Processo de beatificação e canonização terá início em maio
No próximo dia 3 de maio, fiéis de toda a Arquidiocese de Olinda e Recife se encontrarão na Igreja Catedral do Santíssimo Salvador do Mundo, em Olinda, para celebrar a abertura oficial do processo de beatificação e canonização de Dom Helder Camara. A Santa Missa, que será presidida pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, apresentará os membros da comissão jurídica responsável por reconhecer as “virtudes heróicas” do ex-arcebispo e, também, a oração para pedir a a intercessão do religioso. A solenidade está marcada para às 9h.
Frei Jociel Gomes - Postulador da Causa |
Em entrevista
coletiva, nesta quarta-feira (8), dom Saburido assinou o edital que torna
pública a autorização da Santa Sé. O texto cita a carta enviada pelo prefeito
da Congregação para a Causa dos Santos, cardeal dom Angelo Amato, que foi
emitida menos de dez dias depois que o responsável pelo dicastério confirmou o
recebimento do pedido de abertura do processo de dom Helder Camara, no dia 16
de fevereiro. Contudo, a correspondência só chegou à arquidiocese, na última
segunda-feira, (6).
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Dom Fernando Saburido na sessão de assinatura do Edital nesta quarta |
“Tenho um
carinho enorme por dom Helder e desde que cheguei à arquidiocese há esse desejo
do povo de Deus. Enviamos o pedido no dia 27 de maio do ano passado e nos
surpreendeu positivamente o retorno rápido da Santa Sé. Agora vamos trabalhar
para concluir a etapa diocesana do processo. Em seguida, será a vez do Vaticano
realizar outro processo”, declara dom Saburido.
Terminada a fase
diocesana, o postulador elaborará o “Positio”. Trata-se de um compêndio dos
relatos e estudos realizados pela comissão, contendo uma biografia documentada
e a apresentação das virtudes teologais e cardeais praticadas pelo Servo de
Deus. Assim que aprovado, o papa concede o título de Venerável Servo do
Senhor.
A penúltima
etapa é a da beatificação. Ser beato, ou bem-aventurado, significa representar
um modelo de vida para a comunidade e, além disso, que essa pessoa tem a
capacidade de agir como intermediário entre os cristãos e Deus. Para isso será
necessário o reconhecimento de um milagre realizado por intercessão do Servo de
Deus.
Depois, ainda é
preciso passar por mais uma fase: a canonização. Para ser proclamado santo é
imprescindível a comprovação de outro milagre, que deve ocorrer após sua
nomeação como beato.
Perfil
Dom Helder
Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, e teve 12 irmãos.
Após entrar muito jovem no Seminário da capital do Ceará, se tornou padre aos
22 anos.
O primeiro momento
da vida religiosa de dom Helder foi marcado pela militância junto a
instituições políticas conservadores, como a Ação Integralista Brasileira,
entre 1932 e 1937. Mais tarde, o religioso considerou a participação como um
erro da juventude. Já radicado no Rio de Janeiro desde 1936, passou a optar por
um trabalho assistencialista, quando fundou departamentos da Igreja voltados
para atender os mais necessitados.
Dom Helder Camara, Servo de Deus |
Após longo
período atuando na então capital do Brasil, dom Helder foi nomeado para o
Maranhão. Com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, é mandado para
Pernambuco, onde desembarcou em 12 de abril de 1964, poucos dias após o golpe
militar. Na capital pernambucana, o religioso desembarcou em meio a uma relação
conturbada entre Governo do Estado e Igreja.
Dois dias após a
posse, dom Helder lançaria, juntamente com outros 17 bispos nordestinos, um
manifesto à Nação, pedindo liberdade das pessoas e da Igreja. O primeiro grande
atrito, entretanto, ocorreu em agosto de 1969, quando o arcebispo foi acusado
de demagogo e comunista, por ter criticado a situação de miséria dos
agricultores do Nordeste.
A partir de
então, dom Helder sofreu represálias, inclusive com sua casa metralhada,
assessores presos e com a morte de Padre Antônio Henrique, que foi assassinado.
Em 1970, quando dom Helder teve o nome lembrado para o Prêmio Nobel da Paz, o
governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar a
indicação, já que ele denunciava a prática de tortura a presos políticos no
Brasil. Também em 1970, os militares chegaram a proibir a imprensa de mencionar
o nome do arcebispo de Recife e Olinda.
Dom Helder
comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife até o dia 10 de abril de 1985,
quando – por atingir a idade limite de 75 anos – foi substituído pelo arcebispo
dom José Cardoso Sobrinho. Ele morreu em sua casa, no Recife, em 27 de
agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma
pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral Santíssimo
Salvador do Mundo, em Olinda.
Pelo seu
trabalho em defesa dos direitos humanos, dom Helder recebeu vários prêmios
internacionais, como Martin Luther King, nos Estados Unidos, 1970, e o Prêmio
Popular da Paz, na Noruega, 1974. O religioso é autor de 22 livros, a
maioria ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.
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