A relevância pública da fé cristã
Os cristãos, não são os únicos responsáveis pelos rumos do mundo, contudo, têm a consciência de que não podem se omitir diante dos rumos que o mundo vai tomando. Afinal, os marginalizados, os excluídos, as vítimas das guerras e os pobres carecem de um bom samaritano.
Dom Leomar Brustolin |
O atendimento
aos mais pobres da sociedade ainda é garantido por obras que a Igreja mantém.
Por outro lado, não é possível manter essa atitude sem identificar as causas
dessa desigualdade bem visível. Na Carta Encíclica Laudato Si', o
Papa Francisco denuncia uma opinião pública generalizada que não procura
resolver os problemas dos pobres e limita-se a propor uma redução da
natalidade. “Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e
seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas”. (LS, 50)
A Igreja,
portanto, garantindo a assistência aos idosos, crianças, doentes e todos os
abandonados no isolamento das grandes cidades, precisa ser uma voz profética
que desmascare as causas da injustiça social. Através da categoria vida, desde
a concepção até a morte natural, o testemunho cristão se traduz no compromisso
com os crucificados sobre a terra e, de acordo com a crescente consciência
ecológica, também com a criação pecaminosamente devastada.
A
evangelização não é uma linha estabelecida e bem demarcada entre o espaço
sagrado e o profano, entre o âmbito eclesiástico e o mundano, não é o limiar da
realidade, mas é o lugar e a hora decisiva para a salvação do ser humano. É o “hic
et nunc”, o aqui e agora, no qual a totalidade de uma existência se decide a
favor ou contra Cristo.
A Igreja é
chamada a renovar-se incessantemente na escuta da Palavra de Deus, deixando-se
julgar e purificar no seguimento de Cristo. Para ser evangelizadora das
periferias, toda comunidade de fé é chamada a reconhecer continuamente os
sinais de Deus na história.
A
evangelização atual exige a Igreja em “saída”, como afirma o Papa Francisco,
saída de um meio demasiadamente fechado sobre si mesmo, separado da massa dos
cidadãos, pouco aberto às novas correntes culturais, ainda que essa postura de
reserva procure ser uma atitude de prudente defesa de valores
irrenunciáveis.
Certamente, não se tem tudo claro sobre como realizar a inculturação do Evangelho na cultura contemporânea. Dela depende uma presença pública da Igreja com maior impacto na sociedade.
Dom Leomar Antônio Brustolin - Arcebispo de Santa Maria (RS)
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