o Sagrado rompe as barreiras da visão
O fotógrafo que
se dispõe a registrar uma ação litúrgica, precisa conhecê-la e, conhecendo-a,
verdadeiramente a amará. Artigo sobre fotografia nos espaços litúrgicos.
“A liturgia é
uma ação sagrada, através da qual, com ritos, na Igreja e pela Igreja, se
exerce e prolonga a obra sacerdotal de Cristo, que tem por objetivos a
santificação dos homens e a glorificação de Deus (SC 7).”
Quando
fotografamos uma celebração litúrgica (casamento, batizado, missa), buscamos
“capturar” dos sinais e símbolos litúrgicos aquilo que os olhos não podem ver.
As lentes da câmera ajudam romper as barreiras impostas pelas limitações
humanas e fazer uma experiência do céu.
O sentido da
visão humana unida ao sentido da fé é algo essencial para enxergar as
realidades sobrenaturais que não vemos, mas que estão implícitas em toda a
criação. Devemos, portanto, “treinar os olhos da alma”, deixar que a fé venha,
por suplemento, os sentidos completar, como diz São Tomás de Aquino.
“ A liturgia da
Igreja pressupõe, integra e santifica elementos da criação e da cultura humana,
conferindo-lhes a dignidade de sinais da graça, da nova criação em Cristo Jesus
(CIC, n. 1149).”
Para criar
imagens que reflitam verdadeiras experiências de fé, primeiro, é preciso
vivenciar pessoalmente essas experiências, pois, corre-se o risco de obter uma
imagem qualquer, vazia de significado.
Portanto, o
fotógrafo que se dispõe a registrar uma ação litúrgica, precisa conhecê-la e,
conhecendo-a, verdadeiramente a amará. Assim nos diz Santo Agostinho: "Só
se ama aquilo que se conhece". O tema “fotografia e liturgia” está entre
as dúvidas mais frequentes dos fotógrafos. Obter orientações para sanar as
dúvidas e realizar um bom trabalho como fotógrafo é de suma importância, sem
esquecer, é claro, a maior de todas as regras: o amor.
Conhecer e amar
Para sanar as
muitas dúvidas sobre a fotografia no âmbito litúrgico, é preciso saber que a
liturgia precede a fotografia. Antes de nos preocupar com o “clique”, devemos
estudar, conhecer profundamente a Liturgia. Esse é o primeiro passo, o remédio
para muitas de nossas dúvidas.
Preocupar-se
somente com o que fazer, com a regência do “posso ou não posso” demonstra o
quanto podemos ser superficiais. Quando “mergulho” com profundidade naquilo que
estou fotografando (rito, espaço, etc) acontece uma mudança, não somente da
postura, como de toda a escrita da fotografia: a imagem torna-se religiosa, ou
seja, uma imagem que nos religa ao sagrado.
Cristo é o
centro da Liturgia e não podemos, com nosso descuido e indiscrição também
chamado de “ruídos litúrgicos” –, antepor a Ele. Assim como na liturgia, também
na fotografia, quando algo de indesejado aparece em sua composição visual,
chamamos de “ruído fotográfico”. Será que em muitos casos, não estamos nós,
durante nosso trabalho, sendo “ruídos litúrgicos”?
O fotógrafo deve
“desaparecer” durante a ação litúrgica, fazendo com que durante o seu trabalho,
brilhe Aquele que é o centro da nossa existência: “É preciso que Ele cresça e
que eu diminua” (Jo 3,30).
Regras quanto a
fotografia no espaço litúrgico
Acredito que
este seja o tema mais esperado nesta matéria. Entretanto, devemos respeitar a
hierarquia da Igreja, cada diocese e/ou paróquia tem suas regras sobre o
assunto. A responsabilidade primeira são dos Bispos e párocos, conforme nos
ensina o Código de Direito Canônico:
“Exercem o
múnus de santificar, primeiramente os Bispos, que são os grandes sacerdotes,
principais dispensadores dos mistérios de Deus e dirigentes, promotores e
guardiães de toda a vida litúrgica na Igreja que lhes foi confiada (cân. 835
§1); [...] Sob a autoridade do Bispo diocesano, o pároco deve dirigir a
liturgia em sua paróquia e é obrigado a cuidar que nela não se introduzam
abusos (cân. 528 §2).”
Para saber sobre
as orientações para fotógrafos durante as celebrações litúrgicas numa
Igreja/paróquia orientamos procurar, antecipadamente, o pároco ou o coordenador
da Pascom.
Nesse sentido,
apresentamos alguns conselhos importantes sobre a fotografia no espaço
litúrgico:
1º. Sentido do
Sagrado
Nisto se
diferencia o bom fotógrafo: ter consciência que nas celebrações litúrgicas o
Senhor está presente! Fotografar no ambiente sacro não é a mesma coisa que
fotografar em qualquer outro local, onde o objeto do clique são as pessoas,
valendo-se tudo por um clique. O objetivo da Fotografia Religiosa no espaço
litúrgico é deixar Cristo resplandecer.
2º. Respeito e
empatia
Ter respeito com
os irmãos que estão ali celebrando, vivendo sua intimidade com Deus e não para
serem fotografados. Um momento que muitas vezes pode parecer bonito aos nossos
olhos, como por exemplo, uma pessoa chorando, pode ser, para aquele que está sendo
fotografado um momento de dor. Naquele momento a fotografia torna-se algo
inconveniente.
Uma dica
respeitosa que damos é a de colocar um aviso no Datashow, discreto, mas que
diga que a Pascom estará registrando durante aquela celebração dando a
liberdade para aqueles que não querem ser fotografados que procurem os agentes
da pastoral para informa-los. Também é importante informar onde serão
disponibilizadas as imagens.
Os fotógrafos também devem vestir-se de maneira discreta, evitando bermudas, roupas decotadas, e cores chamativas. Pode-se usar o uniforme da Pascom ou roupas brancas.
Os fotógrafos também devem vestir-se de maneira discreta, evitando bermudas, roupas decotadas, e cores chamativas. Pode-se usar o uniforme da Pascom ou roupas brancas.
3º. Escondimento
O fotógrafo deve
ser o mais discreto possível, movimentos modestos, evitar cruzar o corredor de
um lado para o outro sem reverência ou bruscamente. Estabeleça pontos para que
possa fazer um bom registro sem chamar atenção; caso estejam trabalhando em
equipe, dividam-se em pontos laterais. Movimente-se quando a assembleia estiver
em pé.
4º. Lugares
celebrativos
Toda a área do
presbitério (lugar onde encontra-se o altar, o ambão, a sede e o sacrário),
deve ser evitada. No presbitério, procure formas de fotografar que não sejam
invasivas, para não nos transformarmos em “ruídos litúrgicos”.
5º. As partes
mais sagradas do rito
Evitar excessos
ao fotografar a proclamação das leituras e do Evangelho; durante a Oração
Eucarística, especialmente na consagração e elevação das espécies eucarísticas
e durante a distribuição da comunhão.
Nestes momentos
devemos nos concentrar com máxima sacralidade e silêncio, devemos ser
objetivos, com poucos cliques e com muito discernimento. Outro ponto
importante: durante a homilia devemos sentar e ouvir. Fotografar neste momento
pode desviar a atenção do sacerdote e das pessoas.
Com essas
palavras de São Paulo VI convido os meus irmãos fotógrafos a meditar diante da
grandeza em que estamos ao fotografar a Santa Missa:
“Talvez vos
possa parecer que a Liturgia está feita de coisas pequenas: atitudes do corpo,
genuflexões, inclinações de cabeça, movimentos do incensório, do missal, das
galhetas. É então que se devem recordar aquelas palavras do Cristo no
Evangelho: quem é fiel no pouco sê-lo-á no muito (Lc 16, 16). Por outro lado,
nada é pequeno na Santa Liturgia, quando se pensa na grandeza daquele a quem se
dirige.”
Fernando
Nunes - Criador e professor da Técnica de Fotografia Religiosa
.................................................................................................................................................
Fonte: vaticannews.va
Nenhum comentário:
Postar um comentário