Arquivo Secreto Vaticano
passa a se chamar Arquivo Apostólico Vaticano
Com um Motu
Proprio, o Papa mudou a denominação de “Arquivo Secreto Vaticano” para “Arquivo
Apostólico Vaticano”. Francisco explica que “com as progressivas mudanças
semânticas nas línguas modernas e nas culturas e sensibilidades sociais de
várias nações, de modo mais ou menos marcado, o termo Secretum ao lado de
Arquivo Vaticano começou a ser mal entendido”.
Cidade do
Vaticano - Papa Francisco
publicou uma Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio “A experiência
histórica” assinada em 22 de outubro, com o qual muda a denominação do Arquivo
Secreto Vaticano para Arquivo Apostólico Vaticano.
Francisco inicia
a Carta explicando que a experiência histórica ensina que “toda a instituição
humana, nascida com a melhor das tutelas e com vigorosas e fundamentadas esperanças
de progresso, fatalmente tocada pelo tempo, e para permanecer fiel a si mesma e
aos objetivos ideais da sua natureza, adverte a necessidade, não só de mudar a
própria fisionomia, mas de transpor nas várias épocas e culturas os próprios
valores inspiradores e realizar as atualizações que considera conveniente e às
vezes necessária”.
Como nasceu o
Arquivo
No docuemnto o
Papa escreve que “do núcleo documentário da Câmara Apostólica e da própria
Biblioteca Apostólica (a chamada Bibliotheca secreta) nasceu no início do
século XVII o Arquivo Pontifício que começou a se chamar Secreto (Archivum
Secretum Vaticanum)” alguns anos depois. Com o tempo o Arquivo cresceu muito e
logo começaram a chegar pedidos para consultar documentos de todas as partes do
mundo. “Embora a abertura aos pesquisadores tenha ocorrido apenas em 1881 entre
os séculos XVII e XIX inúmeras obras eruditas puderam ser publicadas com o
auxílio de cópias fiéis de documentos ou autênticos que eram conservadas pelos
prefeitos do Arquivo Secreto Vaticano”.
Com o decorrer
dos anos este serviço à Igreja, à cultura e aos estudiosos de todo o mundo fez
com que o Arquivo Secreto do Vaticano obtivesse grande estima e reconhecimento,
principalmente pelas progressivas aberturas da documentação à consulta por
parte de pesquisadores. A este propósito Francisco escreve que “a partir de
março de 2020, tal abertura por minha disposição, se estenderá até o final do
pontificado de Pio XII”.
Por quê atualizar
o nome
Em seguida o
Papa esclarece que há um aspecto que considera útil atualizar ulteriormente,
reiterando as finalidades eclesiais e culturais do Arquivo. “Este aspecto –
escreve Francisco – refere-se à própria denominação do instituto: Arquivo
Secreto Vaticano”.
O Santo Padre
explica que “Enquanto perdurou a consciência da estreita ligação entre a língua
latina e as línguas que dela originam, não havia necessidade de explicar ou até
mesmo justificar o título Archivum Secretum. Porém com as progressivas
mudanças semânticas nas línguas modernas e nas culturas e sensibilidades
sociais de várias nações, de modo mais ou menos marcado, o termo Secretum ao
lado de Arquivo Vaticano começou a ser mal entendido, e interpretado de modo
ambíguo, até mesmo negativo. Pois perdera o verdadeiro significado do termo secretum ligando-o
ao conceito expresso pela palavra moderna “secreto”. O Papa afirma: “Isso é
exatamente o contrário do que o Arquivo Secreto Vaticano foi e pretende ser,
pois – como disse meu santo predecessor Paulo VI – este conserva ‘ecos e
vestígios’ da passagem do Senhor na história”. E a Igreja não tem medo da
história, aliás, ama-a, e gostaria de a amar mais e melhor, como Deus a ama!”.
Arquivo
Apostólico Vaticano
Portanto escreve
o Papa, “Solicitado nestes últimos anos por alguns estimados prelados, assim como
pelos meus estreitos colaboradores, e depois de ter escutado o parecer dos
superiores do Arquivo Secreto Vaticano, com este meu Motu Proprio decido que:
de agora em diante o atual Arquivo Secreto Vaticano, sem modificações da
sua identidade, da sua organização e da sua missão, seja denominado Arquivo
Apostólico Vaticano”.
Concluindo,
confirma que “deste modo a nova denominação coloca em evidência a estreita
ligação da Sé Romana com o Arquivo, instrumento indispensável do ministério
petrino e ao mesmo tempo sublinha a imediata dependência do Romano Pontífice”.
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O
desenvolvimento da doutrina é um povo que caminha unido
O Sínodo para a
Amazônia deu origem a um vivo debate entre os católicos. Há os que temem que se
possa sair das marcas da Tradição. A história da Igreja nos indica o caminho da
fidelidade
Sergio
Centofanti – Cidade do Vaticano - Dois mil anos de
história nos ensina que o desenvolvimento da doutrina da Igreja é um povo que
caminha unido. Caminhando ao longo dos séculos, a Igreja vê e apreende coisas
novas, crescendo sempre na inteligência da fé. Às vezes neste caminho, há
alguns que se detêm, outros que vão rápido demais, e outros ainda que tomam
outra estrada.
Bento XVI: não
congelar o magistério
Sobre este
aspecto são significativas as palavras de Bento XVI na Carta escrita em 2009
sobre o caso da remissão da excomunhão aos 4 bispos consagrados pelo arcebispo
Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X:
“Não se pode
congelar a autoridade magisterial da Igreja no ano de 1962: isto deve ser bem
claro para a Fraternidade. Mas, a alguns daqueles que se destacam como grandes
defensores do Concílio, deve também ser lembrado que o Vaticano II traz consigo
toda a história doutrinal da Igreja. Quem quiser ser obediente ao Concílio,
deve aceitar a fé professada no decurso dos séculos e não pode cortar as raízes
de que vive a árvore”.
Colocar junto
coisas novas e coisas antigas
É preciso
considerar estes dois elementos: não congelar o magistério a uma determinada
época e ao mesmo tempo permanecer fiéis à Tradição. Como diz Jesus no
Evangelho: “Todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai
de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52). Não
se apegar apenas às coisas antigas, nem mesmo acolher apenas coisas novas
separando-as das antigas.
Não se deter à
carta mas se deixar guiar pelo Espírito
O importante é
entender quando há um desenvolvimento da doutrina fiel à Tradição. A história
da Igreja ensina que não precisa seguir a carta, mas o Espírito. De fato, se
prendermos como ponto de referência a não contraditoriedade literal entre
textos e documentos, paramos no caminho. Como está escrito no Catecismo da
Igreja Católica: “A fé cristã não é uma ‘religião do Livro’. O Cristianismo é a
religião da ‘Palavra’ de Deus, ‘não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo
encarnado e vivo’. Para que não sejam letra morta, é preciso que Cristo,
Palavra eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à
inteligência das Escrituras”.
A grande mudança
no primeiro Concílio de Jerusalém
Sem este olhar
espiritual e eclesial, todo desenvolvimento será visto como demolição da
doutrina e como construção de uma nova Igreja. Por isso devemos ter uma grande
admiração pelos primeiros cristãos que no Concílio de Jerusalém do primeiro
século aboliram, mesmo sendo judeus, a tradição milenária da circuncisão. Para
alguns deve ter sido um verdadeiro trauma cumprir esta mudança. A fidelidade
não é o apego a uma só regra, mas caminhar juntos como povo de Deus.
As crianças não
batizadas vão ao paraíso ou não?
Talvez o exemplo
mais notável refira-se à salvação das crianças não batizadas. Aqui fala-se da
coisa mais importante para um crente: a salvação eterna. No Catecismo
Tridentino, publicado pelo Papa São Pio V para o Decreto do Concílio de Trento,
lemos: “Aos pequeninos não é deixada nenhuma possibilidade de obter a salvação
se não lhes for dado o Batismo”. E muitos recordarão o que dizia o Catecismo
breve de São Pio X: “As crianças mortas sem Batismo, aonde vão? As crianças
mortas sem Batismo vão ao limbo, que não é prêmio sobrenatural nem pena;
porque, tendo o pecado original, e não só aquele, não merecem o paraíso, mas
nem mesmo o inferno e o purgatório”.
Desenvolvimento
doutrinal de São Pio X a São João Paulo II
O Catecismo
tridentino é de 1566, o Catecismo de São Pio X é de 1912. O Catecismo da Igreja
Católica aprovado em 1992, elaborado sob a guia do cardeal Joseph Ratzinger
durante o pontificado de São João Paulo II, diz: “Quanto às crianças mortas sem
Batismo, a Igreja pode somente confiar-lhes à misericórdia de Deus (…) De fato,
a grande misericórdia de Deus, ‘que quer que todos os homens sejam salvos’ (1Tm
2,4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que disse: ‘Deixai as crianças
virem a mim. Não as impeçais, porque a pessoas assim é que pertence o Reino de
Deus (Mc 10, 14), nos permitem acreditar que exista um caminho de salvação para
as crianças mortas sem Batismo”. Portanto a solução já estava no Evangelho, mas
não a vimos por muitos séculos.
A questão da
mulher na história da Igreja
A Igreja fez
muitos progressos na questão feminina. A maior consciência dos direitos e da
dignidade foi saudada por São João XXIII como um sinal dos tempos. Na primeira
Carta a Timóteo São Paulo escrevia: “A mulher fique escutando em silêncio, com
toda a submissão. Não permito que a mulher ensine, nem que mande no homem. Ela
fique em silêncio”. Somente nos anos 70 do século XX, durante o Pontificado de
São Paulo VI, as mulheres começaram a ensinar nas universidades pontifícias aos
futuros padres. Aqui também, tínhamos nos esquecido que foi uma mulher, Maria
Madalena, a primeira pessoa a anunciar aos apóstolos a Ressurreição de Jesus.
A verdade vos
tornará livres
Último exemplo.
O reconhecimento da liberdade religiosa e de consciência, além de política e de
expressão, no magistério da Igreja pós-conciliar. Uma verdadeira mudança dos
documentos dos Papas do século XIX, como Gregório XVI, que na Encíclica Mirari
vos definia estes princípios erros muito venenosos. Confrontando os
textos, de um ponto de vista literal, há grande contradição, não há um
desenvolvimento linear. Mas se lermos melhor o Evangelho, nos recordamos das
palavras de Jesus: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente
meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres”.
A dor dos Papas
Os santos sempre
convidaram a amar os Papas, como condição para caminhar unidos à Igreja. São
Pio X, falando aos sacerdotes da União Apostólica em 1912, afirmava com o
“desabafo de um coração desconsolado”: “Parece incrível, e é mesmo desolador,
que existam sacerdotes aos quais deve-se fazer esta recomendação, porém
infelizmente, estamos passando por dias em que nos encontramos nesta triste
condição de ter que dizer aos sacerdotes: amem o Papa!”. João Paulo II, na
Carta Ecclesia Dei de 1988, reconhecia “com grande aflição” a
ilegítima ordenação episcopal conferida pelo bispo Lefebvre, recordando que é
“contraditória uma noção de Tradição que se opõe ao Magistério universal da
Igreja, do qual é detentor o Bispo de Roma e o Colégio dos Bispos. Não se pode
permanecer fiel à Tradição rompendo o vínculo eclesial com aquele a quem o
próprio Cristo, na pessoa do Apóstolo Pedro, confiou o ministério da unidade na
sua Igreja”. Bento XVI, na Carta de 2009 sobre o caso lefebvriano, também
exprimia muita dor: “Fiquei triste pelo fato de inclusive católicos, que no
fundo poderiam saber melhor como tudo se desenrola, se sentirem no dever de
atacar-me e com uma virulência de lança em riste”. Quem é católico não só deve
respeitar o Papa, mas amá-lo como Vigário de Cristo.
Apelo à unidade:
caminhar juntos na direção de Jesus
Portanto a
fidelidade a Jesus não é se fixar a um texto escrito em uma determinada época
nestes 2000 anos de história, mas é fidelidade ao seu povo, o povo de Deus que
caminha unido na direção de Jesus, unido com o seu Vigário e os sucessores dos
Apóstolos. Como disse o Papa no Angelus de 27 de outubro, na conclusão
do Sínodo para a Amazônia:
“O que foi o
Sínodo? Foi, como diz a palavra, um caminhar juntos, confortados pela coragem e
pelas consolações que vêm do Senhor. Caminhamos fitando-nos nos olhos e
ouvindo-nos com sinceridade, sem esconder dificuldades, experimentando a beleza
de ir adiante juntos, para servir”.
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Fonte: vaticannews.va
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