A Igreja não seja escrava da própria rigidez
Cidade do
Vaticano (RV) – A esperança na misericórdia de Deus abre os horizontes e nos
faz livres, enquanto a rigidez clerical fecha corações e faz tanto mal: este é
um dos trechos da homilia do Papa na manhã desta segunda-feira (14/12), na Casa
Santa Marta.
Que a Igreja seja missericordiosa |
“No seu caminho,
Balaão encontrou o anjo do Senhor e transforma seu coração”. “Não muda de
partido”, mas “passa do erro à verdade e diz aquilo que vê”: o Povo de Deus
vive nas tendas em meio ao deserto e ele, “além do deserto, vê a fecundidade, a
beleza, a vitória”. Abriu o coração, “converteu-se”, e “vê ao longe, vê a
verdade”, porque “com boa vontade sempre se vê a verdade”. “É uma verdade que
dá esperança”.
“A esperança –
afirma o Papa – é esta virtude cristã que nós temos como um grande dom do
Senhor e que nos faz ver ao longe, além dos problemas, das dores, das
dificuldades, além os nossos pecados”. Nos faz “ver a beleza de Deus”:
Esperança
“Quando estou
com uma pessoa que há esta virtude da esperança e está passando por um momento
difícil da sua vida – uma doença, uma preocupação com um filho ou uma filha ou
alguém da família, seja o que for – mas há esta virtude, em meio a dor há um
olhar penetrante, há a liberdade de enxergar além, sempre além. E esta é a
esperança. E esta é a profecia que a Igreja nos doa hoje: é preciso mulheres e
homens de esperança, também em meio aos problemas. A esperança abre horizontes,
a esperança é livre, não é escrava, sempre encontra lugar para dar um jeito”.
No Evangelho,
existem os chefes dos sacerdotes que perguntam a Jesus com qual autoridade age:
“Não têm horizontes” – diz o Papa – são “homens fechados nos seus cálculos”,
“escravos da própria rigidez”. E os cálculos humanos “fecham o coração,
encerram a liberdade”, enquanto a “esperança nos deixa mais leves”.
Verdadeira
liberdade
“Quanto é bela a
liberdade, a magnanimidade, a esperança de um homem e de uma mulher de Igreja.
Ao invés, quanto é feia e quanto faz mal a rigidez de uma mulher e de um homem
de Igreja, a rigidez clerical, que não tem esperança. Neste Ano da Misericórdia, existem esses dois caminhos: quem tem
esperança na misericórdia de Deus e sabe que Deus é Pai; que Deus perdoa
sempre, e tudo; que além do deserto há o abraço do Pai, o perdão. E, também,
existem os que se refugiam na própria escravidão, na própria rigidez, e não
sabem nada da misericórdia de Deus. Estes eram doutores, tinham estudado, mas a
ciência deles não os salvou”.
O Papa conclui a
homilia contando um fato que ocorreu em 1992 em Buenos Aires, durante uma Missa
pelos doentes. Estava confessando há muitas horas e estava a ponto de se
levantar quando chegou uma mulher muito idosa, com cerca de 80 anos, “com os
olhos que viam além, esses olhos repletos de esperança”:
“E eu disse:
“Avó, a senhora quer se confessar?” Porque eu estava indo embora. “Sim”. “Mas a
senhora não tem pecados”. E ela me disse: “Padre, todos nós os temos”. “Mas,
talvez o Senhor não os perdoa?” “Deus perdoa tudo!”, me disse. Deus perdoa
tudo. “E como a senhora sabe disso?”, perguntei. “Porque se Deus não perdoasse
tudo, o mundo não existiria”. Diante dessas duas pessoas – o livre, a
esperança, aquele que oferece a misericórdia de Deus, e o fechado, legalista, o
egoísta, o escravo da própria rigidez – recordemos dessa lição que esta idosa
de 80 anos – ela era portuguesa – me deu: Deus perdoa tudo, só espera que você
se aproxime Dele”. (BF/RB)
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Fonte: radiovaticana.va
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