Papa canoniza mártires de Cunhaú e Uruaçu
Cidade do
Vaticano (RV) – A Igreja tem 35 novos Santos, e entre eles, 30 brasileiros. Em
cerimônia presidida pelo Papa Francisco na manhã deste domingo (15/10) na Praça
São Pedro, foram canonizados os mártires de Cunhaú e Uruaçu, os
Protomártires do México – considerados os primeiros mártires do continente
americano - além do sacerdote espanhol Faustino Míguez, fundador do Instituto
Calasanzio, Filhas da Divina Pastora, e do Frade Menor Capuchinho italiano
Angelo d’Acri.
Após ser cantado
o Veni Creator, o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos,
Cardeal Angelo Amato, acompanhado pelos Postuladores das Causas, dirigiu-se até
o Santo Padre pedindo para que se procedesse à canonização dos Beatos, com a
leitura de seus nomes.
A seguir, foi
lida uma breve biografia dos novos Santos e entoada a Ladainha de todos os
Santos, pedindo que por meio da Virgem Maria e de todos os Santos seja
sustentado o ato que está para ser cumprido. Por fim, o Santo Padre leu a
fórmula de canonização.
Mártires de
Cunhaú e Uruaçu
Nossos Beatos
Mártires André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, Mateus Moreira e 27 leigos
foram assassinado, em 1645, em defesa da fé católica, em Cunhaú e Uruaçu (RN).
Igreja ganhou 35 novos Santos este domingo |
Em 1645, os
soldados holandeses, de religião Calvinista, ocuparam o nordeste brasileiro,
levando consigo um pastor protestante para convencer os residentes a
renunciarem à sua fé católica.
Ao chegarem a
Cunhaú (RN), onde residiam vários colonos, que trabalhavam nos canaviais,
soldados e índios tapuias invadiram a Capela do Engenho de Cunhaú, durante a
Missa dominical, celebrada pelo Padre André de Soveral, e os assassinaram em 16
de julho.
Aterrorizados
com o episódio de Cunhaú, muitos moradores de Natal pediram asilo no Forte dos
Reis Magos; outros se refugiaram em lugares improvisados. Mas, no dia 3 de
outubro, foram levados para as margens do Rio Uruaçu, onde foram massacrados
por cerca de 80 índios e soldados holandeses armados. Segundo cronistas da
época, o leigo Mateus Moreira teve o coração arrancado pelas costas.
Agonizante, Mateus repetia a frase “louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Protomártires do
México
Além dos
Mártires brasileiros, foram canonizados também os Protomártires do México: Cristóvão,
Antônio e João, crianças que morreram, em 1527 e 1529, por não renunciarem à
sua fé em Jesus Cristo.
As crianças
mártires de Tlaxcala representam os mártires de toda a América Latina, porque
foram os primeiros a dar testemunho da sua fé”; foram os primeiros nativos de
etnia americana, convertidos à fé católica, a derramar seu sangue por Cristo no
continente.
Cristóvão
nasceu, provavelmente, em 1514; Antônio e João por volta de 1516. Foram
cruelmente mortos por seus conterrâneos porque, em nome da fé católica,
rejeitaram a idolatria e a poligamia. Cristóvão morreu em 1527 e Antônio e João
em 1529.
As crianças
Mártires de Tlaxcala foram declaradas Padroeiras da Infância mexicana.
Outras duas
Canonizações
Por fim, o Papa
Francisco canonizou ainda o sacerdote espanhol, Padre Faustino Míguez, fundador
do Instituto Calazans das Filhas da Divina da Divina Pastora, e o Frade
Menor Capuchinho italiano, Ângelo de Acre.
Faustino Míguez
nasceu em Xamirás, Espanha, em 1831. Frequentando a escola de São José de Calazans,
dedicou-se à educação da infância e da juventude, aos sofrimentos e
enfermidades da alma e do corpo do povo. Ciente da importância do papel da
mulher na família e na sociedade, fundou, em 1875, o Instituto das Filhas da
Divina Pastora, para a promoção humana e cristã das meninas, especialmente das
mais pobres. Padre Faustino morreu em Getafe, aos 94 anos de idade, no dia 8 de
março de 1925.
Ângelo de Acre
nasceu na Calábria, sul da Itália, em 1669. Aos 18 anos, entrou para o Convento
dos Capuchinhos, em Acre. Fez a profissão religiosa em 1691 e recebeu a
ordenação sacerdotal. Como sacerdote dedicou-se à pregação, simples e
fervorosa, acompanhada de milagres e conversões, oração e muitos êxtases. Como
Provincial Capuchinho foi chamado “anjo da paz” e, como verdadeiro filho de São
Francisco, achava necessário carregar cinco pedras preciosas: austeridade,
simplicidade e observância das Regras, inocência de vida e caridade sem
limites. Seis meses antes de morrer foi acometido de cegueira. Em 1739, com 70 anos
de idade, expirou serenamente na sua terra natal, Acre, onde seus restos
mostrais descansam em um grande santuário. (MT).
Homilia
Se se perde o
amor de vista, “a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem alma, uma
moral impossível, um conjunto de princípios e leis a serem respeitadas sem um
porquê”.
Inspirando-se no
Evangelho de Mateus proposto pela Liturgia do dia, o Papa recorda em sua homilia que ”o Reino de Deus é comparável a uma Festa
de Núpcias”. Nós, “somos os amados, os convidados” para estas núpcias, mas “o
convite pode ser recusado”. Neste sentido, somos chamados a “renovar a cada dia
a opção de Deus”, vivendo segundo o amor verdadeiro, superando a resignação e
os caprichos de nosso eu”.
Nós somos os
convidados
Francisco inicia
sua reflexão explicando que o protagonista da festa de núpcias “é o filho do
rei, o noivo, no qual facilmente se vislumbra Jesus”. Mas na parábola, não se
fala da noiva, “mas de muitos convidados, desejados e esperados: são aqueles
que trazem as vestes nupciais:
“Tais convidados
somos nós, todos nós, porque o Senhor deseja «celebrar as bodas» com cada um de
nós. As núpcias inauguram uma comunhão total de vida: é o que Deus deseja ter
com cada um de nós. Por isso o nosso relacionamento com Ele não se pode limitar
ao dos devotados súditos com o rei, ao dos servos fiéis com o patrão ou ao dos
alunos diligentes com o mestre, mas é, antes de tudo, o relacionamento da noiva
amada com o noivo”.
Vida cristã é
uma história de amor com Deus
Em outras
palavras – explica Francisco – o Senhor “não se contenta com o nosso bom
cumprimento dos deveres e a observância de suas leis, mas quer uma verdadeira
comunhão de vida conosco, uma relação feita de diálogo, confiança e amor”:
"Receber o perdão do Senhor, o passo decisivo
para entrar na sala das núpcias e celebrar a festa do amor com Ele"
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Francisco
pergunta porém, se em nosso dia-a-dia nos recordamos de dizer “ao menos uma
vez”, “Senhor, vos amo. Vós sois a minha vida”:
“Com efeito, se
se perde de vista o amor, a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem
alma, uma moral impossível, um conjunto de princípios e leis a respeitar sem um
porquê. Ao contrário, o Deus da vida espera uma resposta de vida, o Senhor do
amor espera uma resposta de amor”.
Reavivar a
memória do primeiro amor
O Papa alerta
para o perigo “de uma vida cristã rotineira, onde nos contentamos com a
«normalidade», sem zelo nem entusiasmo e com a memória curta”.
Neste sentido,
somos chamados a reavivar a memória do primeiro amor: “somos os amados, os
convidados para as núpcias, e a nossa vida é um dom, sendo-nos dada em cada dia
a magnífica oportunidade de responder ao convite”.
A recusa do
convite
Mas este convite
pode ser recusado. O Evangelho – observa o Papa – relata que muitos convidados
disseram não, pois “estavam presos aos próprios interesses”, “ao seu campo, ao
seu negócio”.
A palavra “seu”
– frisa Francisco – “é a chave para entender o motivo da recusa”. Nos afastamos
do amor, “não por malvadez”, mas porque se prefere “as seguranças, a
autoafirmação, as comodidades”:
“Então
reclinamo-nos nas poltronas dos lucros, dos prazeres, de qualquer passatempo
que nos faça estar um pouco alegres. Mas deste modo envelhece-se depressa e
mal, porque se envelhece dentro: quando o coração não se dilata, fecha-se,
envelhece. E quando tudo fica dependente do próprio eu – daquilo com que
concordo, daquilo que me serve, daquilo que pretendo –, tornamo-nos rígidos e
maus, reagimos maltratando por nada, como os convidados do Evangelho que chegam
ao ponto de insultar e até matar aqueles que levaram o convite, apenas porque
os incomodavam”.
Deus é o oposto
do egoísmo
“Deus é o oposto
do egoísmo, da autorreferencialidade”, pois diante de nossas contínuas recusas
e fechamentos, “não adia a festa. Não se resigna, mas continua a convidar”:
“Vendo os
«nãos», não fecha a porta, mas inclui ainda mais. Às injustiças sofridas, Deus
responde com um amor maior. Nós muitas vezes, quando somos feridos por
injustiças e recusas, incubamos ressentimento e rancor. Ao contrário Deus, ao
mesmo tempo que sofre com os nossos «nãos», continua a relançar, prossegue na
preparação do bem mesmo para quem faz o mal. Porque assim faz o amor; porque só
assim se vence o mal”.
Hoje – portanto
– “este Deus que não perde jamais a esperança, nos compromete a fazer como ele,
a viver segundo o amor verdadeiro, a superar a resignação e os caprichos de
nosso “eu” suscetível e preguiçoso".
As vestes dos
convidados
O Papa destaca
então, um último aspecto do Evangelho do dia: “as vestes dos convidados, que
são indispensáveis”. Ou seja, não basta responder ao convite dizendo sim e
basta, “mas é preciso vestir” “o hábito do amor vivido cada dia”, porque “não
se pode dizer “Senhor, Senhor”, sem viver e praticar a vontade de Deus.
Precisamos nos revestir a cada dia do seu amor, de renovar a cada dia a opção
de Deus”:
“Os Santos
canonizados hoje, sobretudo os numerosos Mártires, indicam-nos esta estrada.
Eles não disseram «sim» ao amor com palavras e por um certo tempo, mas com a
vida e até ao fim. O seu hábito diário foi o amor de Jesus, aquele amor louco
que nos amou até ao fim, que deixou o seu perdão e as suas vestes a quem O
crucificava. Também nós recebemos no Batismo a veste branca, o vestido nupcial
para Deus.”
Perdão do
Senhor, passo decisivo para entrar na sala das núpcias
Que “peçamos a
Ele, pela intercessão destes nossos irmãos e irmãs santos, a graça de optar por
trazer cada dia esta veste e de a manter branca”, o que é possível, “antes de
mais nada, indo sem medo receber o perdão do Senhor, o passo decisivo para
entrar na sala das núpcias e celebrar a festa do amor com Ele”.
Segundo a Sala
de Imprensa da Santa Sé, 35 mil fiéis participaram da celebração. (JE)
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Assista:
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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