sentido da Quarta-feira de Cinzas para o cristianismo
O bispo de
Livramento de Nossa Senhora (BA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom
Armando Bucciol, preparou um texto que faz uma reflexão sobre o sentido genuíno
da celebração da festa que torna mais coerente a vida, a celebração da Páscoa.
Leia o artigo na
íntegra:
O sentido da
Quarta-feira de Cinzas
O mistério
pascal de Cristo, isto é, o evento de sua paixão, morte e ressurreição, é
fundamento e cume da fé que professamos. Nesse acontecimento, encontra-se,
também, a identidade e a razão do culto que elevamos ao Senhor. Por isso, a
Igreja celebra o evento pascal com grande solenidade.
Ponto de partida
daquele que chamamos de Ano litúrgico é o Domingo, o Dia do
Senhor, do qual testemunham várias passagens do Novo Testamento, sobretudo as
que falam das aparições do Ressuscitado no primeiro dia da semana (cf.
João 20, 1.19,26 etc.). Enriquecido ao longo dos séculos, este dia será
importante não só pela Igreja, mas também pela vida social. Pelo meado do II
século, os cristãos escolhem um domingo – a data é motivo de animada discussão
– para celebrar a solenidade da Páscoa. Desde o século IV, já existe um tempo
de preparação, ao qual é dado o nome de Quaresma, para indicar sua
duração de quarenta dias. Este número tem muitas recordações bíblicas, desde a
caminhada do povo de Deus, rumo à terra prometida, até o jejum de Jesus, no
deserto. No tempo do papa Leão Magno (+ 461), em Roma, a Quaresma começava no
sexto domingo antes da Páscoa e, na conta, compreendiam-se os domingos, dias,
porém, em que não se jejuava. No século seguinte, para manter o jejum de
quarenta dias, antecipou-se o início da Quaresma na quarta-feira anterior. Eis
a origem da Quarta-feira de cinzas que marca o início do tempo de
preparação e intensa espiritualidade, para dar sentido não somente à celebração
da festa, mas para tornar mais coerente com a vida, a celebração da Páscoa.
O sentido deste
dia pode ser encontrado nos textos bíblicos e nas orações da liturgia do dia.
Na tradição cultural dos povos antigos, também do povo hebraico, colocar cinzas
na cabeça, é gesto de penitência (cf. Jó 2,12; 2Sm 13,19; Lm 3,16), como
destacam as palavras que introduzem o rito de bênção das cinzas: “Roguemos instantemente
a Deus Pai que abençoe com a riqueza de suas graças estas cinzas, que vamos
colocar sobre as nossas cabeças em sinal de penitência”. Na oração de Coleta,
pede-se que “a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal” e
a oração sobre as cinzas que “os fiéis que vão receber estas cinzas… possam
celebrar de coração purificado o mistério pascal do vosso Filho”. Numa segunda
oração, reza-se: “Reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos, consigamos…
obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova à semelhança do Cristo
ressuscitado”.
Caracterizam
esta celebração as palavras: penitência, perdão dos pecados, conversão, coração
purificado, domínio dos nossos maus desejos, vida nova, celebrar com fervor a
paixão do Filho, mistério pascal. O exemplo que Jesus nos deixou e seus
ensinamentos, tornam-se referencial para os seus seguidores. O tempo de
Quaresma, experiência da divina misericórdia e do perdão do Senhor, aponta para
uma vida marcada pelas obras que mostram o batizado qual testemunha de um novo
projeto de vida.
O Evangelho do
dia (Mateus 6) recorda as três ‘obras’ que distinguem um fiel hebreu: a esmola,
a oração e o jejum. Uma insistente recomendação – sempre atual – por parte de
Jesus: “Não façam isso só para serem vistos”; neste caso, vocês perderiam “sua
recompensa”. Tem um jeito próprio dos discípulos de Jesus: agir sem
exibicionismo ou vanglória, ligados só no olhar amoroso do Pai.
Iluminados pela
Palavra e a Liturgia, possamos iniciar e viver este ‘tempo favorável’ como precioso
dom do Senhor para uma vida renovada e coerente. Por isso, cada um entre em si
mesmo, e na sinceridade do seu coração, “converta-se, e acredite no Evangelho”,
como pede o ministro enquanto coloca as cinzas em nossas cabeças.
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Fonte: cnbb.org.br
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