tempo de Renascimento e Canto Novo
"O Mistério Pascal é, pois, o centro
de toda a liturgia, de toda ação eclesial, de toda a pregação, de toda a
missão. Sem a Ressurreição de Cristo não se entende as Escrituras, os
sacramentos, a doutrina, a evangelização, o sentido da comunidade reunida, o
sentido da dor e do sofrimento. Cada liturgia, cada etapa do ano litúrgico,
cada momento vivido no tempo de celebração é um desdobramento da grande
notícia: Jesus vive e é o Senhor da morte! Ele ressuscitou verdadeiramente!
"
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
As sete semanas do Tempo Pascal, o mais
longo dos tempos fortes, indicam plenitude, realização, perfeição. Os oito
domingos fazem-nos compreender como o Senhor que morreu, foi sepultado,
ressuscitou, subiu ao céu e enviou o Espírito à Igreja nascente, é o
cumprimento e a plenitude das obras de Deus. Os cinquenta dias da Páscoa são um
pedaço de vida eterna no tempo. É por isso que o tempo da Páscoa é como um
“único grande domingo”.
A Páscoa, de fato, é a festa fundamental do
culto cristão. Nela, o homem é chamado a passar da sua inata fragilidade à vida
nova em Cristo ressuscitado. Sua Ressurreição nos torna novas criaturas para a
vida eterna. Deus Pai, na Páscoa, abriu-nos a passagem para a vida eterna,
fez-nos entrar no caminho da salvação eterna.
Na reflexão “Tempo Pascal é tempo de Renascimento
e Canto Novo”, Pe. Gerson Schmidt* também nos fala sobre a liturgia
no tempo pascal:
"A riquíssima Constituição Sacrosanctum
Concilium fala sobre a importância do Ano Litúrgico no número 102.
Afirma assim: “A Santa Mãe Igreja julga seu dever celebrar em certos dias, no
decurso do ano, com piedosa recordação a obra salvífica de seu divino Esposo.
Em cada semana, no dia que ela chamou Domingo, comemora a ressurreição do
Senhor, celebrando-a uma vez também na solenidade máxima da Páscoa, com sua
Sagrada Paixão. No decorrer do ano, revela todo o mistério de Cristo, desde a
Encarnação e Natividade, até a Ascensão, Pentecostes e a expectação da feliz
esperança e vinda do Senhor. Celebrando destarte os Mistérios da Redenção,
franqueia aos fiéis as riquezas do poder santificador e dos méritos de seu
Senhor, de tal sorte que, de alguma forma presentes em todo tempo, para que os
fiéis entre em contato com eles e sejam repletos de graça e salvação”.
Portanto, a solenidade máxima, para a qual convergem todas as outras
celebrações, é a Páscoa, com sua Sagrada Paixão.
Desde o Advento, o nascimento de Cristo até
sua ascensão ao céu e depois a festa de Pentecostes, o mistério pascal está por
detrás, na perspectiva, no horizonte e no pano de fundo de todas as
festividades e motivações. O Mistério Pascal é, pois, o centro de toda a
liturgia, de toda ação eclesial, de toda a pregação, de toda a missão. Sem a
Ressurreição de Cristo não se entende as Escrituras, os sacramentos, a
doutrina, a evangelização, o sentido da comunidade reunida, o sentido da dor e
do sofrimento. Cada liturgia, cada etapa do ano litúrgico, cada momento vivido
no tempo de celebração é um desdobramento da grande notícia: Jesus vive e é o
Senhor da morte! Ele ressuscitou verdadeiramente!
A pedido do Papa Francisco, o Dicastério
para a Evangelização propõe um rico subsídio para a celebração Jubilar do ano que
vem. Os Cadernos do Concílio são muitos. O de número 13 – Jubileu 2025 – Os
tempos fortes do Ano Litúrgico – Edições CNBB, publicados no ano de 2023,
nos aponta a profundidade desse tempo pascal. Aponta assim esse subsídio
na página 30: “...a liturgia deste período pascal nos leva a rezar pedindo ao
Pai poder viver “com ardor esses dias de júbilo em honra do Senhor
ressuscitado”(MR, p.351), exorta-nos também, à medida que os dias passam,
inexoravelmente, a reconhecer o ressuscitado que está no meio de nós(cf. Jo 20,
19-29), superando o medo do tempo que tudo devora e as situações de
precariedade e vulnerabilidade que nos prendem na solidão e no desânimo. É,
portanto, uma mensagem de esperança aquela que vem do Tempo Pascal e se destina
ao tempo presente pela preocupação com o futuro o renovado esforço de que o
cristão deve estar investido, revigorado a partir da consciência de que esse
Tempo é tempo de Renascimento e de comunhão fraterna”. O Ressuscitado que vive
entre nós supera o medo de tudo. É como diz São Paulo: “Pois estou convencido
de que nem morte nem vida, nem anjos, nem demônios, nem o presente nem o
futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra
coisa alguma na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em
Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8, 38-39).
O Tempo Pascal, portanto, é um tempo
maravilhoso de Renascimento, tal como a primavera. A vida nova vai surgindo de
Páscoa em Páscoa, na caminhada do Ano Litúrgico que não se repete
rotineiramente, mas que gera vida cada vez maior e mais profunda. Tal como um
rio que nunca se cruza duas vezes, mas é como se fosse a primeira vez: primeira
razão, porque as águas antigas já se foram rio abaixo; segunda razão, porque
nossa história já mudou e as circunstâncias são diversas da vida pessoal. Desta
forma é o renascimento em cada liturgia, em cada tempo, em cada Páscoa, em cada
gesto ofertante.
Continua assim o subsídio Cadernos do
Concilio, afirmando que “a Páscoa coincide com o período da primavera - nos
países do Hemisfério Norte - em que tudo volta à Vida e isso não nos gera meros
efeitos sentimentais, mas provoca um despertar da consciência do homem para que
volte a pertencer a Cristo e se reconhecer criatura de Deus. A presença do
Ressuscitado em meio a seus discípulos é fonte de vida nova, vida inaugurada
pela Páscoa, pela qual a eternidade flui de volta ao tempo presente,
contagiando-o de nova vitalidade”. Há uma nova realidade inaugurada pela Páscoa
e vitalidade totalmente nova recriada pelo Ressuscitado, vivo e presente no
meio de nós, recapitulando toda a criação.
Transcorridos 40 dias de quaresma, podemos
novamente fazer retumbar os “aleluias”. Devemos cantar Aleluia para captar o
sentido da Páscoa. Cantando, vemos a ressurreição no corpo. No canto, o ressuscitado
emerge da Pedra que faz peso no coração e nos bloqueia. “Enquanto cantamos,
podemos sentir a vida e o amor em nós, porque o amor quer e deve ser cantado. O
entendimento só se expressa com palavras, mas o canto desperta em nós e surge
diante de nós uma imagem do que cantamos, uma imagem do Bem-Amado. Sentimos que
o Ressuscitado está realmente entre nós e, sim, está em nós. A ressurreição
está acontecendo em nós. Enquanto cantamos, sentimos: A pedra foi removida, ela
não me bloqueia mais. O túmulo se abriu, Cristo Ressuscitou, está comigo e
comigo sai de minha tumba. Agora posso transpor meus limites, posso me superar,
sinto a vida em mim, algo florescer em meu ser. E basta cantar para abrir
espaço para esta vida em mim. O Aleluia é o novo canto, que permaneceu mudo na
Quaresma. Em seus sermões, Santo Agostinho costumava referir-se ao cântico da
Páscoa como expressão de uma nova vida: ‘Somos convidados a cantar um canto
novo ao Senhor. O homem novo conhece o canto novo. O canto é uma manifestação
de alegria e, se examinarmos bem, uma expressão de amor. Quem, portanto,
aprendeu a amar a vida nova, aprendeu também a cantar o canto novo. Cantai com
a voz, cantai com o coração, cantai com os lábios, cantai com a vida, sede vós
mesmos o canto que ídes cantar!”[1]"
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