celebração única até
Pentecostes
"Todo o culto cristão não é nada mais
que uma celebração continuada da Páscoa. Como o sol, que não cessa de
levantar-se sobre a terra, atrai para sua órbita todos os astros, a noite da
Páscoa é rodeada por todas as eucaristias que continuamente e diariamente, a
cada minuto, são celebradas em toda a terra, porque participam da Páscoa, assim
como participam todos os sacramentos, sacramentais e gestos litúrgicos."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Santa Missa de Páscoa em 04/04/2021 (Vatican Media) |
O tempo da Páscoa, que dura 50 dias (sete
vezes sete dias), é o Pentecostes, que não é apenas o último dia, mas todos os
50 dias, afirmava o monge beneditino alemão Odon Casel.¹
Mas, qual o significado da Oitava e do
tempo de Páscoa? Este inclui, em primeiro lugar, o Domingo de Páscoa com os
sete dias seguintes (que culminam no Domingo in Albis, chamado hoje da
Divina Misericórdia) e continua por mais 40 dias até a Ascensão, para terminar
no 50° dia com Pentecostes.
Desde o século III, os cristãos começaram a estender algumas festividades para além do seu próprio dia. Assim, as alegres celebrações da Páscoa eram prolongadas e duravam pelo menos oito dias inteiros. Os cristãos sentiam cada dia da Oitava como se fosse o Domingo de Páscoa. Esta tradição foi preservada quer no rito romano como em vários ritos orientais.
Durante a Oitava da Páscoa não era
realizado nenhum trabalho, era uma celebração contínua. Os neófitos, batizados
pelo Papa na Vigília Pascal, deviam participar da Missa e receber a
Sagrada Comunhão todas as manhãs em uma igreja diferente em Roma. À noite iam a
São João de Latrão para o ofício das Vésperas, geralmente presidido pelo Papa.
Os recém-batizados usavam a veste batismal durante toda a Oitava.
Estas particulares tradições batismais
caíram em desuso, mas a Oitava da Páscoa continua a ser um momento de
celebração para todos, um período de alegria para permanecermos ancorados na
beleza da Ressurreição do Senhor. A Páscoa, de fato, é um momento de celebração
comunitária, para louvar a Deus e desfrutar da companhia dos irmãos na fé.
E neste contexto da Páscoa da
Ressurreição, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão “Tempo Pascal
– celebração única até Pentecostes”:
“A Páscoa não é uma celebração qualquer,
mas a celebração das celebrações, noite das noites. Para a Páscoa convergem
todas as celebrações e ações eclesiais. Nós não celebramos a Páscoa. É a Páscoa
que se celebra em nós. É a páscoa que vem com potência a nós, onde Deus irrompe
com o seu poder e nos convida a sair de nossos Egitos, de nossas trevas, das
escravidões e vícios, graças ao Redentor-Ressuscitado.
Por isso, a oitava da Páscoa é como o mesmo
e único dia pascal, estendido também até Pentecostes. São 50 dias pascais, como
se fosse uma única celebração em tom de aleluia, alegria, louvor, júbilo e
festa. No Caderno do Concílio de número 13 – publicação da CNBB para a
preparação o Ano Jubilar 2025, nos aponta sobre o precioso Tempo Pascal – O
Ressuscitado entre nós, usando subtítulo Laetíssimum Espatium (período
de grande alegria), descrevendo desta forma: “Algumas festas principais do
Cristianismo precisam de certo tempo para serem acolhidas e assimiladas. Na
Igreja Primitiva, o mistério pascal era celebrado não só nos três dias de
Tríduo, mas também nas sete semanas seguintes, conhecidas como o “Tempo Pascal
dos 50 dias”, como acorda o termo grego Pentecoste (50 dias) ”. E continua o
texto do Dicastério para a Evangelização, afirmando que “a normativa litúrgica
aconselha os cristãos a celebrarem os 50 dias que se sucedem do domingo da
Ressurreição até o domingo de Pentecostes “com alegria e exultação, como um
único dia de festa, aliás como grande domingo em que a Igreja se
alegra, com o cântico de Aleluia, pela vitória do Senhor sobre a morte e pela
vida nova que a participação no mistério Pascal fez germinar nos fiéis. Não é
por acaso que os domingos desse período não se chamam “Domingos depois da
Páscoa”, mas sim domingos “da Páscoa”, que com seu conteúdo mistérico se
expande nesse tempo repleto de presença do Ressuscitado. É precisamente essa
presença que faz com que o período Pascal seja considerado como Laetíssimum
Espatium (período de grande alegria), expressão cara a Tertuliano, período
habitado por imensa e intensa alegria pela promessa mantida pelo Senhor: “Eu
estou convosco todos os dias até o fim dos tempos”(Mt 28,20)².
No agora de nossa vida, o Kairós do hoje
(termo grego que significa o momento presente da ação da graça de Deus), a
Páscoa vem para ser celebrada em nós com uma dimensão totalmente
transformadora, criativa e nova. O movimento da revelação de Deus não é
ascendente, mas descendente. A Páscoa também. Cristo quem desce, quem mergulha
em nossa história e vem realizar Páscoa conosco, irrompendo com seu amor
ofertante. A festa pascal é o lugar onde tudo converge e a fonte da qual tudo
emana. Todo o culto cristão não é nada mais que uma celebração continuada da
Páscoa. Como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra, atrai para sua
órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as eucaristias
que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em toda a terra,
porque participam da Páscoa, assim como participam todos os sacramentos,
sacramentais e gestos litúrgicos. As variadas ações eclesiais são tudo pequenas
celebrações e desdobramentos da grande Páscoa, do esplendor do Mistério Pascal.
Somos todos filhos desta Igreja que redescobriu o valor e o sentido da Páscoa.
Em outras palavras, somos filhos da Páscoa, filhos no Filho, pelo mergulho
batismal gestado na Vigília Pascal. O movimento litúrgico, bíblico e toda a
renovação conciliar trouxeram esse dinamismo a Páscoa, para colocar em
movimento a história e o mundo todo nessa dinâmica salvífica. Na Páscoa, todas as
coisas são renovadas e recapituladas em Cristo, como afirma São Paulo. A Páscoa
é a chave de toda a interpretação bíblica, de toda a interpretação sacramental,
de toda teologia de nossa Igreja Católica.
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