A conversão da Igreja Paroquial
A Congregação para
o Clero promulgou, no dia 20 de julho, uma instrução chamada A CONVERSÃO
PASTORAL DA COMUNIDADE PAROQUIAL A SERVIÇO DA MISSÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA.
Sem a menor dúvida, é nas paróquias que se encontra o primeiro núcleo-base da
Igreja. Qualquer outra manifestação eclesial só acontecerá dentro de uma
paróquia. Onde houver um cristão-católico, ele estará imerso numa realidade
paroquial, seja ela em âmbito geográfico ou missionário. Todos os que cremos,
vivemos numa paróquia.
Por isso é tão
importante conhecer esse documento.
Dom José Francisco Rezende Dias |
Criatividade, para
o Papa Francisco, significa «procurar novas estradas», «procurar a
estrada para que o Evangelho seja anunciado», com novas possibilidades e
liberdade, a grande herança do Espírito de Deus.
Mas nada substitui
a verdadeira conversão pastoral num sentido missionário, permanentemente
disposto a romper limites, sobretudo os geográficos, num convite às comunidades
paroquiais para saírem delas mesmas, e promoverem reformas estruturais. Todo
corpo vivo só se mantém vivo se suas células forem constantemente renovadas.
Mesmo na velhice, as células se renovam. Só a morte põe fim à renovação.
O Papa
afirmou: «Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a
nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz
e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os
acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar,
espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma
falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos
hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão
faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6,
37).
A Igreja quer se
reformar.
Na mão direita,
ela segura a Palavra de Deus, fonte da própria vida. Com a outra mão, ela
abraça o mundo, certa de que o mundo espera e precisa desse abraço. O Verbo
Divino «se fez carne e veio habitar no meio de nós» (Jo 1,14). Essa é
a garantia do amor de Deus por nós. Essa novidade não pode se dissolver como
éter. “Para continuar o percurso da Palavra, é necessário que nas
comunidades cristãs se atue uma decisiva escolha missionária, capaz de
transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e
toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização
do mundo atual que à autopreservação».
Que palavras
fortes! Estamos à altura delas?
É sempre numa
paróquia que essa pergunta ecoa; é nela que a resposta pode acontecer. A
paróquia no meio do mundo é a consequência lógica da Encarnação de Jesus
Cristo, sinal da presença permanente do Senhor Ressuscitado no meio do seu
Povo.
Esse é o primeiro
momento, depois da era das navegações no século XVI, em que o mundo novamente
se expande. Um novo mundo exige novas configurações. Com a realidade da
Paróquia não poderia ser diferente. O mundo pós-moderno se move o tempo todo, a
cultura digital dilatou os confins da existência. Cada vez mais, a vida das
pessoas se identifica menos com contexto imutável. O território humano é
presidido pela pluralidade. Isso traz maravilhamentos e desafios. Tudo se
modificou de maneira irreversível: a compreensão do espaço, da linguagem e dos
comportamentos. Nunca o homem experimentou uma compreensão tão grande e tão
dilacerada de si e da vida social. Rapidez das alterações, mudança dos modelos
culturais, facilidade para os deslocamentos, velocidade da comunicação
transformaram a percepção de tudo o que havia antes.
É nesse contexto
que a paróquia está inserida, e nem podia ser diferente. A quem pensa que o
contexto não rege as opções, resta a pergunta cabal: em que mundo você vive?
Diante do espaço virtual,
os lugares de pertença tornaram-se múltiplos, as relações interpessoais cada
vez mais voláteis. É preciso acompanhar o tempo, porque o tempo não nos
acompanha.
Cada vez mais, a
paróquia é chamada a adequar seu serviço às exigências dos fiéis e das
alterações históricas. Discernir o momento histórico é a mãe de todos os
discernimentos. Só quando cada batizado se tornar, realmente, discípulo de
Jesus e missionário do Evangelho, à luz que emana da Igreja, podemos dizer que
a sociedade humana encontrou seu rumo e seu prumo. Até lá, resta muito a viver
e a fazer.
Somos missionários
dentro das paróquias. Por isso, é importante repensar uma nova experiência de
paróquia e de Igreja. Tanto o povo cristão como os sacerdotes têm o compromisso
de ser “sal e luz do mundo” (Mt 5,13-14), “lâmpadas no
candelabro” (Mc 4, 21), estampando uma face renovada e evangelizadora,
capaz de reler os sinais dos tempos, num testemunho coerente de vida no
Evangelho e para o Evangelho.
Os tempos são
outros. Não podemos ser os mesmos.
Nos sinais dos
tempos, fala a voz do Espírito. Precisamos entender e gerar novos sinais: a
paróquia é chamada a perceber e a se perceber dentro desse mudo em mudanças.
Que isso não seja um peso, mas um desafio acolhido com o mesmo entusiasmo da
juventude. Em alguma parte de nós, um jovem insiste em permanecer. Conduzido
com cuidado e atenção, ele será uma força viva, mesmo porque não existem forças
mortas.
Os discípulos do
Senhor aprenderam a esperar os tempos e os modos de Deus, e a alimentar a
certeza de que Ele estará sempre presente entre os seus, até o fim dos tempos.
Não estamos sozinhos. O Espírito Santo – coração da Igreja – nos reúne onde
quer que estejamos espalhados. É preciso confiar. A confiança opera milagres
impensáveis.
A proclamação do Evangelho
acontece através de homens e mulheres que anunciam com a vida aquilo em que
acreditam. É Jesus quem nos pede a «avançar sempre mais profundo» (Lc
5,4), a lançar as redes na certeza de uma pesca abundante.
Ser solidário,
hoje, é a grande proposta e a maior garantia de que o Evangelho e a Igreja não
perderam seu lugar na contextura do mundo. A “cultura do encontro” promove o
diálogo, a solidariedade e a abertura a todos, fazendo emergir a centralidade
da pessoa. A paróquia é onde estamos juntos, onde cada um percebe que existe e
é querido. O mundo nos olhará com outros olhos se um dia realizarmos o sonho de
que ele não foi capaz: aproximar as pessoas. A paróquia é esse asilo no mundo
moderno.
Que nossos braços
e nosso coração estejam sempre abertos a acolher quem vier, como conseguir se
achegar. É Cristo quem chama, é Cristo quem acolhe e, não nos esqueçamos, é
Cristo quem chega. “O que fizerem ao menor dos meus irmãos, é a mim que
estão fazendo” (Mt 25,40).
Não podemos negar
essa alegria ao Senhor.
A todos meu abraço
e minha bênção.
+ Dom José
Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói
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Fonte: arqnit.org.br
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