A Palavra de
Deus além de sábia, ela também é bela. A infinita e eterna beleza de Deus se
expressa nas maravilhosas poesias espalhadas ao longo de toda a Sagrada
Escritura. Todos sabemos que a Bíblia é um conjunto de livros antigos, escritos
em variadas épocas por diversos autores. Muitos autores são desconhecidos. Os
estudiosos da Bíblia (exegetas) procuram explicar cientificamente o aspecto
humano da Bíblia, ou seja, o texto e seu contexto histórico.
Mas a Bíblia não
é simplesmente humana, ela é um texto inspirado por Deus dentro da pedagogia
divina que conduz e educa a humanidade ao longo da história. O autor sagrado
não transcreveu um ditado feito por Deus; muito menos ele entrou em “transe
místico” ao escrever. A inspiração é divina, porém a escrita é humana:
palavras, traduções, papiros, pergaminhos, tintas, estilos literários, etc.
Dom Rubens Sevilha, OCD |
Deus age e fala
conosco através das coisas humanas. Os sacramentos são os maiores exemplos
disso: o pão e o vinho, coisas tão humanas, tornam-se o Corpo e Sangue de
Cristo, coisas tão divinas. O humano e o divino se amalgamam de tal forma, que
não é fácil saber onde começa um e termina o outro. A teologia chama de
mistério da Encarnação essa divina mistura, ou “divino comércio”, como prefere
a Patrística. De fato, desde os contemporâneos de Jesus até aos nossos dias,
temos dificuldade em entender e explicar como Cristo pode ser verdadeiro Deus e
verdadeiro homem. A tentação hoje é ressuscitar antigas heresias do início do
cristianismo que procuram ressaltar a humanidade de Jesus e diminuir ou até
excluir a sua divindade reduzindo-O somente a um dos grandes personagens da
história.
A Palavra de
Deus, portanto, reflete perfeitamente a complexa e maravilhosa realidade
humana. Há momentos da vida em que as coisas dão certo, prosperam, florescem e,
quase que espontaneamente, somos levados a louvar a Deus pelas suas obras, como
por exemplo, no salmo 8: “Visitais a nossa terra com as chuvas e transborda de
fartura. Rios de Deus que vêm do céu derramam águas e preparais o nosso trigo.
Abençoais as sementeiras. Transborda a fartura onde passais, brotam pastos no
deserto. As colinas se enfeitam de alegria e os campos de rebanhos, nossos
vales se revestem de trigais: tudo canta de alegria!”
Todavia, pelo
contrário, há momentos de tempestades em que tudo parece dar errado. Na Bíblia
há inúmeros relatos de pessoas, algumas até muito santas e importantes, que
viveram situações muito complicadas e chegaram até a pedir para morrer!
Se fosse
possível medir a fé, a melhor maneira de medi-la seria, talvez, pela capacidade
de manter a alegria e a confiança no Senhor nos momentos em que tudo dá errado
na vida; manter a paz no coração e continuar a combater o bom combate mesmo
quando se fracassa e se sente estar no fundo do poço.
Ter fé nos
momentos fáceis é fácil; por isso, pessoalmente, uma das palavras que mais me
tocam a alma está no livro de Habacuque 3, 17-18:
“Ainda que a figueira não floresça nem a vinha dê seus frutos,
a
oliveira não dê mais o seu azeite, nem os campos, a comida;
mesmo
que faltem as ovelhas nos apriscos e o gado nos currais:
mesmo
assim eu me alegro no Senhor, exulto em Deus, meu Salvador!”
Não é fácil
caminhar no “vale de lágrimas” e, diante da nossa fraqueza, a Sagrada Escritura
nos mostra o delicado e terno amor de Deus Pai que nos fortalece e alimenta,
expresso nestas palavras de sublime beleza: “a paz em teus limites garantiu
e te dá como alimento a flor do trigo” (Salmo 147, 14). Que assim seja!
Dom Rubens Sevilha,
OCD - bispo de Bauru
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Fonte: cnbbsul1.org.br Ilustração: formacao.cancaonova.com
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