sobre a realidade do demônio
É um tema
frequente no magistério da Igreja. Em uma memorável Audiência Geral de 1972,
Papa Paulo VI dedicou uma catequese sobre a realidade pessoal do Maligno, que
uma certa cultura dominante, teria a tendência a negar. Enquanto todos os Papas
do passado insistiram na necessidade de olhar o Satanás de frente para poder
combatê-lo.
Jesus tentado pelo demônio no deserto |
Cidade do
Vaticano - Do “pai da mentira” falou recentemente, brincando mas não muito, Papa
Francisco no seu encontro com as crianças da paróquia romana de São
Crispim de Viterbo, no domingo, 3 de março.
Pai da mentira
“O diabo existe
sim, é verdade, ele é o nosso maior inimigo. É aquele que procura nos derrotar
na vida. É o que coloca nos nossos corações desejos maus, pensamentos feios e
nos leva a fazer coisas ruins, as muitas coisas ruins que têm a vida, chegando
até às guerras. (…) como podemos nos comportar para nos defendermos destas
agressões do diabo, que é o dono do mundo? Antes de tudo com a oração. (…) Por
isso é preciso rezar a Jesus para que afaste o diabo de nós, para que não deixe
que ele se aproxime de nós. Vocês sabem qual é a maior qualidade do diabo?
Porque ele tem qualidade: é muito inteligente, mais inteligente do que os
teólogos! É inteligente e essa é uma qualidade. Mas a qualidade que mais aparece
no diabo e melhor se exprime é que é um mentiroso. (…) No Evangelho é chamado
de pai da mentira”.
Itinerário
quaresmal
A Quaresma é o
período ideal para não se esquecer do Maligno, com o pensamento a Jesus que no
deserto pôde enfrentá-lo. João Paulo II em 26 de fevereiro de 2004, por
ocasião do encontro com os párocos romanos disse:
“Enquanto
empreendemos o itinerário quaresmal, olhemos a Cristo que jejua e luta contra o
diabo. (…) Nós também, como Cristo, somos chamados a uma luta forte e decidida
contra o demônio”.
Como nos
recordou Papa Francisco no Angelus do primeiro domingo da Quaresma,
em 10 de março passado, “com o diabo não se dialoga, não se deve dialogar, só
se lhe responde com a Palavra de Deus”.
“Há um aspecto
sobre a qual gostaria de chamar a atenção, algo interessante. Jesus ao
responder ao tentador não entra em diálogo, mas responde aos três desafios só
com a Palavra de Deus”
Representações
do Maligno
O que faz do
diabo um grande perigo a ser enfrentado somente com as nossas forças é a sua
capacidade de se mimetizar, a insconstância que reforça o seu poder enganador.
De fato em cada
época há o diabo que corresponde melhor aos seus pesadelos. Na Idade Média era
representado ingenuamente como um bode maléfico com o rabo pontudo, na metade do
século XX sua imagem era de uma nuvem de cogumelo atômico. Depois veio o
período da negação da sua existência. Era o tempo do materialismo, do
relativismo, dos ateísmos de estado, do niilismo: se não existe Deus, não deve
existir seu antagonista. Mas que o homem negue a existência do diabo é o
sucesso mais estrepitoso do próprio diabo.
Na memorável
audiência de 15 de novembro de 1972, Paulo VI alude ao demônio ao
recordar a dura e triste realidade daquela época italiana.
“Não é dito que
cada pecado seja diretamente causado por uma ação diabólica (…) mas também é
verdade que quem não vigia com certo rigor moral sobre si mesmo (…) se expõe à
influência do mysterium iniquitatis, ao qual São Paulo se refere (…), e que
torna problemática a alternativa da nossa salvação”
O Maligno existe
Enquanto que João
XXIII tinha identificado esta “conspiração do descaso”, a necessidade de
negar a existência do Maligno, fingindo que não exista. Em 1959, na conclusão
do ano centenário das aparições de Lourdes disse:
“Queridos
filhos, como em outros tempos da história se adensaram nuvens no horizonte que
colocaram em agitação almas, famílias e povos, assim agora, vive-se na angústia
e no medo: especialmente para muitos que infelizmente fidem et spem non
habent, não têm fé nem esperança. Muitos pensam em inebriar-se e esquecer. Mas
a realidade está diante dos olhos de todos, e este acúmulo de desordens morais
e de esforços imaturos e sacrilégios de se opor à soberania divina, à santa lei
do Decálogo e do Evangelho é algo deplorável: assim como cresce a aversão à
diária e despreocupada falsificação da verdade, da liberdade e da justiça
através dos órgãos muitas vezes nefastos da opinião pública”.
Olhar o mal de
frente continua sendo a tarefa mais gravosa para o homem do final do milênio,
que continua a preferir o desdém, o enleio, acomodar-se nos lugares da não
virtualidade, onde tudo parece neutro, nem bom nem mau. Mas somente perecem …
São expressões de João Paulo II durante a sua visita à Puglia em 24
de maio de 1987:
“Esta luta
contra o Demônio, que caracteriza a figura do Arcanjo Miguel é atual também
hoje, porque o Demônio está vivo e agindo no mundo. De fato, o mal que está
nele, a desordem que se encontra na sociedade, a incoerência do homem, a
fratura interior da qual é vítima não são apenas consequências do pecado
original, mas também efeitos da ação infestadora e obscura de Satanás, que
insidia o equilíbrio moral do homem”
Terrorismo novo
vulto do demônio
Nos primeiros
anos do novo milênio as chamas do Inferno aparecem através do terrorismo. As
torres gêmeas, atentados em Paris, Berlim, Bruxelas, a perseguição muitas vezes
silenciosa de tantos cristãos no mundo…
Bento XVI durante
sua viagem ao Líbano em 2012 recorda que devemos mudar a rota:
“Devemos estar
bem cientes de que o mal não é uma força anônima que atua no mundo de forma
impessoal ou determinista. O mal, o demônio, passa através da liberdade humana,
através do uso da nossa liberdade; procura um aliado, o homem: o mal precisa
dele para se espalhar. E assim, depois de ter violado o primeiro mandamento, o
amor a Deus, vem para perverter o segundo, o amor ao próximo. Com ele, o amor
ao próximo desaparece, deixando o lugar à mentira e à inveja, ao ódio e à
morte. Mas é possível não se deixar vencer pelo mal, e vencer o mal com o bem
(…).
Somos chamados a
esta conversão do coração; sem ela, as 'libertações' humanas tão desejadas
decepcionam, porque se movem no espaço reduzido que lhes concede a mesquinhez
do espírito do homem, a sua dureza, as suas intolerâncias, os seus
favoritismos, os seus desejos de vingança e os seus instintos de morte. É
necessária a transformação nas profundezas do espírito e do coração para reencontrar
uma certa clarividência e imparcialidade, o sentido profundo da justiça e do
bem comum”.
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Fonte: vaticannews.va
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