O bem possível
O Papa
Francisco, amado até pelos ateus, pelos protestantes e outras religiões, trouxe
para a Igreja e para o mundo uma renovada esperança. A humildade que o Papa
Francisco propõe e testemunha com a sua maneira transparente de ser revela-se,
sobretudo, na óbvia e esquecida aceitação da nossa pobre e, ao mesmo tempo,
sublime condição humana. Jesus nos diz que devemos “perder” a nossa vida para
salvá-la e quem quiser salvá-la vai perdê-la.
Dom Rubens Sevilha |
Pois é
exatamente isso que Deus nos pede: desperdiçar a vida. Ou em outras palavras
mais suaves e bonitas, mas não menos exigentes: “Se alguém quer me seguir,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua
vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho,
vai salvá-la” (Marcos 8,34). O contrário é o orgulho e a mania de grandeza que
nos fazem sonhar com uma ilusória vida fantasiosa e maravilhosa que só existe
na nossa imaginação. Deus lida com a verdade da realidade e não com nossas
mentiras douradas ou, pior ainda, nossas mentiras nobres!
A humildade é
caminhar na verdade, escreveu S. Teresa de Ávila. Jesus disse que “a verdade
vos libertará” (João 8,32) e São Paulo arrematou: “foi para a liberdade que
Cristo vos libertou” (Gal 5,1). Portanto, quanto mais alguém é verdadeiro
(humilde!) mais livre ele será. Para nós cristãos a verdade sobre o ser humano
é a seguinte: toda pessoa possui dignidade infinita por ter sido criada como
imagem e semelhança de Deus, ela é templo de Deus, ela é filha amada
incondicionalmente pelo Pai. Ao mesmo tempo, por ser criatura, experimenta
fragilidades e limitações como, por exemplo, a morte. Também por ter sido
criada livre para decidir (livre arbítrio), comete erros e sofre suas
consequências.
O sábio realismo
do Papa Francisco nos convida a enxergar a realidade com verdade (humildade),
sem falsos idealismos, palavreados, sentimentalismos, manias de grandeza, que
mascaram a realidade, anestesiam a nossa consciência e não permitem a ação
transformadora de Deus, cuja semente germina e dá frutos somente em terreno
verdadeiro. A mentira nunca produz nada de bom.
Nesse realismo,
levando em conta nossa frágil e limitada condição humana, sabiamente o Papa
Francisco convida a todos os homens de boa vontade a simplesmente fazer “o bem
possível”. Parece pouco, mas não é. Pois, fazer todos os dias o bem possível ao
nosso redor, sem colher frutos imediatos, sem desejos de grandiosidades, sem
receber aplausos ou agradecimentos, pelo contrário, receber críticas e
desprezos e, mesmo assim, perseverar: eis aqui o verdadeiro heroísmo e a
grandiosidade de um autêntico ser humano. Esse heroísmo discreto e “normal” o
cristianismo o denomina: Fé. Essa pessoa que optou e lutou para realizar o bem
possível até a morte recebe, na Igreja Católica, o título de: Santo.
Dom Sevilha,
OCD. - Bispo de Bauru
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Fonte: cnbbsul1.org.br
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