Ressuscitar das Cinzas
Quarenta dias antes da Páscoa, a Igreja
abre solenemente o tempo de penitência, chamado Quaresma, em preparação para a
celebração da Páscoa. É a Quarta-feira de Cinzas, entre nós bastante
prejudicada pelo carnaval.
Neste dia, após a Liturgia da Palavra, em
que se proclama o trecho do Evangelho em que Cristo recomenda a oração, o jejum
e a esmola como exercícios de conversão (cf. Mt 6,1-18), realiza-se o rito da
imposição das cinzas. Elas são sinal de penitência, no sentido de conversão. A
conversão consiste, sobretudo, no reconhecimento de nossa condição de criaturas
limitadas, mortais e pecadoras. No gesto de imposição das cinzas sobre a cabeça
das pessoas, o sacerdote ou o ministro diz: “Convertei-vos e crede no
Evangelho”. A conversão consiste em crer no Evangelho. Crer é aderir a ele,
viver segundo os ensinamentos do Senhor Jesus. Pode-se usar também a fórmula
tradicional: “Lembra-te que és pó e ao pó hás de voltar”. Numa das orações de
bênção das cinzas se diz: “Reconhecendo que somos pó e que ao pó voltaremos,
consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver
uma vida nova, à semelhança do Cristo ressuscitado”.
A origem das cinzas usadas tem seu
significado. Elas são preparadas pela queima de palmas usadas na procissão de
Ramos do ano anterior. Lembram, portanto, o Cristo vitorioso sobre a morte. A
palma é símbolo de vitória e de triunfo. Assim, se os cristãos aceitam
reconhecer sua condição de criaturas mortais, e transformar-se em pó, ou seja,
passar pela experiência da morte, a exemplo de Cristo, pela renúncia de si
mesmos, participarão também da vida que ressurge das cinzas.
Aqui vale a pena lembrar uma lenda egípcia.
Fênix era uma ave fabulosa que durava muitos séculos e, queimada, renascia das
próprias cinzas. Foi fácil perceber que ela é símbolo da ressurreição de Cristo
e dos que aceitam viver na atitude de Cristo.
Certamente não é fácil aceitar ser cinza.
Contudo, a fé em Jesus Cristo ressuscitado faz com que a vida renasça das
cinzas. Jesus Cristo faz brotar a vida, onde o ser humano reconhece sua
condição de criatura necessitada da ação de Deus. É entrar na atitude pascal.
Texto de “Viver o Ano Litúrgico – Reflexões
para os domingos e solenidades”, de Frei Alberto Beckhauser, Editora Vozes.
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