, arcebispo emérito da
Capital Mineira, que faleceu no dia 8 de outubro.
No fim do
encontro, as duas autoridades concluíram que o desafio de reconstrução da
sociedade brasileira é tarefa de todos. Dom Walmor conduziu uma oração pela
missão da Igreja e do governo na busca de uma nação mais fraterna e justa.
Manuela Castro –
Cidade do Vaticano
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Fonte: cnbb.org.br
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