Não esquecer aquilo que o Senhor fez em nossa vida
Conservar a
memória da história da salvação. Quando se volta para trás, se corre o risco de
ter "um coração sem bússola": disse o Papa na Missa celebrada na
manhã desta quinta-feira na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano.
Cidade do Vaticano
- Iniciar a Quaresma pedindo a graça da memória, de recordar aquilo que o
Senhor fez em nossa vida. De fato, no caminho rumo ao encontro com Cristo
ressuscitado é preciso estar atentos a não voltar para trás, a não ser surdos
na alma e ao perigo da idolatria. Foi o que disse o Papa Francisco na manhã
desta quinta-feira (07/03) na homilia da missa na casa Santa Marta, no
Vaticano. A sua reflexão partiu da Primeira Leitura do dia, extraída do
Deuteronômio. Trata-se de uma parte do discurso que Moisés fez ao povo para
prepará-lo para entrar na Terra prometida, colocando-o diante de uma escolha
entre a vida e a morte. “É um apelo à nossa liberdade”, explicou o Santo Padre
detendo-se em particular sobre três palavras-chaves de Moisés: se “o teu
coração se volta para trás”, “se tu não ouves” – segunda palavra – “e se te
deixas levar a prostrar-te diante de outros deuses”.
“Quando o
coração se volta para trás, quando toma uma estrada que não é a estrada justa –
seja atrás, seja outra estrada, mas não vai pela estrada justa – perde a
orientação, perde a bússola, rumo à qual deve seguir adiante. E um coração sem
bússola é um perigo público; é um perigo para a pessoa e para os outros. E
quando um coração toma essa estrada errada, é quando não ouve, é quando se deixa
levar, conduzir-se pelos deuses, quando se torna idólatra. ”
Não ser surdos
na alma
Mas nós não
somos capazes de ouvir, “muitos surdos na alma”. “Também nós em algum momento
nos tornamos surdos na alma, não ouvimos o Senhor”, reiterou o Papa que
advertiu também para os “fogos de artifício” que nos chamam, “os falsos deuses”
que nos chamam à idolatria. E esse é o perigo ao longo da estrada, rumo à terra
que foi prometida a todos nós: a terra do encontro com Cristo ressuscitado.”
A graça da
memória, não cair na amnésia
E “a Quaresma
nos ajuda a caminhar nesta estrada”, prosseguiu o Papa recordando que “não
ouvir o Senhor” e as promessas que nos fez, é perder a memória: é quando se
perde “a memória das grandes coisas que o Senhor fez na nossa vida, que fez na
sua Igreja, em seu povo, e nos habituamos a caminharmos nós, com nossas
forças”, com a nossa autossuficiência. Portanto, Francisco exorta a iniciar a
Quaresma pedindo “a graça da memoria”. Depois, retomou o discurso que Moisés
dirigiu ao povo pouco antes, quando o exortou, uma vez chegado “àquela terra”
que não conquistou, quando terá comido do trigo que não semeou, a recordar-se
de “todo o caminho” que o Senhor lhe fez percorrer. Mas quando estamos bem,
quando temos tudo ao alcance da mão, “espiritualmente seguimos bem”, há o
perigo de perder “a memória do caminho”:
“O bem-estar,
inclusive o bem-estar espiritual tem este perigo: o perigo de cair numa certa
amnésia, uma falta de memória: estou bem assim e me esqueço daquilo que o
Senhor fez em minha vida, de todas as graças que nos deu e creio que é mérito
meu e sigo adiante assim. E aí o coração começa a caminhar para trás, porque
não ouve a voz do próprio coração: a memória. A graça da memória.”
Não voltar atrás
Evocou, em
seguida, também uma passagem da Carta aos Hebreus que parece seguir o mesmo
esquema, no qual se exorta a recordar “os primeiros dias”. “Perder a memória é
muito comum”, ressaltou o Pontífice: também o povo de Israel perdeu a memória,
porque no perder a memória há algo de seletivo: recordo aquilo que me convém
agora e não recordo algo que me ameaça.” Por exemplo, o povo recordava no
deserto que Deus o havia salvado, “não podia esquecer isso”. Mas começou a
lamentar-se pela falta de água e carne “e a pensar nas coisas que tinha no
Egito”, como as cebolas. O Papa notou que porém se tratava de algo de
“seletivo” porque “se esquece que todas essas coisas as comiam na mesa da
escravidão”. Em seguida, reiterou o convite à memória que nos coloca no caminho
justo. É preciso “recordar para seguir adiante; não perder a história: a
história da salvação, a história da minha vida, a história de Jesus comigo”. E
não parar, não voltar trás, não deixar-se levar pelos ídolos. A idolatria,
efetivamente, “não é somente ir a um templo pagão e adorar uma estátua”.
“A idolatria é
uma atitude do coração, quando tu preferes isso porque é mais cômodo para ti e
não prefere o Senhor porque O esqueceste. No início da Quaresma nos fará bem a
todos pedir a graça de custodiar a memória, custodiar a memória do Senhor
inteiramente, de tudo aquilo que o Senhor fez em minha vida: como me quis bem,
como me amou.” E dessa recordação, continuar seguindo adiante. E nos fará bem
também repetir continuamente o conselho de Paulo a Timóteo, seu amado
discípulo: ‘Recorda-te de Jesus Cristo ressuscitado dos mortos’. Repito:
‘Recorda-te de Jesus Cristo ressuscitado’, recorda-te de Jesus, Jesus que me
acompanhou até agora e que me acompanhará até o momento no qual devo comparecer
diante d’Ele, Jesus glorioso. O Senhor nos dê essa graça de conservar a
memória.”
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Fonte: vaticannews.va
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