Por
uma ética "amiga da pessoa"
Ver a humanidade
como uma grande família, é a primeira maneira para ser inclusivos. E ter esta
consciência de uma origem comum, é o motor para uma mudança nos comportamentos
e estilos também no campo econômico, que deveria colocar o homem e a família no
centro, e não o "ídolo dinheiro" e a busca desenfreada pelo lucro,
disse o Papa em entrevista a um jornal italiano.
Cidade do
Vaticano - Falta a consciência de uma origem comum, de uma pertença a uma raiz
comum de humanidade e de um futuro a ser construído juntos. Esta consciência de
base permitiria o desenvolvimento de novas convicções, novos comportamentos e
estilos de vida.
Na longa
entrevista publicada na sexta-feira pelo jornal italiano “Sole 24 ore”,
especializado em temas econômicos, o Papa Francisco falou de solidariedade,
trabalho, finanças, defendendo a necessidade de uma “ética amiga da
pessoa”, capaz de sentir compaixão diante do grito de dor dos outros, de
derramar lágrimas diante dos dramas que consomem a vida de nossos irmãos e
também de assumir o cuidado deles.
A raiz desta
“ética amiga” que defende Francisco está justamente na consciência de uma
origem comum, em ver a humanidade como uma única família onde o crescimento é
verdadeiro porque sustentado por relações de ajuda recíproca, ternura e
misericórdia e não por devaneios de sucessos e pela exclusão de quem vive ao
lado.
O Papa tem a
peito os grandes sofrimentos pelos quais passa a humanidade. Muitos deles, são
consequência de um sistema econômico que descarta, que não é mais capaz de
gerar trabalho, porque colocou no centro um ídolo chamado “dinheiro”,
obedecendo somente a ele. E uma economia assim estruturada mata, pois ganhar
dinheiro torna-se o objetivo primário e único, excluindo a pessoa do centro. Assim,
deixa de ser ética e constrói estruturas de pobreza, escravidão e descarte.
E não é o
dinheiro que confere dignidade ao homem, sublinha o Papa, mas o trabalho.
Aqueles que pensam que é o dinheiro que gera dinheiro se equivocam, pois é o
trabalho que gera as riquezas concretas.
Portanto, uma
economia nunca está desligada do significado daquilo que produz e o agir
econômico é sempre ético. Assim, a atividade econômica, não diz respeito
somente ao lucro, mas compreende também relações e significados. Por isso,
visar somente o lucro, não garante a sobrevivência de uma empresa, que deve ter
um significado mais amplo, ou seja, devem caminhar unidas ações e
responsabilidades, justiça e lucro, produção de riqueza e sua redistribuição,
operacionalidade e respeito pelo ambiente. Respeitando a dignidade das pessoas
e buscando o bem comum, faz bem a uma empresa.
O que não é mais
possível – sustenta o Pontífice – é que os operadores econômicos não ouçam o
clamor dos pobres. Por detrás de cada atividade, existe uma pessoa que toma
decisões e faz escolhas.
Os empresários e
as empresas, assim, podem dar uma grande contribuição para que o trabalho
conserve a sua dignidade, reconhecendo que o homem é o recurso mais importante
de cada empresa, mas também trabalhando pelo bem comum, tendo atenção aos
pobres.
Muitas já
investem na formação técnica, mas Francisco sugere que a esta poderia ser
acrescentada uma formação aos valores da solidariedade, ética, justiça,
dignidade, sustentabilidade, conteúdos que enriquecem o pensamento e a
capacidade operacional.
O Papa também
reconhece que em relação ao cuidado com o meio-ambiente ainda há muito a
ser feito para mudar comportamentos e escolhas que não respeitam a casa comum,
não obstante o progressos consideráveis neste sentido verificados em muitos
países. A maneira como exploramos o planeta até agora, está nos fazendo pagar
um alto preço. E a esta mesma mentalidade de exploração de recursos, está
ligada a exploração, a exclusão, o descarte de seres humanos. Por isso existe a
necessidade desta mudança de consciência, mudança de estilo e de atitudes.
Francisco pensa
a economia como a serviço do homem, aconselhando que a busca por um
desenvolvimento integral e a dimensão comunitária de uma empresa levem em
consideração elementos como a distribuição e a participação na riqueza
produzida, a inserção da empresa no território, a responsabilidade social, a
igualdade de salários entre homens e mulheres, a conjugação entre tempos de
trabalho e tempo de vida, o respeito pelo ambiente, o reconhecimento da
importância do homem em relação à máquina, o reconhecimento do salário justo e
a capacidade de inovação.
Em meio a tantos
desafios, a exortação do Papa Francisco é sempre de esperança, e para tal
exorta que nossos projetos sejam inspirados pela compaixão, pela perspicácia e
pela coragem, acolhendo assim cada ocasião para avançar na construção da paz.
Jackson Erpen
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Fonte: vaticannews.va
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