Quaresma: caminho pascal
A Quaresma inicia na Quarta-Feira de
Cinzas. São 40 dias em preparação à Páscoa. Biblicamente, 40 é o número da espera, da preparação,
da penitência e do jejum. Recordam-se os 40 dias que choveu durante o dilúvio.
(Gn 7,4). Moisés esperou 40 dias para receber as Tábuas da Lei. Os israelitas
peregrinaram 40 anos no deserto em preparação à entrada na Terra Prometida. (Ex
16,35). Quarenta é, portanto, um número redondo que indica um tempo provisório
de preparação para algo que virá.
A Quaresma nos ensina o caminho da
purificação e da iluminação. Nela acolhemos as palavras de Jesus:
“Convertei-vos e crede no Evangelho.” (Mc 1,15). Não é uma simples mudança
de vida, mas é a acolhida do amor de Deus, que reconcilia o mundo consigo. É
tempo de reconhecer a infidelidade, a falta de conversão, de
arrependimento, de acolhida e do perdão que sai do coração do Pai. O período
quaresmal leva-nos a uma atitude de acolhida do amor misericordioso que vem
de Deus e nos interpela para amar os irmãos com solidariedade e compaixão.
É tempo de viver a compaixão com Cristo e com os irmãos.
Urge, no entanto, recuperar uma dimensão
que o Papa Bento XVI muito bem salientou: a vivência do Batismo. Preparados e
purificados pelo tempo penitencial, renovamos nossa consciência de batizados.
Somos filhos da Páscoa. O Concílio Vaticano II insistiu na dupla índole da
Quaresma: Batismo e Penitência. Mediante o Batismo, Cristo nos reconciliou com
o Pai. Pela sua morte na cruz e por sua ressurreição somos uma nova criatura.
Esquecendo do caráter batismal, os exercícios quaresmais caem facilmente num
esforço desconectado do mistério pascal de Jesus. Há quem recorde a cruz e esqueça
a ressurreição.
Para recuperar a relação entre
Batismo e Penitência, nesse tempo, a Igreja nos propõe três práticas sugeridas
pelo Evangelho segundo Mateus (6,1-8;16-18): esmola, oração e jejum.
São propostas de novas relações do ser humano consigo mesmo, com os outros, com
as coisas e com Deus. A oração não pode ser uma tentativa de exigir que Deus
cumpra a nossa vontade. Rezar é entregar a vida nas mãos do Pai, para que se
realize a sua vontade em nós. Não basta pedir ou agradecer, é preciso escutar
o Senhor. Sem a oração não nos convertemos.
A prática do jejum não pode ser um
formalismo de dieta ou de regime alimentar. O princípio fundamental do
jejum é a solidariedade. Essa é outra dimensão a ser recuperada no período
quaresmal. Desde a Antiguidade cristã, a Igreja faz muita caridade com o que é
arrecadado pelo jejum quaresmal por meio da esmola. Ao deixar de comer carne,
ou chocolate, ou de beber refrigerante, durante a quaresma, o cristão reserva
recursos para fazer uma esmola mais generosa em favor dos outros. No Brasil, a
coleta da Campanha da Fraternidade, realizada no Domingo de Ramos, é uma
ótima ocasião para oferecer o resultado do jejum quaresmal em forma de
esmola.
Não há conversão a Deus sem atenção
ao amor fraterno. Dar esmola é uma atitude de compaixão. Nada é mais
estranho ao Evangelho do que o cinismo e a apatia em relação ao outro. Não
se pode, contudo, sustentar a mendicância, a drogadição ou o paternalismo.
É preciso saber do que a pessoa precisa, não somente o que está pedindo. Ajudar
é envolver-se, e dar esmola não é desviar-se desse cuidado.
Procuremos resgatar as dimensões
batismal e penitencial da Quaresma, vivendo essa oportunidade de uma maior
intimidade com Jesus Cristo. Nele somos banhados e iluminados como criaturas
novas, capazes de viver a alegria pascal em meio às “quaresmas”
cotidianas.
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