domingo, 26 de fevereiro de 2023

Vale a pena refletir:

As tentações da Igreja de hoje

José Antonio Pagola

A primeira tentação acontece no “deserto”. Depois de um longo jejum, dedicado ao encontro com Deus, Jesus sente fome. É então que o tentador lhe sugere atuar pensando em si mesmo, esquecendo o projeto do Pai: “Se és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pão”. Jesus, desfalecido, mas cheio do Espírito de Deus, reage: “Nem só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Ele não viverá buscando seu próprio interesse. Não será um Messias egoísta. Multiplicará os pães quando os pobres estiverem passando fome. Ele se alimentará da Palavra viva de Deus.

Sempre que a Igreja busca seu próprio interesse, esquecendo-se do projeto do Reino de Deus, ela se desvia de Jesus. Sempre que nós, cristãos, antepomos nosso bem-estar às necessidades dos últimos nos afastamos de Jesus.

A segunda tentação ocorreu no “templo”. O tentador propõe a Jesus fazer sua entrada triunfal na cidade santa, descendo do alto como Messias glorioso. A proteção de Deus estará assegurada. Seus anjos “cuidarão” dele. Jesus reage rapidamente: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Ele não será um Messias triunfador. Não colocará Deus a serviço de sua glória. Não fará “sinais do céu”. Só sinais para curar enfermos.

Sempre que a Igreja coloca Deus a serviço de sua própria glória e “desce do alto” para mostrar sua própria dignidade, ela se desvia de Jesus. Quando nós seguidores de Jesus buscamos mais “nos dar bem” do que “fazer o bem”, também nos afastamos dele.

A terceira tentação sucede numa “montanha altíssima”. Dela se divisam todos os reinos do mundo. Todos estão controlados pelo diabo que faz a Jesus uma oferta assombrosa: ele lhe dará todo o poder do mundo, mas com uma condição: “se te prostras e me adoras”. Jesus reage violentamente: “Vai-te, satanás”. “Só ao Senhor, teu Deus, adorarás”. Deus não o chama para dominar o mundo como o imperador de Roma, mas para servir aos que vivem oprimidos por seu império. Jesus não será um Messias dominador, mas servidor. O Reino de Deus não se impõe com poder, mas se oferece com amor.

A Igreja tem que afugentar hoje todas as tentações de poder, de glória ou dominação, gritando com Jesus: “Vai-te, satanás” O poder mundano é uma oferta diabólica. Quando nós cristãos o buscamos, nos afastamos de Jesus.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                               Fonte: franciscanos.org.br             Ilustração: vaticannews.va

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