Irmãs com Síndrome de Down
As Irmãzinhas
Discípulas do Cordeiro, que vivem no centro da França, são a primeira
comunidade contemplativa no mundo, que acolhe pessoas com Síndrome de Down na
vida consagrada.
Cidade do Vaticano - Esta aventura
espiritual e humana, vivida sob a proteção de São Bento e Santa Teresa do
Menino Jesus, teve origem nos anos 1980 pela amizade entre Line, uma jovem em
busca de espiritualidade, que queria viver a sua vocação ao serviço dos mais
pequeninos, e Véronique, uma jovem com Síndrome de Down, que queria se
consagrar ao Senhor.
"Visitei
várias comunidades que acolhiam pessoas com deficiência, mas percebi que elas
não se adaptariam em tais comunidades, porque não eram apropriadas para seu
tipo de vida", explica Madre Line, que, mais tarde, se tornou Madre
Superiora das Irmãzinhas Discípulas do Cordeiro (Petites Soeurs Disciples de
l'Agneau). "Graças ao encontro com a jovem Véronique, uma jovem com
síndrome de Down, brotou a inspiração para um novo início. Achei que a devia
ajudar a realizar a sua vocação".
Véronique sentiu
o chamado para servir ao Senhor, mas, devido à Síndrome de Down, foi rejeitada
por todas as comunidades por onde passara. De fato, o Direito Canônico e as
regras monacais não preveem a admissão de pessoas com deficiência na vida
religiosa. Line e Véronique tiveram que esperar 14 anos para obter o
reconhecimento dos estatutos desta comunidade especial, que tem um estilo
original.
Em 1995, o
número crescente de "membros" forçou as Irmãzinhas a transferir-se
para outro lugar, fixando moradia em Le Blanc, uma cidade de 6.500 habitantes,
na diocese de Bourges. Dom Pierre Plateau (1924-2018), Arcebispo desta diocese,
no centro da França, acolheu-as calorosamente. Com a sua mediação, ajudou a
comunidade a dar ulteriores passos, em Roma, para obter o reconhecimento do
Estatuto do Instituto religioso contemplativo, que, finalmente, ocorreu em
1999.
"Dom
Plateau foi um verdadeiro pai para a nossa comunidade: era muito sensível com
as pessoas com Síndrome de Down", diz Madre Line.
As Irmãs
progrediam, gradualmente, aprimorando o Priorado e a Capela. Em 2011, obtiveram
o reconhecimento definitivo dos seus Estatutos, graças à mediação do Arcebispo
Armand Maillard, que também havia dado apoio à comunidade, fonte de vida e
alegria naquele território.
Comunidade de
vida de Irmãs hábeis e com Síndrome de Down
Atualmente as
Irmãzinhas Discípulas do Cordeiro são dez: duas Irmãs hábeis e oito com
Síndrome de Down. A comunidade continua com poucos membros, mas com a esperança
de aumentar seu número em breve tempo porque as Irmãs com Síndrome de Down
precisam de apoio na vida diária. Todavia, na realidade "elas são
autônomas, pois a vida contemplativa lhes permite viver em ritmo regular. Para
as pessoas com Síndrome de Down, as mudanças são difíceis, mas, quando a vida é
regular, conseguem viver melhor", explica Madre Line.
A vida de cada
dia desenvolve-se com funções diárias, Missa toda terça-feira na Capela e
várias atividades: laboratórios de tecelagem e cerâmica e, mais recentemente, a
criação de um jardim de plantas medicinais. Enfim, sua extraordinária vocação
se realiza em uma vida ordinária, na humildade do serviço, seguindo o
"pequeno caminho" proposto por Santa Teresa de Lisieux, cuja espiritualidade
é sua grande fonte de inspiração.
"Passaram-se
34 anos desde que ouvi o chamado de Jesus. Procurei conhecer Jesus com a
leitura da Bíblia e do Evangelho", diz a Irmã Véronique. Nasci com uma
deficiência chamada Síndrome de Down. Estou feliz e amo a vida. Rezo, mas fico
triste em saber que as crianças com Síndrome de Down não sentirão esta mesma
alegria de viver". Para quem sente o chamamento de viver a vocação ao
amor, como Santa Teresa, o caminho é longo, mas com paciência e fé produz seus
frutos: "Jesus fez-me crescer no seu amor. Após ter sido rejeitada na
comunidade, a minha alegria foi grande quando, em 20 de junho de 2009, pude
emitir os votos Perpétuos no Instituto das Irmãzinhas Discípulas do Cordeiro. A
minha maior alegria é ser esposa de Jesus".
Deixe que o amor
se desenvolva
"Em uma
época, em que a sociedade é privada de pontos de referência e parece não
encontrar mais sentido na vida ou dar-lhe o devido valor, a nossa comunidade
quer, com o simples testemunho da nossa vida consagrada a Deus, reafirmar o
caráter sagrado da vida e da pessoa humana", dizem as Irmãzinhas.
Para que toda a
força do amor, impressa no coração dessas jovens com Síndrome de Down, se
infunda plenamente em uma vida consagrada ao Senhor, as Irmãzinhas convidam a
um tempo de discernimento: "jovens sensíveis ao espírito de pobreza e
devoção, prontas a oferecer toda a sua vida ao serviço de Cristo na pessoa das
Irmãzinhas com Síndrome de Down". Para as próprias jovens com Síndrome de
Down, "o discernimento é feito como em todas as outras vocações: quando
uma pessoa se sente realizada, então é aí que o Senhor a chama. Caso contrário,
voltam para as suas casas. Isso acontece com qualquer vocação: devem saber bem
se a sua vocação é ou não verdadeira", explica Madre Line.
Irmã Morgane recebe o hábito religioso |
O dom de uma
amizade simples com Jesus
Madre Line nota
nas Irmãzinhas com Síndrome de Down uma força espiritual muito grande:
"Elas conhecem a Bíblia, a vida dos santos e têm uma memória
impressionante. São almas de oração, devotas e muito próximas a Jesus",
diz maravilhada ao ver na sua simplicidade um sinal profético para o nosso
tempo: "Suas almas não têm nenhuma deficiência! Pelo contrário, estão mais
próximas do Senhor, se comunicam mais facilmente com Ele". As Irmãs hábeis
da comunidade apreciam, de modo particular, a sua capacidade de perdoar e de
encorajar as coirmãs, com frases apropriadas da Bíblia, que dão sentido ao seu
dia a dia.
A comunidade
ficou chocada, em 2013, pela morte prematura da Irmã Rose-Claire, com apenas
aos 26 anos, uma religiosa circundada pela auréola da santidade, que seguia as
pegadas de Santa Teresa de Lisieux, que tanto amava. Madre Line fala da reação
das Irmãzinhas com Síndrome de Down, que temia pela sua grande sensibilidade
emocional; mas aceitaram este acontecimento com serenidade, colocando tudo nas
mãos de Deus: “Na manhã seguinte, fui à cela delas para
saber qual tinha sido a sua a reação. Então, a primeira disse: 'É a vontade
celeste', e a segunda acrescentou: ‘Devemos ser fortes. Tenhamos fé’!”
A experiência
atípica desta comunidade parece corresponder, realmente, à vontade celestial,
para além de um desafio antropológico do mundo atual, sujeito aos ditames de
eficiência e produtividade, diante do qual as pessoas com Síndrome de Down se
calam. A sua capacidade de amar, para quem recebeu o dom da fé, e a sua
proximidade com o Senhor são, no entanto, portadoras de uma fecundidade
insuspeitável: "Trata-se, certamente, de um mundo a ser descoberto",
conclui Madre Line. "Elas levam alegria à sociedade e, sobretudo,
transmitem amor ao mundo, que tanto precisa"!
Três Irmãzinhas Discípulas do Cordeiro: Marie-Ange, Camille e Géraldine |
"Reevocando
as primeiras palavras de São João Paulo II, para nós, significa ter coragem de
dizer ‘não tenham medo’ a um mundo, onde o homem tem medo do homem, das
fragilidades inerentes à sua natureza e à sua condição, como a inabilidade ou a
enfermidade; significa ter coragem de afirmar, mais do que nunca, a beleza e a
grandeza da vida em seu mistério doloroso.
Não tenham medo
de seguir Jesus e de compartilhar desta vida oferecida às nossas Irmãzinhas,
certamente frágeis, mas não sem força, aliás, fortes no escalão mais nobre: o
do coração.
Não tenham medo
de testemunhar, diante do mundo, uma vocação generosa, orientada para os outros
e capaz de ultrapassar o estado de inabilidade das pessoas, muitas vezes
marginalizadas; capaz de se abrir, com maior profundidade, a um olhar
plenamente humano".
“Torne-se
religiosa e ofereça a sua vida a Jesus como as Irmãzinhas com Síndrome de Down.
Siga o chamado para se dedicar aos mais pequeninos, aos mais frágeis,
testemunhas do Evangelho da Vida. "Venha e veja!" Se Deus chamar,
dar-lhe-á a sua Graça e a alegria de ser consagradas com as Irmãzinhas com
Síndrome de Down.”
“Maiores
informações no site: http://www.les-petites-soeurs-disciples-de-lagneau.com (em
francês).”
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Fonte: vaticannews.va
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