Enxergar
claramente
Do livro do
Gênesis a Sócrates, a perfeição humana tem seu lastro no conhecimento do bem e
do mal. Mas poderá esse conhecimento ser ensinado?
Dom José Francisco |
Até onde sabemos,
uma pessoa pode ensinar à outra quais coisas são tidas como boas. Até onde a
vista alcança, essas informações podem ser passadas por meio da instrução: elas
formam a substância da formação moral, tal como é praticada.
No entanto, alguém
só sabe se isto é bom, ou não, se puder constatar diretamente por si mesmo. O
conhecimento de certos valores acontece numa relação direta, como ver que o céu
é azul e a grama, verde. Ele não consiste em pedaços de informação que podem
transitar de uma mente para outra. Em última instância, todo indivíduo deve ser
capaz de julgar por si mesmo o que deve ser feito. Para ser um homem completo,
é preciso tornar-se moralmente autônomo, a ponto de discernir a bondade e
controlar sua própria vida.
O que Sócrates
chama de perfeição humana pode ser percebido como a possibilidade de alguém
estar em uníssono consigo mesmo, ter discernimento próprio, e seguir o caminho
vislumbrado. A essa clareza, que nasce de dentro, chamamos de ética. Ao que é
imposto de fora dá-se o nome de moral.
Essa possibilidade
de o sujeito ser ele mesmo é uma responsabilidade da qual ninguém deveria
escapar. Ainda que se aceite uma autoridade externa, tratando-a como
responsável por aquilo que se venha a fazer, cada um continua responsável pela
escolha original de qual autoridade deva ser obedecida. Há um juiz interno que
não pode delegar suas funções a outrem.
Quando o olho da
alma enxerga claramente, não se pode apelar contra sua decisão. Educar não
significa ensinar. É, antes, o movimento de abrir janelas nas trevas
deturpadoras do preconceito. Afinal, todo preconceito é só uma opinião de
segunda mão.
Dom José Francisco Rezende Dias - Arcebispo Metropolitano de Niterói
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Fonte: cnbb.org.br
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