Desarmar-se
Jesus é o maior exemplo de vida e ensinamento sobre o desarmamento de ânimo para o trato com o semelhante.
Saber trabalhar
para dominar o desejo de vingança é saber domar nossos instintos para nosso
próprio benefício e também do semelhante. Até para usar bem da inteligência a
pessoa que deseja tirar a vida do outro vai pensar bem nas consequências para
si mesmo: a prisão, o “carimbo” ou a marca de criminoso para toda a vida, a
consciência pesada, a discriminação... além do grande pecado diante de Deus e
dos homens.
Jesus ensina sobre o amor e o perdão |
O desarmamento
pessoal do impulso de querer fazer justiça com as próprias mãos exige um rito,
uma ascese ou exercitação, para não se deixar levar por um impulso emotivo
momentâneo. No dito popular encontramos o dado de sabedoria que ensina a pessoa
a contar até dez antes de tomar decisão precipitada. Na ascese cristã encontramos
muitos meios para nos conter e, ao invés de retaliarmos ou nos vingarmos, vamos
nos lembrar do ensinamento de Jesus: “perdoar... até aos inimigos... fazer o
bem a quem nos odeia...”(Mateus 5,43.44). Já entre os antigos judeus havia o
ensinamento: “Não tenhas no coração ódio contra teu irmão” (Levítico 19,17). A
oração é outra fonte de paz e de força para o entendimento, a misericórdia e o
perdão.
Quando há a
sublimação dos impulsos instintivos, a pessoa promove mais o entendimento, o
diálogo na família, na comunidade e em toda a convivência humana. Promove-se o
armistício entre facções, comunidades e nações. As guerras não terão mais
cabimento. Até se diz no ditado popular: “Mais vale um mau acordo do que uma
boa demanda”. O desgaste é menor, com menos prejuízo tensional e vivencial.
Por outro lado,
a ascese para o desarmamento de ânimo é vista na atitude da humildade. Ela leva
a pessoa a perceber que não é melhor dos que os outros. Se esses erraram e
erram, também nós erramos ou estamos sujeitos ao erro, talvez de modo pior do
que os outros. O próprio Jesus adverte aos que queriam apedrejar a mulher
adúltera: “Quem não tiver pecado atire a primeira pedra”. Nessa perspectiva o
apóstolo Paulo lembra: “Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas
coisas deste mundo, reconheça sua insensatez, para se tornar sábio de verdade;
pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus” (1 Coríntios 3,18).
Jesus é o maior
exemplo de vida e de ensinamento sobre o desarmamento de ânimo para o trato com
o semelhante. Ele podia ter usado o poder que tinha para aniquilar seus
opositores. Ao invés de condenar os inimigos ele ensina: “Vós ouvistes o que
foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’. Eu, porém, vos digo, não
enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face
direita, oferece-lhe também a esquerda!’” (Mateus 5, 38-39). Até do alto da
cruz Ele pede perdão ao Pai pelos algozes dizendo que eles não sabem o que
fazem (Cf. Lucas 23,34).
É evidente que
precisamos trabalhar e ajudar a tirar as causas dos ódios e dos entendimentos.
Precisamos, porém, começar a fazê-lo com a nossa própria exercitação nesta
prática. Se todos colaborarem para isso, teremos um mundo de menos agressões e
desentendimentos!
Dom José Alberto
Moura - Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
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Fonte: radiovaticana.va Ilustração: blog.cancaonova.com
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