‘Recriar a vida’... brincando de Deus?
Mais uma
descoberta científica, entre tantas outras, na fronteira do conhecimento humano
na área da genética nos surpreende, levantando uma série de dúvidas,
questionamentos, inquietações e esperanças. A manchete de primeira página em
vários Jornais Brasileiros informa: “Ciência cria primeira célula sintética:
Bactéria com DNA montado a partir de informações vindas de computador ganha
vida e passa a se replicar” (Folha de São Paulo, 21/05/2010); “Pesquisadores
produzem a primeira forma de vida ‘sintética’ em laboratório” (O Estado de São
Paulo, 22/05/2010). Estamos definitivamente entrando na chamada era genômica e
muito próximos da criação da chamada “vida artificial” neste início de século
XXI, afirmam muitos pesquisadores nesta área da genômica.
Vejamos ainda
que de forma sintética algumas informações básicas para entendermos esta
descoberta que deverá entrar para a história como um dos maiores e mais
polêmicos feitos científicos da biologia moderna. Este invento foi realizado
pela equipe de pesquisadores liderada pelo cientista e empresário
norte-americano Craig Venter, sempre polêmico e audacioso, no instituto que
leva seu nome (J. Craig Venter Insitute) em Mariland, EUA. É bom lembrar
que este cientista também liderou um projeto privado que sequenciou um dos
primeiros genomas humanos no ano 2000.
Grave equívoco humano: "querer ser Deus" |
Como foi feita a
pesquisa? Para criar um organismo sintético, a equipe de pesquisadores de
Venter começou por reconstruir, com a ajuda de um computador, o genoma de uma
bactéria comum, Mycoplasma mycoides. A informação foi colocada em um
sintetizador de DNA, que produziu filamentos de DNA. Esses filamentos foram
costurados ao serem inseridos em levedura e depois em bactérias E.coli. Os
mecanismos naturais de reparo da bactéria resultante viram os filamentos como
fragmentos partidos e os reuniu. Após várias rodadas, os cientistas montaram
todas as letras do genoma da bactéria. Para marcar o genoma como sintético,
inseriram novos filamentos de DNA, cada um deles uma marca d’água que carrega
mensagens codificas. O passo crucial ocorrei a seguir: eles transferiram o
genoma sintético para outro tipo de bactéria comum. À medida que se
multiplicava, ela passava a usar o genoma sintético. Venter chama o organismo
de “célula sintética” porque ele sobrevive graças a um genoma criado pelo
homem.
A nova bactéria,
diz Venter “é a prova do conceito de que podemos fazer, em teoria, mudanças por
todo o genoma humano de um organismo, adicionar novas funções, eliminar as que
não queremos e criar novos organismos industriais que fariam o que quiséssemos.
Até que esse experimento funcionasse, o campo era teórico. Agora, é real”.
As reações
frente a este feito são contrastantes. Vão desde as que suscitam excesso de
otimismo, beirando cenários de ficção científica, apontando para benefícios
potenciais enormes, tais como, a possibilidade de sintetizar combustíveis a
partir da criação de algas que absorvem CO2 da atmosfera, vacinas, produção de
alimentos. No pólo oposto surgem inquietações sérias, apontando perigos que vão
desde o bioerro ao bioterror. O próprio Venter afirma que necessitaremos de
regulamentação ética severa para assegurar que os organismos sintéticos não
escapem e causem danos. “É claro que essa tecnologia tem dois gumes e isto
requer uma responsabilidade imensa de quem a usa.
Nós estamos
entrando em uma nova era estimulante, na qual estamos limitados principalmente
pela nossa imaginação”, afirma Venter.
Ainda é muito
cedo para sabermos das reais conseqüências deste feito. Não podemos e não
devemos “endeusar” e muito menos “satanizar”. Necessitamos de muita prudência,
colocando em ação o princípio ético da precaução que se traduz na ética da
responsabilidade que dialogue com a ciência. Este é o caminho que gera
esperança e não o otimismo falso que é ilusório Nesta perspectiva o ser humano
é “cocriador”, enquanto aperfeiçoa o mundo criado. Não se trata da criação da
vida do nada, mas de recriação a partir de uma vida existente. No princípio da
vida, nós cristãos acreditamos que temos a ação do Deus criador e não o feito orgulhoso
do ser humano de “querer ser Deus”.
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Fonte: a12.com Foto: shutterstock
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